Atualmente, é com muita estranheza que reagimos quando conhecemos alguém que está fora das redes sociais. Não possuir um perfil nesses ambientes online é estar excluído de um universo presente em nossa sociedade como jamais esteve em nenhum outro momento da história.
Nas redes sociais, nos divertimos, nos entretemos, trabalhamos, consumimos e produzimos informação e nos relacionamos, seja com quem está perto fisicamente, seja com quem está muito distante. As redes chegaram para revolucionar a forma de relacionamento existente, isso é fato. Mas, será que estávamos preparados para esse impacto?
Como sociedade novata nesse consumo exacerbado do mundo digital, experimentamos tudo que há de bom e de ruim. Sentimos a facilidade de comunicação, abertura de oportunidades de trabalho, diminuição de distância, instantaneidade. No entanto, também sentimos a ansiedade, a necessidade de imediatismo, de sermos felizes constantemente, de consumir conteúdo, os riscos a nossa segurança e saúde quando nos colocamos expostos de modo descontrolado.
A relação saudável com as redes sociais ainda é um desafio para nossa sociedade que adoeceu, talvez, com a mesma velocidade em que consumimos e incorporamos-as em nosso dia a dia. Embora muitas pessoas não percebam claramente esses reflexos do uso, os sinais são claros e comuns à uma parcela esmagadora dos usuários: quem aí pode dizer que consegue passar um dia, tranquilamente, sem internet, sem checar as redes, em um ambiente com wi-fi disponível? Quem pode falar que não passa minutos seguidos apenas rolando a tela sem, necessariamente, ter algo interessante para verificar? Quem nunca ficou ansioso em postar determinada imagem ou acompanhar o que determinada pessoa está compartilhando?
Nos sentimos ansiosos em participar, produzindo ou consumindo conteúdo, em sermos parte desse universo. Nos incomodamos em esperar horas por uma resposta, afinal, ela pode ser compartilhada em um clique, com poucos caracteres ou um áudio curto. Se nas redes estamos impacientes e ansiosos, seria possível compreender que fora delas, a vida real não funciona assim?
Estudos recentes dizem que a resposta para essa pergunta não é positiva. Nas relações offline, a ansiedade, impaciência e exposição demasiada colocam nossa saúde física e mental, a saúde de nossas relações e nossa segurança em risco.
A medicina hoje já identifica síndromes e doenças causadas por nossas relações com o meio digital e as redes. A síndrome de FoMO, sigla para “Fear of Missing Out”, ou medo de estar perdendo algo, em português, é um exemplo.
Descrita pela primeira vez em 2000, é um dos principais sintomas de que alguém está viciado em redes sociais, o que pode causar desde angústia e mau humor até depressão. Segundo especialistas, o medo é identificado principalmente em jovens e adultos até 34 anos, mas pode afetar pessoas de qualquer idade.
Além dessa síndrome, facilmente podemos adicionar outras doenças e transtornos comuns como crises de ansiedade, síndrome do pensamento acelerado e depressão que são agravados pelo uso de redes sociais de forma que deixam de ser um ambiente de lazer para se transformar em espaços de dor e traumas.
A dependência da internet já é, atualmente, uma causa comum na procura de pacientes a tratamentos psicológicos e psiquiátricos, assim como tema de oferta de terapias específicas, como reflexo de uma sociedade que está adoecendo no mundo real, a partir das construções e projeções do mundo online.
Um dos motivos está na forma como consumimos esses ambientes, que elegeu a felicidade e a vida perfeita como objetos principais das produções de conteúdo. Recentemente, um texto veiculado no Instagram viralizou com a reflexão: Quem quer ver alguém triste na rede social?.
A narrativa que escancarou a problemática de não termos nessa infinidade de espaço, a paciência e a sensibilidade para os momentos de dificuldade ou tristeza, mostra o passo a passo de quem adoece na busca pela felicidade constante e eterna. Se na vida real, crescemos aprendendo que não podemos ser felizes sempre, nas redes sociais, projetamos um universo paralelo e desconexo, onde produzimos nossa própria narrativa de conto de fadas. Quando saímos da tela, o choque com o mundo real nos desanima, entristece e invalida.
Como qualquer vício, evitar o contato ou a proximidade com o que nos faz mal é um caminho oportuno. Mas, para muitos, as redes estão além do ambiente de lazer. Elas fazem parte do ambiente profissional e não há como fugir.
É o caso da Gabriela Cristina da Silva Neves, que tem 22 anos e trabalha como empresária nesse ramo. Desde 2020, ela atua como Diretora de Marketing de uma empresa rural de postura de ovos e, em 2021, passou a ministrar mentorias e cursos, com o Migre Digital.
Em março deste ano, fundou a Èzze Marketing, um Studio criativo de produção de conteúdo digital para empresas em todo o Brasil. Sua rotina de trabalho é intensa e passa boa parte das horas do seu dia online. Nas redes sociais, é no Instagram que seu trabalho tem ainda mais força.
“O tempo de uso neste app é bem alto, olhando a análise de tempo do celular, passo, em média, 2h por dia nessa rede social. Mas a média do brasileiro que usa o Instagram é de menos de 1h por dia, mais ou menos 16h por mês. Ou seja: estou acima da média. Acredito que isso se dê pois ao mesmo tempo que a internet é meu lugar de estudo de mercado, é um espaço ativo de trabalho”, detalhou.
A rotina intensa nas redes pelo trabalho, impactou diretamente na forma como Gabriela consumiu seu tempo pessoal nessas plataformas. E, para manter-se saudável, foi preciso repensar e recriar hábitos.
“No último ano senti duas coisas mudarem na minha vida. Uma delas foi a falta de vontade em consumir conteúdos do Instagram, tudo o que via era sobre trabalho. O algoritmo me mostrava basicamente marketing e meu cérebro não descansava. Com isso, veio a segunda questão: eu estava a todo momento me comparando. Afinal, meus concorrentes estão lá, meus clientes estão lá e minha base de estudos está lá também. Passei a usar mais o TikTok e YouTube, em momentos de distração. Mas, honestamente? Já passo mais tempo que a média das pessoas na frente do celular, trabalhando. Se o meu momento de folga for também na frente de uma tela, as principais memórias da minha vida serão uma imagem 16:19 emitida das minhas mãos”, avaliou a empresária.
A partir disso, Gabriela sentiu necessidade de reformular sua rotina pessoal. “Voltei a ter hábitos que eram mais presentes na minha vida antes de trabalhar com as redes, a leitura, por exemplo, ficou mais ativa. E em livros físicos viu, papel na mão! Esportes, liberam toda energia que precisamos e não preciso me preocupar com nada, apenas em estar presente naquele momento só meu, passei a incluir a prática no dia a dia. Busquei, portanto, dar espaço para atividades que estimulam energia e criatividade, que tiram a caixinha luminosa das minhas mãos por determinado tempo”, revelou.
Depois desse período de ressignificação e transformação, Gabriela avalia que, atualmente, se vê ainda mais realizada e feliz com as redes sociais e por seu trabalho.
“Somente depois que passei por todas essas etapas e até mesmo a do cansaço e esgotamento, me encontro ainda mais apaixonada. Vejo as redes sociais como a praça mais movimentada da sua cidade, contando que todas ou 90% das pessoas passam por ela todos os dias, nem que seja rapidinho. O segredo é como você gerencia seu tempo e organiza os seus processos. É isso que leva esse ambiente de tanta informação que é o digital, de um problema a ser uma solução”, constata a profissional.
Assim, algumas pequenas dicas podem ajudar a melhorar e transformar a nossa relação diária com as redes sociais, sem que precisemos nos isolar ou nos excluirmos desse universo que é, também, muito valioso. Confira as sugestões da psicóloga, Josiane dos Santos Martins.
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