Qual o tipo de vinho que provavelmente foi consumido na Santa Ceia?

Qual o tipo de vinho que provavelmente foi consumido na Santa Ceia?

O vinho é cheio de significados importantes para cristãos por ser o “sangue de Cristo”. Você já se perguntou qual o tipo e a tradição da época em que o Senhor veio à Terra? Na noite da Santa Ceia, Jesus e seus discípulos provavelmente tinham um vinho doce, de um tipo que era feito a partir de uvas secas, popular em toda a região do Mediterrâneo Oriental na Antiguidade. A Bíblia indica que a Última Ceia foi uma celebração da Páscoa judaica, em sua celebração tradicional da época.

O Evangelho de Mateus relata a instituição da Eucaristia por Jesus: “Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Tomou depois um cálice, deu graças e entregou-lhes, dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados'” (Mateus 26, 26-28).

Historiadores e arqueólogos apontam que a bebida servida à época era um vinho de sobremesa, apreciado por seu sabor doce e elaboração cuidadosa. Para produzi-lo, os vinicultores secavam as uvas ao sol, depois as misturavam com suco de uva, permitiam a fermentação e, em seguida, adicionavam mais suco antes de uma nova fermentação. O processo, descrito pelo escritor Lucius Giunius Moderatus Columella em seus escritos, envolvia etapas específicas para garantir a qualidade do vinho.

Segundo Columella, as uvas eram colhidas no início da maturação e secas ao sol, em suportes especialmente construídos para essa finalidade. Após secas, eram colocadas em um recipiente com suco de uva para reidratação e fermentação inicial. Seis dias depois, as uvas eram pressionadas e o líquido resultante, o passum, era coletado. Para finalizar, o mosto fresco de outras uvas secas por três dias era adicionado, e o vinho passava por nova prensagem antes de ser armazenado em recipientes selados.

Muitos outros autores e estudiosos também se dedicaram a esse tema. De acordo com o arqueólogo Patrick McGovern, professor do Museu de Arqueologia da Universidade da Pensilvânia, o vinho servido na Última Ceia poderia ter sido muito semelhante ao Amarone de hoje, com base em evidências existentes sobre as práticas de vinificação na área naquele momento histórico.

O contexto histórico e cultural do vinho

A tradição de produzir e consumir vinhos tem origem nos tempos dos cartagineses, que dominavam o comércio mediterrâneo antes do surgimento de Roma como potência. Eles estavam entre os primeiros a difundir o uso de uvas secas na vinificação, uma prática que se espalhou por todo o Mediterrâneo após as Guerras Púnicas. O Império Romano, ao conquistar Cartago, assimilou e expandiu essa prática.

A popularidade da bebida cresceu ao ponto de se tornar uma parte essencial da vida romana, sendo consumido por todas as classes sociais. Os romanos misturavam frequentemente o vinho com água para diminuir sua acidez e teor alcoólico.

Embora seja difícil determinar exatamente quais uvas foram usadas na região de Jerusalém na época de Jesus, acredita-se que um ancestral da uva Syrah, originário da Pérsia, poderia ter sido cultivado na área. A disseminação de mudas de uvas entre diferentes regiões do império facilitou a diversidade de vinhedos e a variedade de vinhos disponíveis.

Ainda hoje, o tipo de vinho que provavelmente foi bebido na Santa Ceia é produzido em algumas regiões do Mediterrâneo, seguindo receitas antigas. Na Tunísia, o Passum de Magon, que faz o tipo descrito, é elaborado de acordo com os métodos descritos por Columella, enquanto na Sicília e na Umbria, na Itália, variações desse vinho doce continuam a ser apreciadas.

Outras curiosidades sobre o vinho

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