Ao ler os relatos bíblicos nos deparamos com diversos episódios em que Deus fala com seus filhos por meio dos sonhos. Esses fatos demonstram o quanto Ele é criativo na maneira de se comunicar, não de maneira irrelevante, mas de forma eficaz quando se trata de ajudar Seu povo a encontrá-Lo e a amá-Lo. Que tal vermos um pouquinho como isso aconteceu na Bíblia
Os sonhos são uma maneira excelente por meio da qual Deus derrama profecias pelo mundo.
Ouvi bem – disse ele – o que vou dizer: Se há entre vós um profeta, eu lhe aparecerei em visão; eu, o Senhor, é em sonho que lhe falarei (Números 12,6).
Já no primeiro livro da Bíblia, no Gênesis, lemos como José do Egito interpretou os sonhos do Faraó que eram profecias referentes a sete anos de fartura, mas também a sete anos de fome. Foi a partir desses sonhos proféticos que Deus conseguiu salvar seu povo da fome, principalmente os familiares de José, que depois de muito tempo descobriram que ele ainda estava vivo (cf. capítulos 37 ao 50).
Outro exemplo foi o sonho de Mardoqueu, pai adotivo de Ester, que era uma profecia sobre a grande perseguição que se levantaria contra o povo eleito pela mão de Amã, e posteriormente o socorro de Deus que viria pela intercessão de Ester ao Rei Assuero. (Cf. Ester 11 e seguintes).
Já o livro de Daniel, por sua vez, traz inúmeros exemplos de sonhos proféticos, mostrando como Deus intervém na vida de seus amigos de forma providencial. Vale a pena conhecer a história desse grande homem que predisse coisas futuras iluminado por Deus.
Mas nem todo sonho é profético, como nos alerta Jeremias ao condenar os falsos profetas:
Ouço o que dizem os profetas que proferem em meu nome falsos oráculos. “Tive um sonho. Tive um sonho! Quanto tempo vai durar isso? Julgam esses profetas, ao proferirem mentiras e as imposturas de seus corações. (Jeremias 23,25-26)
Deus abomina quem usa de seus sonhos fantasiosos para espalhar coisas que Ele mesmo nunca disse:
Irei contra os profetas de sonhos enganadores que, ao narrá-los, ludibriam com mentiras e fatuidade o meu povo, quando nem missão lhes outorguei, nem mandato algum, e de nenhuma valia são para esse povo – oráculo do Senhor (Jeremias 23,32).
Com esses versículos, percebemos que se trata de um assunto sério, e por isso devemos sempre pedir que o Espírito Santo nos mostre a verdade para que não ofendamos a Deus chamando de profecia aquilo que é produto da nossa imaginação.
Uma dica, no entanto, é sempre pedir que Deus nos envie o Espírito Santo e os seus anjos para nos ajudarem a interpretar nossos sonhos, se forem realmente proféticos, como quando Daniel precisou da ajuda de um anjo para entender o que significava uma terrível visão que teve pela noite (cf. Daniel, 7).
Alguns sonhos são prefigurações de importantes acontecimentos e até mesmo de pessoas essenciais nos eventos salvíficos da humanidade. Exemplo disso foi o sonho de Jacó com uma escada que ia da terra até o céu, e pela qual os anjos subiam e desciam (cf. Gênesis 28,10-19).
Ora, sabemos que essa escada é a prefiguração do próprio Jesus, único mediador entre nós e o Pai. É por Jesus que fomos reconciliados com o Pai e todos temos acesso ao céu. É também por meio d’Ele que recebemos todas as graças que pedimos ao Pai em seu nome.
Em muitos sonhos, Deus pode alertar sobre algo, como quando apareceu a Labão, o Arameu e o mandou evitar dizer algo a Jacó (cf. Gênesis 31,24).
Também os Magos do Oriente, que vieram de muito longe para visitar o Menino Jesus e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra, foram avisados em sonhos que não deveriam retornar a Herodes, mas deviam retornar para suas casas por outro caminho (cf. Mateus 2,12). Imediatamente logo após isso, São José foi alertado em sonhos para que fugisse, pois seu filho adotivo estava em perigo:
Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar (cf. Mateus 2,13 e 2,22).
Outro caso curioso foi o da mulher de Pilatos, que logo tratou de alertar seu marido sobre o sonho que tivera com Jesus, pedindo que não o fizesse mal algum:
Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: “Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito” (Mateus 27,19).
Deus pode indicar algo a ser feito pelos sonhos, como quando orientou que Jacó saísse de onde estava e fosse para longe de Labão (cf. Gênesis 31,11-13) ou como quando Paulo foi avisado em sonhos para se dirigir a Macedônia (cf. Atos dos Apóstolos 16,9).
Em outros momentos, Deus concede a graça que outra pessoa interprete as indicações divinas, como o companheiro do homem que relatava um sonho enquanto Gedeão chegava no acampamento inimigo. Ouvindo a interpretação que saía da boca do inimigo, ele se sentiu encorajado para atacar os medianitas e com apenas trezentos homens vencer um exército gigantesco (cf.Juízes 7,13-15).
O próprio São José também precisou ser encorajado a tomar uma decisão importante, principalmente em um momento que nem o raciocínio humano dava conta de sossegar a sua alma.
Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo (Mateus 1,20).
Um exemplo desse tipo de sonho é o do Rei Salomão, que depois de ter ofertado mil holocaustos, foi visitado por Deus em Gabaon. Naquela noite, o Senhor lhe avisou que concederia qualquer coisa que ele pedisse (cf. 1Reis 3,1-15). O rei, no entanto, pediu apenas que Deus lhe desse sabedoria para conduzir seu povo e sabemos que a partir de então Salomão se tornou o rei mais sábio de todos os tempos, sendo visitado e consultado por muitos que o admiravam, inclusive pela rainha de Sabá.
De fato, os sonhos inspirados por Deus são em vista do projeto de salvação que Ele tem para nós. Em última instância, os sonhos continuam sendo sempre coisas naturais, mas nada impede que eles possam ser visitados pela graça do Espírito Santo conforme a necessidade e a medida para nossa conversão (cf. Atos dos apóstolos 2,17). Cabe a cada um pedir o discernimento e o entendimento daquilo que é voz de Deus, voz humana ou voz do mundo. Mas isso não pode ser feito sem oração diária e constante leitura bíblica, que são ferramentas essenciais para qualquer discernimento.
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