Foto: reprodução Universidade de Notre Dame (Matt Cashore)
Alasdair MacIntyre (1929–2025) se tornou um dos filósofos morais mais influentes da atualidade ao recuperar o valor das virtudes em meio ao relativismo. O que muitos não sabem é que sua trajetória intelectual começou distante da fé, pois inicialmente ele era próximo do ateísmo e de correntes marxistas e só encontrou uma base moral sólida ao se aproximar da tradição cristã. A conversão ao catolicismo aconteceu quando já era um pensador respeitado, o que consolidou uma vida dedicada ao diálogo entre razão e fé.
A obra mais conhecida de MacIntyre, Depois da Virtude, marcou a virada da filosofia moral contemporânea. Nela, o autor afirma que o discurso ético moderno entrou em crise porque perdeu sua ancoragem nas tradições que davam sentido às virtudes humanas. Sem uma visão teleológica — isto é, sem um propósito último para a vida — a moral torna-se fragmentada, emocional e insuficiente para orientar escolhas concretas.
MacIntyre propõe o caminho inverso, que é o de recuperar uma ética centrada nas virtudes, inspirada em Aristóteles, iluminada pela sabedoria de Santo Agostinho e articulada com a profundidade de Santo Tomás de Aquino. Para ele, a vida moral só se fortalece quando reconhecemos que buscamos bens que nos aperfeiçoam e que essa busca acontece dentro de uma tradição viva.
A conversão de MacIntyre ao catolicismo não foi repentina, mas fruto de anos de reflexão filosófica. Quando percebeu que sua ética das virtudes exigia uma tradição capaz de sustentar a noção de bem humano, encontrou na Igreja Católica um horizonte coerente, sólido e historicamente enraizado. Ele reconheceu que a fé cristã não enfraquecia a razão, mas a completava.
Fontes católicas relatam que sua entrada na Igreja aconteceu após um amadurecimento intelectual profundo. Ao abraçar a fé, MacIntyre não abandonou a filosofia. Pelo contrário, sua reflexão se tornou ainda mais integrada e ele mergulhou na tradição agostiniana e tomista para compreender a formação do caráter, o papel da comunidade e o sentido das práticas humanas.
Uma das contribuições mais ricas de MacIntyre é a compreensão da vida moral como narrativa. Para ele, não somos indivíduos isolados tentando criar valores próprios, mas pessoas inseridas em histórias, comunidades e tradições que moldam nossa identidade. É nesse contexto que as virtudes se desenvolvem: são hábitos adquiridos ao participar de práticas que possuem bens internos, como a vida comunitária, a vida sacramental, a arte, o estudo ou o serviço ao próximo.
Ao contrário do individualismo moderno, MacIntyre afirma que ninguém alcança a virtude sozinho. É na convivência, no perdão, no esforço compartilhado e no cultivo dos dons que a moral se torna real. Sua filosofia mostra que a ética cristã não é um ideal abstrato, mas um modo concreto de viver na caridade e na busca do bem.
A influência de MacIntyre se estende para além das universidades. Ele inspirou movimentos católicos, pensadores, educadores e agentes pastorais que buscam uma formação moral sólida em meio aos desafios contemporâneos. Seu chamado à reconstrução das comunidades virtuosas conversa diretamente com a missão da Igreja de formar discípulos capazes de testemunhar o Evangelho com coerência e vida.
MacIntyre lembra que a virtude é um caminho de santidade. Sua conversão e sua obra mostram que a fé e a razão caminham juntas, e que a tradição cristã conserva um tesouro moral capaz de renovar a cultura.
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