Em sua história milenar, a Igreja Católica reconheceu milhares de santos. Apesar de muitos já serem venerados desde os primeiros séculos, o primeiro santo oficialmente canonizado por um Papa só foi proclamado no final do século X.
Essa história pouco conhecida envolve fé, resistência e uma decisão que mudaria a forma como a Igreja declara a santidade de seus fiéis.
Durante os primeiros nove séculos do cristianismo, a proclamação dos santos acontecia de forma espontânea, pela vox populi — o reconhecimento popular. Os fiéis já celebravam mártires, homens e mulheres virtuosos como intercessores junto a Deus, mesmo sem um processo formal. A Igreja, por sua vez, apenas acolhia essa devoção.
Mas foi somente em 993, diante da fama de santidade e dos relatos de milagres atribuídos a um Bispo da Baviera, que o Papa João XV decidiu dar início a um novo caminho. Pela primeira vez, um fiel foi elevado aos altares por decisão expressa da Santa Sé. Era o início do processo de canonização como conhecemos hoje.
O nome dele era Ulrico, Bispo de Augsburgo, na atual Alemanha, que nasceu em 890 e viveu em uma época marcada por desafios políticos e religiosos. Como pastor zeloso, liderou o povo com coragem e compaixão, principalmente durante as invasões húngaras, quando organizou a defesa da cidade e sustentou espiritualmente os fiéis em tempos de medo e insegurança.
Santo Ulrico reformou igrejas, incentivou a vida monástica, fundou hospitais e cuidou dos pobres com dedicação. Foram tantos feitos que sua fama de santidade se espalhou já em vida — e muito mais após sua morte, em 4 de julho de 973.
Quase 20 anos depois de sua morte, Papa João XV, em meio a tantos sinais, relatos de milagres e da veneração que crescia em torno de Ulrico, reuniu um sínodo em Latrão, onde em 31 de janeiro de 993, foi oficialmente proclamado: Ulrico era Santo.
A canonização foi ratificada por uma bula (hoje desaparecida, mas documentada em registros posteriores) em 3 de fevereiro daquele ano. Assim, Santo Ulrico se tornou o primeiro a ser canonizado de forma oficial pela autoridade papal.
A Igreja passou então a estabelecer critérios cada vez mais rigorosos para reconhecer a santidade de uma pessoa. Ainda que o carisma e a devoção popular permaneçam importantes, hoje os processos de canonização envolvem investigações, testemunhos e comprovação de milagres.
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.