O primeiro Papa foi São Pedro, ao receber de Jesus Cristo o Supremo Poder Pontifício e instituir a primeira ordem eclesiástica. Desde então, a Igreja contabiliza 266 Sumos Pontífices, incluindo o Papa Francisco. Muitas são as indagações sobre como é a caminhada para se chegar a Papa, como é realizada a “eleição”, quando ocorre, quais são os requisitos… As últimas escolhas, com cobertura em tempo real pela imprensa, fizeram o mundo inteiro parar para acompanhar e aumentaram a curiosidade sobre o tema devido à máxima autoridade exercida pelo Pontífice.
Em artigo publicado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Fernando Arêas Rifan informa que a instituição do Papado tem relação direta com a unidade da Igreja.
“Um dos alicerces da nossa catolicidade, da Igreja Católica, é a instituição do Papado: o Papa como sucessor de São Pedro, constituído como chefe da Igreja, aquele que tem as chaves, o poder de ligar e desligar, sancionado por Deus no Céu. Nele se cumpre a promessa que Jesus fez à sua Igreja: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).”, escreveu.
Ao longo dos séculos, a eleição do Papa, que acontece com o falecimento ou renúncia do anterior, passou por modificações. Contudo, a definição do processo tal como o conhecemos hoje se deu em 1271, instituído pelo Papa Gregório X. Foi ele quem estabeleceu que o processo de escolha passaria a ser “cum clave”, do latim “com chave”, com restrições progressivas com o passar do tempo de votação.
Uma das razões para essa reestruturação da eleição papal foi a excessiva demora no período de votação. Para evitar um período tão longo, determinou-se que os cardeais teriam três dias para realizar a escolha. Passado esse período, teriam sua alimentação limitada, receberiam apenas uma refeição pela manhã e outra à tarde. E se depois de cinco dias ainda não houvesse acordo no resultado final, os cardeais receberiam apenas pão, água e vinho. A limitação corporal expressaria uma maior abertura espiritual para realização da escolha sob inspiração do Espírito Santo.
Depois, o funcionamento do conclave foi adaptado para as necessidades de cada período. As normas atuais foram determinadas por São João Paulo II em sua Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis.
Desde então, após a morte do Papa ou sua renúncia – como foi o caso de Bento XVI -, a assembleia de cardeais reúne-se com total sigilo e isolamento. Cardeais vindos do mundo inteiro integram o total de 120 votantes para a escolha do novo Vigário de Cristo. Participam todos aqueles que não tenham 80 anos até o período de Sé Vacante (quando há ausência de Papa). Preside o Conclave o cardeal mais antigo da ordem dos bispos.
Assim, em dia de intensa oração, que começa pela Santa Missa, os cardeais realizam uma procissão à Capela Sistina, no Vaticano, rogam ao Espírito Santo com a conhecida oração Veni Creator Spiritus e fecham-se. O mestre de cerimônias pronuncia o “Extra omnes!” (“Fora todos!”, ordenando que aqueles que não tenham a ver com a eleição saiam do recinto). As portas se fecham e ficam sob a proteção da Guarda Suíça.
Para ser eleito, o escolhido precisa receber dois terços do total de 120 votos. Nenhum cardeal pode se abster do voto, nem votar em si mesmo. Quanto às rodadas de votação, estas ocorrem quatro vezes ao dia: duas votações matutinas e duas vespertinas. O escolhido precisa ter o voto de dois terços dos cardeais votantes para ser eleito.
Quando o requisito da maioria de votos não é alcançado, os papéis são queimados com produtos químicos que convertem a fumaça na cor negra, indicando ao mundo exterior que a eleição prossegue ainda sem resultado final.
Caso não haja um eleito depois de três dias, a votação é suspensa por um dia para oração, discussão e exortação espiritual. Há então mais sete votações e mais uma pausa com o mesmo intuito. Isso pode acontecer por mais duas vezes. Se ainda não houver solução, os cardeais podem decidir se a próxima eleição será decidida por maioria absoluta ou uma espécie de “segundo turno”, em que os dois que receberam mais votos na votação anterior podem ser escolhidos por maioria absoluta.
Não existem requisitos básicos para que uma pessoa seja eleita Papa. Na prática, o eleito há muitos séculos tem sido um cardeal. Caso o cardeal eleito ainda não seja bispo, é ordenado logo após a eleição – já que o Papa é o Bispo de Roma, conforme a Constituição Católica determina. Os cardeais são a mais alta hierarquia na Igreja depois do Papa. Já os bispos, considerados os sucessores diretos dos apóstolos de Cristo, são responsáveis por administrar as dioceses.
Definido o eleito final, o cardeal de mais idade pede o consentimento do eleito: “Aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice?”. Em caso afirmativo, os papéis são queimados com produtos que convertem a fumaça na cor branca, como anúncio da escolha definitiva ao mundo externo, acompanhada dos sinos da Basílica de São Pedro.
O sucessor eleito, então, dirige-se a uma pequena sala ao lado onde o esperam as vestes papais. Esta sala especial costuma ser chamada de “Sala das Lágrimas”, já que, conforme a tradição, todos os eleitos choram ali, diante da magnitude da missão que acabam de assumir: pastorear o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O novo Papa coloca as vestes, escolhe seu nome pontifício e é apresentado ao mundo inteiro:
“Anuncio-vos uma grande alegria;
Temos um Papa;
O eminentíssimo e reverendíssimo Senhor,
Dom (nome em latim).
Cardeal da Santa Romana Igreja
(sobrenome no idioma original).
Que se impôs o nome de (nome papal em latim).”
Na praça de São Pedro, no Vaticano, a multidão celebra o anúncio do sucessor, o que é testemunhado graças às transmissões ao vivo pela TV e internet, ou presencialmente em Roma. Momento de júbilo e fortalecimento da Igreja que permanece unida em um só coração.
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