Reflexões cristãs sobre o musical “O Fantasma da Ópera”

Reflexões cristãs sobre o musical “O Fantasma da Ópera”

Observação: o meu texto contém spoilers, mas nada que comprometa a sua experiência caso resolva assistir ao espetáculo.

À primeira vista, poderíamos pensar que o Fantasma da Ópera não tem nada cristão para nos ensinar. Afinal, o que um personagem capaz de cometer más ações poderia ensinar no campo do cristianismo ou das virtudes? Ocorre que esse musical tem atraído milhares de pessoas ao redor do mundo (incluindo muitos cristãos) com as suas mensagens a respeito de altruísmo e amor incondicional, temas bem cristãos.

Conhecendo o musical

O Fantasma da Ópera é um musical (o Teatro Musical é uma forma de teatro que combina canções e diálogos) baseado num romance francês de ficção gótica escrito por Gaston Leroux, advogado e jornalista francês que nasceu em 1868. A história desse personagem enigmático já foi representada nos palcos e nas telas do cinema.

Diversos musicais foram baseados na obra de Leroux, mas o maior destaque é a versão de Andrew Lloyd Webber, compositor e produtor musical britânico. As reflexões do texto serão inspiradas na adaptação desse produtor, visto que ela é a mais conhecida do grande público e a mais famosa mundialmente.

A fama dessa adaptação do Fantasma da Ópera no Teatro Musical surgiu por diversos motivos:

  • a encenação consegue ser erudita e popular ao mesmo tempo;
  • o público fica encantado pela riqueza emocional do espetáculo;
  • algumas características emocionais dos personagens (medos, anseios, traumas e paixões) falam diretamente com as vivências psicológicas do público e geram conexões únicas de empatia e identificação;
  • a atenção do público é garantida pelas cenas eletrizantes e surpreendentes;
  • a atmosfera de romantismo e elegância contagia todos aqueles que sentem falta de mais delicadeza e sensibilidade nos tempos atuais;
  • as músicas são belas, agradáveis e ocorrem nas cenas mais convenientes;
  • diferentemente de outros espetáculos, a musicalidade não é maçante.

Para quem não conhece o musical, sugiro o filme de 2004 para o primeiro contato com o romance. A versão de 2004, pela perspectiva do renomado diretor Joel Schumacher, é a mais agradável (tanto no âmbito estético quanto na essência) e a que sabe captar novos públicos, incluindo as pessoas que não costumam gostar de musicais. Nesse filme, o elenco também tem grande qualidade: Gerard Butler atua como o “Fantasma”, Emmy Rossum representa a Christine e Patrick Wilson é quem faz o papel de Raoul.

Enredo

O Fantasma da Ópera não relata a história de um “fantasma”, mas de um personagem bem vivo e apaixonado: Erik. O compositor Erik sofre por causa de uma deformidade misteriosa e o seu rosto é parcialmente coberto por uma máscara branca. Ele sofre preconceito desde pequeno, mas é considerado um gênio da música quando cresce.

Vive escondido nos calabouços da Ópera de Paris, mas quer mandar no teatro por meio de cartas misteriosas com instruções sobre a direção do teatro e a criação artística de cada espetáculo. Ao receber suas cartas, os diretores e atores se sentem ameaçados e apelidam o autor de “Fantasma da Ópera” pelo seu caráter misterioso e assustador.

Erik se apaixona por uma bailarina e cantora, a Christine, e faz de tudo para que ela sempre seja a protagonista das peças musicais que escreve. Ele também é o enigmático professor de música dela.

Se os diretores e atores do teatro não cumprem as instruções de suas cartas e colocam outra cantora nos papéis principais, o Fantasma da Ópera fica furioso e comete crimes bárbaros nos bastidores.

A donzela soprano, mesmo sendo a obsessão do Fantasma da Ópera, é apaixonada por outro: Raoul, o seu primeiro amor de infância.

Reflexões cristãs

Não julgar as pessoas pelas aparências

Erik sofreu bullying (ato de violência física ou psicológica que causa angústia à vítima) desde a infância por conta de uma deformidade e nunca foi amado, nem pela própria mãe. Conforme seus relatos, o seu primeiro presente foi uma máscara para ocultar a parte do seu rosto que não era bela. Ele era zombado por um carrasco e foi motivo de chacota pelas ruas de Paris por causa da sua aparência.

Por seu histórico de sofrimento emocional, torna-se um homem rancoroso, vingativo e sombrio. Quando descobre o seu talento na arte musical, sente-se orgulhoso e usa a sua vaidade diante da genialidade musical para compensar a falta de amor e reconhecimento.

Christine é a única pessoa do teatro capaz de respeitar, admirar e amar o Erik além das aparências. Mesmo sendo bela, ela sempre se importou mais com a essência e com a beleza interior. Ela sabe valorizar a profundidade, o talento e a inteligência dele.

Erik, por sua vez, ama Christine muito além da beleza dela: ele ama o espírito da donzela e é o único capaz de ver a genialidade musical dessa bailarina, a qual muitas vezes foi subestimada pelos integrantes do teatro por ser jovem e delicada demais. Desse modo, percebemos que um sabe reconhecer o valor e a genialidade do outro no relacionamento.

Com o espetáculo, aprendemos a ver os personagens além das aparências: uma bela bailarina pode ser uma cantora genial e um homem excêntrico pode ter um talento iluminado.

Erik e Christine são dois personagens talentosos que sempre foram subestimados pelas outras pessoas. Contudo, eles conseguem ver um ao outro de forma profunda e valorizam as características preciosas de suas essências quando estão juntos.

Um consegue extrair o melhor do outro na união de espíritos e vozes do espetáculo. Segundo o Fantasma, Christine é a única capaz de dar voz à música que vive dentro dele. E, para Christine, o Fantasma é o único professor de música que consegue fortalecer o talento musical dela. Literalmente, a união deles faz a força!

O cristão também é convidado a não julgar os outros pelas aparências, a viver em harmonia com os irmãos e a valorizar mais a beleza interior que a externa. Para refletir a respeito da importância de um olhar mais amoroso e profundo diante das pessoas, separei três trechos bíblicos:

“A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e joias de ouro ou roupas finas. Ao contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus” (1 Pedro 3,3-4).

“O Senhor, contudo, disse a Samuel: ‘Não considere sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração'” (1 Samuel 16:7).

“E, abrindo Pedro a boca, disse: ‘Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas'” (Atos 10, 34).

Pecadores que sonham com a beleza da santidade: todo mundo tem um pouco do Fantasma da Ópera

Erik é um personagem passional e comete os seus piores pecados quando suas emoções ficam descontroladas. Orgulho, ira e luxúria são os seus maiores erros (as suas más ações são baseadas em pecados capitais), mas ele também tem uma parte altruísta e que sonha com a beleza moral.

Na canção Stranger Than You Dreamt It (Mais estranho do que você sonhava) apresentada no espetáculo, o Fantasma confessa que, embora seja sombrio, sempre sonhou com uma beleza transcendente. Nessa parte do musical, o público começa a ver o lado bom de Erik que foi sufocado pelo sofrimento. A partir desse momento, questionamos: se ele tivesse recebido amor e acolhimento, a sua história poderia ter sido diferente?

O Fantasma é um pecador que usa o orgulho para compensar a falta de amor, perde o controle da ira ao se sentir ameaçado e demonstra luxúria para fugir da solidão. Entretanto, no fundo do seu coração, ele deseja um mundo diferente: cheio de luz e longe das sombras que atormentam a sua alma.

Mesmo cometendo muitos pecados, ele também demonstra atitudes altruístas: dá liberdade à donzela que ama e não pratica o mal contra o seu maior rival mesmo tendo a oportunidade.

O público se sente fascinado diante do Fantasma da Ópera, pois ele representa as nossas dores emocionais reprimidas e os nossos pecados ocultos. Quase todas as pessoas já se sentiram rejeitadas um dia, julgadas injustamente por alguém ou experimentaram as dores do bullying na escola e na sociedade.

Além do mais, todos cometem falhas e pecados em suas caminhadas. Acontece que, mesmo tendo consciência de que é pecador, o verdadeiro cristão quer a salvação, sonha com a luz e busca mais beleza moral para a sua vida.

Assim como o Fantasma da Ópera, nós somos indivíduos complexos: pecadores que sonham com a beleza da santidade. Cometemos erros, mas também sabemos ser altruístas. Somos atormentados por nossas sombras interiores e pelos traumas do passado, mas também somos capazes de alcançar a luz e de conhecer o amor.

Saiba mais

Ficou curioso para conhecer mais o Fantasma da Ópera?

  • Livro: O Fantasma da Ópera. Autor: Gaston Leroux.
  • Filme: O Fantasma da Ópera. Diretor: Joel Schumacher.
  • Teatro Musical: O Fantasma da Ópera. Compositor: Andrew Lloyd Webber.

Títulos das músicas principais

Caso tenha interesse na obra, pesquise as cenas e as músicas principais do espetáculo na internet (existem cenas musicais disponíveis com legendas em português). Para conhecer melhor o espetáculo, basta digitar o título de uma música em algum site de busca ou plataforma de vídeo:

  • The Phantom of The Opera
  • The Music of The Night
  • Think of Me
  • All I Ask of You
  • Wishing You Were Somehow Here Again
  • Stranger Than You Dreamt It
  • The Point of No Return

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Comentários

  • Mateus
    A “residência” subterrânea do Fantasma da Ópera lembra também as catacumbas onde os cristãos tiveram de se esconder por muito tempo durante a era de perseguição, usando a arte para aliviar a dor.

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