O ano de 2022 foi marcado por diversos acontecimentos. Um dos mais emblemáticos (e tristes) foi o início da guerra entre Ucrânia e a Rússia, ainda no mês de fevereiro.
Mortes, destruição de cidades, medo, insegurança e, como em toda grande dificuldade provocada pela disputa, migrações das pessoas para outros lugares têm sido situações cotidianas. Desde fevereiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 6 milhões de ucranianos deixaram suas casas para procurar abrigo em outros países da Europa e do mundo, incluindo o Brasil.
A psicóloga Cláudia Serathiuk é descendente de ucranianos e conta que desde 2021, quando começou a ameaça da guerra, a comunidade ucraniana do Brasil passou a se organizar para, se necessário, acolher famílias vindas da Ucrânia.
A psicóloga Cláudia Serathiuk é descendente de ucranianos e trabalha apoiando os migrantes no Brasil
Apesar disso, poucos ucranianos vieram até o Brasil nesse período. Isso aconteceu porque muitos preferiram ficar na Europa, perto do país onde viveram a vida toda, à espera do retorno o mais breve possível.
“Eles preferiram ficar no entorno da Ucrânia, principalmente na Polônia, Moldávia e Alemanha, onde tinham parentes ou que foram acolhidos como refugiados, para poder voltar logo para a Ucrânia. Ninguém pensou que a situação fosse durar tanto e ser tão definitiva”, comentou.
Mais de 1 milhão de ucranianos já retornaram para o país, que conseguiu recuperar alguns territórios e essa população queria voltar para sua casa, sua terra e estar com seus familiares.
Mesmo que a maioria dos migrantes da Ucrânia tenha optado por permanecer na Europa, alguns chegaram (e continuam chegando) ao Brasil. Por isso, a ONG Humanitas, na qual Cláudia atua, auxilia em tudo o que é preciso para a recepção e permanência (mesmo que provisória) da população da Ucrânia aqui.
“A Humanitas é específica para a comunidade ucraniana. Ajudamos em várias situações, como moradia, emprego, acolhimento psicológico, recolocação no mercado de trabalho, cursos de português, estudo para as crianças, etc.”, explica Cláudia.
Além disso, a equipe também faz um trabalho mais político, divulgando o que está acontecendo no país, dando visibilidade para as dificuldades de viver em estado de guerra.
A psicóloga descendente de urcanianos também destacou políticas aqui do Brasil que têm ajudado a população que precisou sair da sua terra. Entre elas, um edital da Fundação Araucária (Paraná), que ofereceu 60 bolsas de pesquisa para mulheres de diferentes linhas de pesquisa. “Elas têm dois anos para pesquisar nas universidades paranaenses e muitas já estão aqui para isso”.
Quando uma guerra acontece, a população mais vulnerável, que inclui crianças, idosos, pessoas com deficiência, etc, é a que mais sofre. É por isso que ter essa rede de apoio em diferentes países é tão importante.
Para se ter uma ideia, em 2019, antes da guerra da Ucrânia e Rússia, a ONU estimava mais de 270 milhões de migrantes de diferentes nacionalidades. É mais de 2% da população mundial nessa situação.
Antes de ajudar a população ucraniana, Cláudia trabalhou com outras populações de migrantes, incluindo venezuelanos e haitianos. Ela destaca que muitas dessas pessoas não têm outra opção na vida, a não ser migrar de um lugar para o outro.
“Eles não podem mais voltar aos seus países porque lá não há mais condições ou então não é igual como antes. E também contamos com migrações em busca de melhores condições, que englobam principalmente jovens. Eles vêm em busca de melhores oportunidades, mesmo assim é difícil abandonar tudo e começar de novo em um novo país”.
Se você nasceu no Brasil, certamente tem origens diferentes, ou seja, miscigenadas.
O país foi um dos principais destinos das populações europeias que fugiram da 1ª e da 2ª guerra. Também do regime escravocrata, que trouxe milhares de pessoas do continente africano de maneira forçada ao país. Há também descendentes de asiáticos, vindo em busca de melhores condições de vida ou então novas oportunidades. Mais recentemente, dos povos latinos, fugindo de situações climáticas e também da pobreza.
Por isso mesmo, o país é a principal colônia de muitos países, incluindo da Ucrânia. O Brasil tem a 3ª maior colônia de ucranianos fora da Ucrânia. Os bisavós de Cláudia vieram ao Brasil nessa migração do fim dos anos 1890 e início dos anos 1920.
“Assim que a Ucrânia teve a independência, eles procuraram essa população. Em 1992, meus pais foram para lá aprender a cultura e mostrar o que tinha ficado perdido com as migrações, porque quem veio para a América manteve isso muito forte”.
Sua família hoje se junta aos mais de 20 milhões de ucranianos que vivem em situação de diáspora em todo o mundo.
Constantemente o Papa Francisco solicita às autoridades o cessar-fogo e o fim da guerra entre os países. Recentemente, em outubro, o Pontífice disse: “Em nome de Deus, em nome do senso de humanidade, renovo meu apelo por um cessar-fogo imediato”.
Mesmo com os apelos da comunidade internacional, os países ainda convivem com a dura realidade que é a de estar em situação de guerra. No início deste ano, o Padre Reginaldo Manzotti rezou pela população do país europeu em Prudentópolis, onde fica uma das grandes colônias e para onde diversos migrantes vieram em 2022.
“Senhor, te pedimos: Olhai pela Ucrânia. Olhai por esta guerra que começou. Tende misericórdia do Teu povo. Tocai no coração dos governantes para que possam governar pela paz. Vivei em paz uns com os outros – é o apelo do Senhor hoje”
Padre Reginaldo Manzotti realizou Show de Evangelização através da música e Santa Missa Campal pela Paz no dia 13 de março, em frente à Igreja Matriz São João Batista, em Prudentópolis (PR). Foto: Felipe Gusso.
Com menos atenção da mídia, há quem até esqueça que o conflito está em andamento, afetando diretamente ambas as populações. Porém, o conflito não tem data para terminar. “Nós esperamos que ela acabe o mais rápido possível”, confirma Cláudia, mesmo sem saber quando é que, realmente, a guerra irá terminar.
Ação da Representação Central Ucraniano-Brasileira em Curitiba, no início de 2022. Foto: divulgação
Enquanto a guerra não termina, a população da Ucrânia ainda precisa de ajuda. Segundo Cláudia, a melhor forma de ajudar ainda é por meio da doação direta para a Ucrânia, principalmente de dinheiro. Roupas e alimentos, por exemplo, são mais complicados porque o envio costuma ser caro e demorar para chegar.
No site da Humanitas você pode se cadastrar e ajudar com valores para serem enviados ao país. É possível também se cadastrar para receber migrantes, embora poucos ainda cheguem aqui.
Quer conhecer mais sobre o tema e ainda ficar sabendo como a comunidade ucraniana atua no país? A Cláudia separou o Facebook da Representação Central Ucraniana no Brasil para você saber ainda mais. Acesse aqui.
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