A arte pode levar as pessoas a louvar o Senhor. Assim foi e tem sido por séculos. A Igreja Católica sempre teve uma relação amistosa e fundamental com as diversas manifestações artísticas, até mesmo na propagação das ideias cristãs. Inclusive, alguns religiosos artistas, como o pintor italiano Fra Angelico, beatificado pela Santa Sé, aparecem catalogados em livros de História da Arte. E essa relação continua a gerar bons frutos.
Um exemplo recente disso é a exposição “(RE)VERSUS – Reutilização e Redenção no Patrimônio da Biblioteca do Vaticano e na Arte”, do padre e artista plástico paranaense Sidival Fila, em cartaz na Biblioteca Apostólica do Vaticano desde 28 de abril e que segue até o dia 15 de julho.
A iniciativa acontece na sala de exposições da Biblioteca e é o resultado de uma profunda reflexão sobre o tema da redenção e reutilização que o artista propõe em suas obras.
Padre Sidival nasceu no Paraná em 1962. Desde adolescente, manifestou interesse pela pintura, atraído pela arte moderna, do impressionismo ao cubismo.
Em 1985, mudou-se para a Itália e buscou aprofundar-se no estudo da pintura e da escultura. Sentiu o chamado vocacional à vida religiosa após cinco anos e ingressou na Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis, quando deixou para trás todos seus projetos pessoais.
O artista plástico Isaías Ribeiro considera que a Igreja Católica tem uma contribuição muito grande para a Arte e para a Arquitetura no ocidente.
“Desde as igrejas paleocristãs até a arquitetura contemporânea, a Igreja mantém colaboração com artistas – pintores, escultores e outros – na produção de obras de arte”, conta ele.
Isaías ressalta que muitos religiosos também eram artistas e usaram espaços de instituições católicas para pintar as histórias dos santos ou histórias bíblicas e cita Fra Angelico como exemplo.
“E na atualidade, as colaborações continuam e se unem ao trabalho de exposição de padres e freiras que também trabalham com artes plásticas”, complementa.
Para marcar a abertura da exposição do Padre Sidival Fila, o Papa Francisco enviou uma mensagem sobre consumo e descarte pela sociedade atual com o objetivo de refletirmos também sobre a sustentabilidade:
“Em várias ocasiões, e de modo mais amplo e incisivo na Encíclica Laudato si’, detive-me a refletir sobre as possíveis causas, mecanismos e consequências da “cultura do descarte”. Trata-se de um dos fenômenos mais dramáticos do nosso tempo, no qual a sociedade humana tende a descartar tudo o que não atende aos critérios de eficiência, produtividade, capacidade de resposta, mas também de beleza, juventude, força e vivacidade. Minhas reflexões a esse respeito partem naturalmente de uma perspectiva teológico-pastoral, mas hoje vejo com espanto e interesse como a cultura do descarte também pode ser abordada de uma perspectiva estética e até mesmo biblioteconômica. Essa é uma boa surpresa!”, declarou Sua Santidade.
Desde os primórdios do cristianismo, a beleza expressada por meios artísticos teve uma importância fundamental para a propagação das convicções cristãs, analisa o historiador e pesquisador José Rodrigues. Ele conta que, já nas catacumbas e grutas, onde os primeiros cristãos se reuniram, há o surgimento de uma arte, seja no campo das artes plásticas, seja no campo da música, já com as suas primeiras celebrações litúrgicas. Essas manifestações, diz ele, atualizaram-se ao longo dos séculos, passaram pelo período da Idade Média e tiveram um momento especial de expressão na Renascença.
“Durante toda a história de quase dois mil anos, a Igreja custodiou, foi guardiã de importantes obras artísticas e culturais, seja de Arte Sacra, seja dos outros campos da arte. Também patrocinou artistas importantes da história mundial. Dessa forma, a Igreja e o cristianismo sempre estiveram atrelados à expressão de que a beleza, na vocação do artista, é uma expressão da beleza da criação de Deus. Portanto, uma conexão com o sagrado, com o divino”, comenta o historiador.
Para José Rodrigues, a exposição do padre Sidival Fila na biblioteca do Vaticano atualiza mais uma vez essa vocação do cristianismo e das manifestações artísticas ao trazer um elemento novo, fundamental: a sustentabilidade, isto é, o cuidado com a natureza.
“Ou nas palavras do Papa Francisco, o cuidado com a casa comum. Assim, beleza, arte, sustentabilidade e fé se conectam projetando perspectivas para a continuação de uma tradição secular”, conclui José Rodrigues ao validar a relação sólida e próspera que a Igreja tem com as artes.
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