“Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”, disse Jesus Cristo, conforme João, capítulo 8, versículo 7. A mulher citada nesse trecho da Bíblia em nada tem a ver com Maria Madalena. Contudo, por algum tempo, houve um lamentável engano quanto a isso. Hoje, a Igreja esclarece que a santa foi confundida com outras personagens bíblicas e desfaz alguns equívocos sobre a grande seguidora de Jesus.
Muitos acreditam que “Madalena” seja parte de um nome composto ou sobrenome. Naquele tempo, esses conceitos não existiam entre o povo judeu. Trata-se, na verdade, de um adjetivo para descrever a sua origem: a cidade de Magdala, na costa ocidental do Mar da Galileia.
Maria Madalena é apresentada no Novo Testamento como uma das seguidoras mais dedicadas a Jesus, tanto que Santo Tomás de Aquino a definiu como a “Apóstola dos Apóstolos”. Em Lucas, capítulo 8, versículos 1 e 2, a presença das mulheres junto ao Filho de Deus tem a sua primeira descrição: “Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres”.
A partir do livro de Lucas, porém, ocorreu uma interpretação equivocada e foram atribuídas atitudes desonrosas a Maria Madalena. As mulheres seguidoras, ainda conforme os mesmos versículos, “tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades”. Uma delas, de acordo com o texto mais à frente, é “Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios”.
A Igreja explica que, na interpretação bíblica, a expressão “sete demônios” pode indicar um gravíssimo mal, físico ou moral, que havia acometido a mulher, do qual Jesus a curou – e apenas isso. Mas, no capítulo 7 do Evangelho de Lucas, narra-se a história da conversão de uma anônima “pecadora da cidade, que ungia com perfume os pés de Jesus, convidado de um fariseu; após tê-los banhado com suas lágrimas, os enxugava com seus cabelos”.
A associação equivocada de que Maria Madalena era essa mulher descrita no capítulo 7 de Lucas, somado ao fato de ter sido apresentada, passagens antes, como de quem tinham saído “sete demônios”, fez com que sobre ela fosse depositada a fama de uma mulher que, em algum momento da vida, exerceu a prostituição.
O Cardeal Gianfranco Ravasi, teólogo e estudioso especialista em Bíblia, explicou recentemente que existe mais um erro de conclusão: “A unção com óleo perfumado é um gesto feito também por Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro, em outra ocasião, como escreveu o evangelista João. Assim, Maria de Magdala foi identificada, por algumas tradições populares, com a Maria de Betânia” e isso também não condiz com o que está realmente relatado na escritura sagrada.
Maria Madalena é mencionada também nos Evangelhos em momentos importantes, sem qualquer associação a esse suposto passado: no momento que acompanha Jesus ao Calvário, ao lado de Maria Santíssima, e quando José de Arimateia depõe o corpo de Jesus no sepulcro. Foi ela, inclusive, que voltou ao local e descobriu que a pedra havia sido removida e correu para avisar Pedro e João. A Maria Madalena também coube o encontro com Jesus ressuscitado e o anúncio da sua ressurreição.
“Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (João, 20,17), disse o Filho de Deus para ela.
Ao invés de uma mulher de condutas desmerecedoras e impróprias, temos aqui uma apóstola fiel, que esteve ao lado de Jesus nos momentos mais difíceis, que não fugiu com medo, como os discípulos fizeram, nem O renegou.
A importância dessa discípula de Cristo foi reconhecida pelo Papa Francisco, que instituiu que a memória litúrgica de Maria Madalena deveria ser celebrada a partir de 22 de julho de 2016. O Sumo Pontífice buscou desfazer todos os enganos ao destacar o grande amor que ela demonstrou a Jesus e o quanto a sua história nos ensina sobre fé e coragem.
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