São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão foram mesmo amigos e companheiros na fé? A tradição da Igreja preserva relatos de encontros entre os dois santos, mas alguns estudiosos lembram que não há provas documentais de uma amizade próxima. Compreender a vida de cada um e o contexto em que viveram ajuda a perceber por que suas trajetórias são vistas como complementares e profundamente inspiradoras.
Francisco de Assis (1181-1226), filho de um rico comerciante, renunciou a tudo para viver na pobreza radical e no anúncio do Evangelho. A vida simples, próxima da natureza e dos pobres, deu origem à Ordem dos Frades Menores (os franciscanos).
Domingos de Gusmão (1170-1221), por sua vez, nasceu na Espanha e se destacou como pregador em meio a um tempo marcado por heresias e crises na fé. Fundou a Ordem dos Pregadores (os dominicanos), que une vida comunitária, pobreza e um forte compromisso com o estudo e a pregação fiel ao magistério da Igreja.
Ambos surgiram como resposta do Espírito Santo a um mesmo tempo histórico: a necessidade de renovar a Igreja, evangelizar as cidades em crescimento e oferecer um testemunho de pobreza evangélica diante de um mundo em transformação.
Relatos medievais, como os do beato Jordão da Saxônia e de outros cronistas, mencionam encontros entre os dois santos em Roma, no início do século XIII. A tradição conta que teriam se encontrado no Concílio de Latrão IV (1215), evento que reuniu bispos e líderes religiosos para tratar de reformas na Igreja. Segundo algumas narrativas, Francisco e Domingos teriam trocado palavras de admiração e apoio mútuo. Eles perceberam em suas missões sinais complementares do mesmo Evangelho.
Contudo, a história crítica não consegue confirmar a amizade pessoal entre eles. O que se pode afirmar é que tanto franciscanos quanto dominicanos nasceram praticamente no mesmo período, em diferentes regiões da Europa, e ambos receberam aprovação da Igreja para viver a pobreza, a pregação e a vida comunitária como forma de servir a Deus.
Plinio Corrêa de Oliveira, professor universitário paulistano conhecido como “O Cruzado do Século XX”, comentou que o encontro entre São Francisco e São Domingos deve ser visto como um gesto fraterno entre dois homens santos e como um verdadeiro abraço de duas missões complementares. Ambos tiveram visões em que reconheceram um ao outro como instrumentos escolhidos por Deus para restaurar a fé e reconduzir ovelhas perdidas ao redil.
Quando finalmente se encontraram em Roma, o abraço entre eles expressou a união de carismas: a pregação intelectual e apologética dos dominicanos e o ardor da pobreza e da Paixão de Cristo vivido pelos franciscanos. Era como se Deus unisse, em harmonia, a sabedoria e o zelo, para que a Igreja tivesse duas colunas de sustentação em tempos de crise. Plinio ainda recorda que a cena foi enriquecida pela presença de Santo Ângelo, o pregador carmelita, que profetizou que Francisco e Domingos seriam colunas da Igreja.
Mesmo sem tantas confirmações de uma amizade estreita, a ligação espiritual entre São Francisco e São Domingos permanece. Suas ordens, chamadas mendicantes, transformaram o modo como a Igreja evangelizava, levaram a fé para as ruas, praças e universidades, para aproximar a Palavra de Deus das pessoas comuns.
Francisco testemunhou a pobreza alegre e o amor à criação. Domingos deu à Igreja a clareza da pregação fiel e a dedicação ao estudo. Juntos, ainda que talvez não tenham sido “amigos” como às vezes se imagina esse tipo de laço, mostram que diferentes carismas podem se unir para servir a mesma missão.
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