“Se eu estou com fome é um problema meu material. Se meu irmão está com fome, meu problema é espiritual”: com a adaptação da frase atribuída a Nikolai Berdyaev, Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo metropolitano de Curitiba, explicou o sentimento que deve mover cada fiel na Campanha da Fraternidade 2023, cujo tema é “Fraternidade e Fome”.
Com o lema bíblico “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16), é a terceira vez que a fome é tratada durante a CF. A primeira vez foi em 1975 e a segunda em 1985. Diante da necessidade de tantas pessoas do país, precisou ser retomado: em 2022, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que o Brasil retornou ao Mapa da Fome. Segundo a organização, a prevalência da insegurança alimentar grave atingiu 15,4 milhões de brasileiros, ou seja, 7,3% da população, entre os anos de 2019 e 2021.
“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a partir da Campanha da Fraternidade, busca olhar para a realidade. Infelizmente, vemos que o tema da fome se faz presente no lar de muitas famílias brasileiras e vem também de um processo de estudo e análise de dados. Percebemos que é um contexto que precisa ser transformado. Buscamos ver a realidade, iluminar – a partir da Palavra de Deus – e agir. Afinal, Jesus veio para que todos tenham vida e em abundância”, explica Salete Bagolin Bez, coordenadora arquidiocesana da Campanha da Fraternidade 2023, sobre a escolha do tema.
Como Salete destaca, a Igreja, sozinha, não é capaz de mudar esse cenário. Por isso, é hora de criar redes. Em todo o Brasil, o momento é de unir forças para lutar contra esse flagelo. No dia 2 de abril, Domingo de Ramos, será a data da coleta nacional de solidariedade.
Como citou Dom Antonio Peruzzo, como cristãos, não podemos ignorar a dor do do próximo e quem escolhe fazer isso mostra que não acolheu a Deus como Pai, mas O modela às suas próprias vontades e sentimentos, como aqueles que “subordinam Deus aos seus próprios critérios”. Por isso, é preciso abandonar o individualismo.
“A Igreja não quer politizar o debate. Não estamos atrás de culpados, mas de caminhos para solucionar isso. Deus é Pai e aquele que está com fome é também filho dEle”.
O Arcebispo continuou, com exemplos bíblicos de confiança e entrega verdadeira ao Senhor, que precisa de fé e obras. Além Dom Peruzzo, padre Eguione Nogueira Ricardo, CMF, assessor eclesiástico da Comissão da Dimensão Sociotranformadora; diácono Antônio Bez, coordenador da Comissão da Dimensão Sociotranformadora; Salete Bagolin Bez, coordenadora arquidiocesana da Campanha da Fraternidade 2023 e Silvio Raulff Wünsch, ecônomo da Arquidiocese de Curitiba participaram da coletiva.
A Campanha da Fraternidade é o “modo brasileiro de celebrar a Quaresma”, em espírito de conversão pessoal, comunitária e social. Para apoiar todas as pessoas a viverem esse momento com todo compromisso e amor que ele representa e conclama, a Associação Evangelizar É Preciso e o IDe+ vão publicar posts com dicas, exemplos, histórico da Campanha e mais informações úteis.
A fala de dom Arcebispo metropolitano de Curitiba tem relação com o alerta constante do Papa Francisco sobre a “cultura da indiferença”. “Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós: que o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença”, disse o Pontífice durante a homilia da Missa de 8 de janeiro de 2019, quando também citou a Primeira Carta de São João Apóstolo, ao Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.
“O coração de Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não pode ficar indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O amor tem compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco; significa misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O amor é colocar o coração em risco para os outros”.
Pai de bondade,
ao ver a multidão faminta,
vosso Filho encheu-se de compaixão,
abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes
e nos ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”.
Confiantes na ação do Espírito Santo, vos pedimos:
inspirai-nos o sonho de um mundo novo,
de diálogo, justiça, igualdade e paz;
ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidária,
sem fome, pobreza, violência e guerra;
livrai-nos do pecado da indiferença com a vida.
Que Maria, nossa mãe, interceda por nós
para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa,
sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos.
Amém.
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