Ser pai é ser espírito zelador. É estar presente, ser muralha para proteção, ser rega para o crescimento, ser palavra que alivia quando a dor aperta. Como coloca Padre Reginaldo Manzotti em texto publicado na Aleteia, nesse mesmo dia, no ano passado:
“A paternidade é muito mais do que simplesmente transmitir material genético na geração de outro indivíduo. Trata-se de um dom que o pai é convocado a viver, no seio da família”.
A figura paterna tem um papel fundamental na formação do filho, pois traz uma energia e simbiose únicas para o ambiente familiar. Infelizmente, pais ausentes na vida dos filhos seguem sendo uma constante na fórmula. Essa falta, infelizmente, pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças, acarretando traumas e impactando, no futuro, na sua vida pessoal e profissional.
Responsáveis por ensinar traços autênticos de disciplina, responsabilidade, por transmitir segurança e independência aos filhos, os pais são muito necessários para que a criança cresça de forma saudável e equilibrada.
No entanto, para muitos deles, viver a paternidade próxima aos filhos está cada dia mais difícil. Pais e mães têm hoje jornadas de trabalho intensas, e se deparam com filhos hiperconectados, já com uma linguagem social bem distante da deles. Ambos, neste contexto, enfrentam dificuldades para encontrar pontos em comum com o filho, que permitam o diálogo e facilitem a convivência.
Neste cenário, muitos pais acabam se colocando no lugar de “melhor amigo” do filho, agindo com receio de contrariá-lo e perder o lugar no seu “rol de amizades”. Essa maneira de agir não é frutífera para a relação, pois, ainda que o vínculo entre pai e filho não deva se tratar de uma relação autoritária, baseada na imposição violenta, ele pode, e deve conter um laço de hierarquia e respeito, essencial para que haja instrução, orientação e proteção.
O Papa Francisco, na Audiência Geral de 28/1/2015, falou sobre a paternidade, registrando que a “sociedade sem pais” que estamos cultivando, em um primeiro momento, poderia parecer uma libertação “do pai-patrão”, castrador, que tratava os filhos como seus servos, sem respeitar as exigências do seu crescimento e impedindo sua emancipação. Todavia, o Santo Papa observa que também comportamentos atuais são nocivos, quando se vai ao outro extremo, saindo da presença invasiva para a ausência:
“A qualidade educativa da presença paterna é tanto mais necessária quanto mais o pai é obrigado pelo trabalho a estar distante de casa. Por vezes parece que os pais não sabem bem que lugar ocupar na família e como educar os filhos. E então, na dúvida, abstêm-se, retiram-se e descuidam as suas responsabilidades”.
É certo que a relação entre um pai e um filho deve ser uma relação de amor e acolhimento, pois essa também é uma lição importante a ser transmitida de um para o outro: saber amar e ser amado. Mas a importância das demonstrações de carinho, da palavra de conforto e do abraço não exclui a entrega de uma palavra firme, quando necessária. Um pai precisa também saber quando dizer ‘não’ ao seu filho. É o que nos ensina também o Padre Reginaldo Manzotti, desta vez em seu livro “10 Respostas que vão mudar sua vida”, da Ed. Petra:
“Evidentemente, na hora do ‘não’, os filhos tendem a ficar muito contrariados e até descontentes, mas isso não significa que os pais estejam errando. (…) O que não podemos esperar é que o exercício da autoridade paterna ou materna seja aceito sem confronto, até porque o adolescente precisa questionar para desenvolver uma visão crítica da vida e crescer. Isso faz parte do seu processo de desenvolvimento. Portanto, quem é pai ou mãe pode ficar bem tranquilo quanto ao ‘não’ bem pensado e colocado, como forma de impor limites, pois não causa trauma e, às vezes, os filhos precisam dele. O que causa trauma é a falta de afeto, o abandono, o excesso de castigo e outras atitudes extremamente negativas que soam como rejeição e abalam a autoconfiança da criança ou do adolescente, fazendo com que deixe de acreditar em seu potencial”.
Também o Papa Francisco, agora na Audiência Geral de 4/2/2015, quando, outra vez, abordou o tema da paternidade, pontuou o caminho que pais devem trilhar:
“A primeira necessidade é precisamente esta: que o pai esteja presente na família. Que se encontre próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E que esteja perto dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre. Estar presente não significa ser controlador, porque os pais demasiado controladores anulam os filhos e não os deixam crescer”.
Nesse Dia dos Pais, o Portal IDe+ ouviu pais presentes de diversos locais do país, para que nos contassem um pouco sobre seus exemplos, suas vivências, suas inseguranças e suas convicções quanto ao exercício da paternidade. Vamos conhecê-las?
Nélio Júnior, de Brasília/DF, pai de João Vitor, 21 anos e Enrico, 12 anos:
“A paternidade mudou toda a minha visão com relação ao meu mundo! A minha pessoa passou a ser secundária, tudo que importava muito antes passou a ser menor, e dali pra frente tudo que passei a fazer foi pensando neles, toda preocupação passou a ser com a saúde e integridade deles, um amor sem descrição e incondicional.
O mais difícil na paternidade, para mim, é saber se as decisões que tomamos com relação ao filho são corretas ou pelo menos a mais acertada, pois o medo de um impacto negativo na vida deles é cruel! Mas a maior lição que quero deixar para os meus filhos é a honestidade, a garra e a coragem para lutar nos desafios da vida.
O lugar do filho é sempre o mais perto possível do pai, por isso acho que essa relação tem que ser próxima, assim as chances dos descaminhos da vida diminuem consideravelmente. Logo, tudo que faço junto deles é maravilhoso, desde levar pra escola, pro futebol, pro clube e por aí vai”.
Emanuel Salgado, de São Paulo/SP, pai de Guilherme, 14 anos e Eduardo, 10 anos:
“Ser pai mudou em tudo a minha vida: mais responsabilidade, mais preocupação com o futuro, mais tolerância com o outro e mais amor. Claro que é difícil educar, seja nos assuntos da escola, seja na formação de caráter, encontrar a melhor forma de estimular, desenvolver, sendo que cada um deles é diferente. Mas, com eles eu aprendo o quanto é importante estar aberto a evoluir sempre, que nunca vamos saber tudo, seja no campo técnico ou emocional e que sempre podemos ser pessoas melhores.
Com meus filhos, vivo momentos únicos: gostamos de conversar, seja sobre como foi o dia, sobre um filme que assistimos, uma história qualquer, alguma aventura que curtimos juntos, sobre a vida, ouvir as opiniões uns dos outros, perceber o amadurecimento deles (ou a falta, às vezes…), intrigá-los sobre algum assunto para pensarmos juntos, enfim, presenciar eles se tornando pessoas cada vez mais completas.”
Bruno Altoé Duar, de São José dos Campos/SP, pai de Nicole, 14 anos, e Ana Clara, 11 anos:
“Olhando pra trás e vendo o que foi mudando em minha vida com a paternidade, vejo como passamos a ter um projeto de vida que não é mais só nosso. Partimos do individual para uma construção, um projeto pro outro; quando você tem o filho, parece que todos os seus planos passam a envolver aquela pessoa e o bem-estar dela, como uma complementação do nosso projeto de vida, uma correção de rumos – e apesar de, a princípio, parecer um sacrifício, não é: é algo feito com um amor profundo, uma doação em prol do outro, apenas porque vale a pena. É uma opção de vida, viver para a gente e para eles. Uma mudança radical, que assusta, mas que faz da gente um ser mais conectado ao outro e, por isso, acabamos encontrando a nós mesmos, de forma mais forte.
Na paternidade encaramos a fragilidade da vida, a finitude, o cuidado parental, a responsabilidade que precisamos ter com aquele ser. A princípio, assusta como o filho é frágil e depende da gente, e então nos desdobramos para tentar fazer com que aquela vida dê certo: que seja alguém feliz, fazendo o melhor que se pode, deixando essa pessoa, ao mesmo tempo, livre, pra tomar as suas próprias decisões e escolhas – até porque, um dia, não estaremos ao lado dela.
Hoje, quando as minhas filhas já são maiores, a coisa mais gostosa é olhar pra trás e lembrar de tudo que já fizemos, ter essa memória de uma vida conjunta, e se alegrar com essas lembranças, rir de tudo que nos aconteceu. Esse diálogo tem sido uma coisa bastante prazerosa, porque vem de uma vida já construída junto. Também gosto muito de escutar os planos que elas têm, o que pretendem fazer, como estão vendo o mundo, tudo isso é muito prazeroso.
Eu gostaria muito que a minha vida fosse, para elas, como um testemunho, que tivesse exemplos de uma boa forma de vida. No mundo de hoje, tudo que mais quero é criar pessoas que não sejam, principalmente, indiferentes, sejam sensíveis diante dos diversos problemas que temos: injustiça social, violência, crise ambiental. Que sintam uma inquietação que possa levá-las à ação, para assim tentar mudar o que acreditam estar errado.”
Cristiano Meyer Barbuda, de Salvador/BA, pai de Luca, 10 anos e André, 7 anos:
“Após dar à luz, a mulher de antes meio que deixa de existir em razão da presença integral exigida pelo filho, dando lugar à figura idealizada da mãe, com toda a grandeza que essa palavra carrega em si, sempre descrita como mágica ou divina, um ‘padecer no paraíso’. Com o pai é diferente. A natureza lhe dá, inicialmente, um papel secundário, de observador de milagre; de admirador de competências; de auxiliar da vida cotidiana. Para mim, ser pai também significou, de início, ser coadjuvante, aprendiz e admirador.
Mas o tempo passou e aqueles olhinhos de meus dois filhos, que antes brilhavam quase que com exclusividade para a mãe, em certo dia, se voltaram para os meus com mais admiração; mais expectativas e exigências. Com o tempo, surgiu entre nós aquela afinidade exclusiva e deliciosa; aquela reciprocidade e conexão inexistentes em qualquer outro espaço-tempo. Em seguida veio o prazer de ensinar, de ser simples, de voltar à infância e de aprender tudo outra vez, junto com eles, como se a vida estivesse me dando uma nova chance de tornar o mundo melhor. E está!
Minha vida mudou com a indescritível constatação de que eles dois são aquecidos pela mesma chama que me aquece e que agora se divide em três para nos ajudar a atravessar qualquer frio. Com o tempo, assumi, enlevado, o papel de manter acesa essa chama trina, e me comprometi a cuidar de minha saúde e objetivar minha longevidade apenas para mantê-la acesa, seja como for, doa como doer, pelo máximo de tempo que me seja permitido estar com eles. E por eles. Minha vida mudou quando eu, como pai, pude ter um vislumbre do que é ser realmente um amigo, um irmão, um professor, um aluno, e até mesmo uma mãe… O que mais eu poderia querer?”
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