Frases como “eu não gosto de criança que chora”, “criança que faz birra é feia” e “você não consegue, pode deixar que eu faço” podem impactar na autoestima de uma criança. Você sabia?
O grande problema dessas expressões e ações dos pais no cotidiano é o desenvolvimento de adultos mais frustrados, com dificuldade de assumir desafios e com muito medo de encarar o mundo e seus dilemas.
Apesar de muitos pais acreditarem que tais frases são inofensivas, a consultora familiar e colunista do IDe+ Renata Bermudez explica que elas refletem (e muito!) na formação e comportamento de crianças, adolescentes e até mesmo adultos.
“Vivemos em um mundo com cada vez mais pessoas ansiosas e com problemas de saúde mental. E isso também tem relação direta com as atitudes dos pais relacionadas aos seus filhos”, explica.
Palavras negativas, rancorosas e com inverdades machucam muito as crianças, que acabam tomando aquilo como verdade para sempre. Como as crianças acreditam muito em seus pais, é essa a verdade que levam para a vida – inclusive de que não são boas o suficiente para desempenhar seus papéis como adultos na sociedade.
Você pode estar pensando: “eu preciso educar meu filho, por isso falo assim com ele”. Renata explica que há uma diferença entre a conduta da educação e a da repressão.
“A gente não pode condicionar o amor com a atitude da criança. Ou seja, não posso falar para ela que eu não gosto dela quando faz birra. Mas sim conversar que não se pode agir dessa maneira, e que os pais continuarão a amá-la depois dessa conversa. Essa chantagem não faz bem para a família”.
No entanto, isso não significa também ser permissivo demais e deixar o filho fazer o que quiser nem super protegê-lo.
“É preciso deixar a criança errar, aprender a corrigir o erro. Por isso, você pode permitir que ele caia e, às vezes, rale o joelho. Assim, se permite a experimentação da vida e a criança desenvolve seu autoconhecimento, que está muito ligado com a autoestima também”, completa a consultora.
Renata Bermudez separou 3 dicas para formar uma autoestima saudável nos filhos. Por meio delas, é possível melhorar as condutas e atitudes. Além disso, você pode aplicá-las no seu dia a dia agora mesmo, porque só precisam que você mude alguns hábitos e manias.
Amar também é educar e repreender, quando preciso. Mas você jamais deve condicionar o seu amor a uma chantagem ou comparação. Muito menos dar tudo o que o filho quer. Dessa maneira, é necessário haver um equilíbrio entre o amor e o dizer não, principalmente porque a criança precisa dessa diferenciação em sua vida.
Para aprender, muitas vezes se erra. Por isso, é preciso que os pais sejam permissivos quando os filhos querem explorar o mundo (em qualquer chance de riscos você vai intervir). Só que se ela vai aprender mais ralando o joelho, é preciso deixar cair.
Na adolescência a mesma coisa. Filhos precisam compreender suas rotinas e ter autonomia para organizar seu cotidiano. A supervisão é sempre importante, mas você perceberá que, pouco a pouco, conforme as responsabilidades aumentam, ela ficará cada vez mais escassa. Filhos que têm a possibilidade de experimentar conseguem atingir objetivos e organizar suas rotinas muito melhor que as demais.
Lavar a louça, cuidar dos animais da casa, regar as plantas ou tirar o lixo. Tarefas simples e que podem ser as primeiras responsabilidades de uma criança na casa. Quanto mais ela se sentir útil no ambiente, mais vai se sentir pertencente a esse espaço. Arrumar o quarto, cozinhar, estudar são exemplos do que ela pode assumir agora mesmo e que ajuda a ter adultos mais independentes.
Renata explica que é como em um trabalho em que podemos ser facilmente substituídos. “Fica mais fácil de desapegar e até faltar. Mas quando somos únicos e as pessoas ao nosso redor precisam de nós, a gente tem um comprometimento muito maior com o lugar”.
Essa é uma dica que também deve ser aplicada fora do ambiente familiar, porque quando se dá função ao jovem, ele entende que a comunidade toda depende dele. Ao fazer nascer esse sentimento, ele se sente parte daquilo e colabora muito mais com as pessoas ao seu redor. Também diminuem as chances de ele desistir facilmente das coisas, porque sabe que se ele não fizer, todo o conjunto sai perdendo.
“Quando você não deixa seu filho fazer nada, é como se você dissesse a ele que ele é incapaz. Uma superproteção que, em primeiro momento parece carinho, só que na verdade impacta na construção do outro ser que ele não tem função no mundo ou que é incapaz de realizar qualquer coisa”.
Há muito tempo as gerações tentam um equilíbrio entre os extremos. Houve gerações em que existia uma cobrança muito grande, já a outra muito permissiva. Para a colunista, ainda estamos longe de encontrar o meio termo entre elas, só que devemos começar desde já.
Assim sendo, é preciso que os pais tenham consciência de suas atitudes e realizem práticas que busquem um bom relacionamento intrafamiliar. “A sociedade enfrenta índices cada vez mais altos de depressão, produtividade em queda, etc. É preciso um movimento de toda a sociedade para encontrar uma estabilidade entre a rigidez e a permissividade extremas. Só assim teremos adultos com boa autoestima”, finaliza Renata.
>>> Aproveite para ler o post: Depressão infantil: é possível?
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