Com quase 150 milhões de animais de estimação, segundo o censo do Instituto Pet Brasil (IPB), realizando em 2021, o Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de bichinhos domésticos. Além da quantidade, o afeto nas relações tutores-animais também tem crescido, ao ponto de muitos se preocuparem até mesmo com a possível vida deles após a morte.
O teólogo Paulo Pacheco conta que esse questionamento tem sido recorrente, principalmente entre tutores católicos. Por se tratarem de seres com sentimentos tão humanos e fontes de muito amor, podem os animais também acessarem o céu após o fim da sua trajetória terrena?
A resposta do estudioso é direta e pode desagradar muitos tutores: “não”. Com base na Teologia, segundo Paulo, somente o ser humano é dotado de espírito. Portanto, como os animais não o possuem, ao morrerem, encerram a sua jornada.
“Os animais até possuem alma, mas não como nós. É a chamada alma sensitiva, mas ela não transcende. Se não fosse assim, não poderíamos nos alimentar deles”, explica o teólogo.
Paulo Pacheco diz que o questionamento tem a ver com o fato de as pessoas considerarem muito cachorrinhos e gatinhos, mas não há como diferenciá-los dos demais, a exemplo de cobras e tubarões, pois “são todos criação de Deus”.
Papa Francisco, no ano passado, chegou a lamentar publicamente que os animais de estimação tomem o lugar dos filhos. Nada contra os animais. A fala do Pontífice, na verdade, foi para promover a realização do sonho de muitas crianças que se encontram em abrigos e precisam de uma família para acolhê-las.
“A negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, e a civilização envelhece”, declarou Sua Santidade.
A boa relação com animais, inclusive, tem respaldo bíblico e conta com a força de um dos maiores santos da Igreja Católica. São Francisco de Assis é conhecido mundialmente como o padroeiro dos animais, pois durante toda a sua vida, ele cuidou dos bichinhos como se fossem seus irmãos.
A relação entre Francisco e os animais aparece em diferentes momentos de sua biografia. Em um deles, na presença de um lobo, ele amansou o animal selvagem somente dizendo-lhe: “venha, irmão Lobo. Mando-te da parte de Cristo que não faça mal algum a mim nem a ninguém”.
Padre João Paulo de Araújo Gomes, de Gravatá (PE), também é um exemplo dessa boa relação, tanto que o seu trabalho em favor de animais que vivem na rua virou episódio da série documental “Apenas Cães”, da Netflix, lançada em julho de 2021.
Em entrevistas a veículos de imprensa, o Sacerdote contou que a relação com os animais não foi planejada e se deu de modo “natural”. Ele foi procurado por uma equipe de um abrigo de Gravatá logo que chegou à cidade para assumir a Paróquia de Santana. Foi quando teve a ideia de vender biscoitos para ajudar no faturamento do espaço e financiar campanhas de adoção.
O próprio Padre João Paulo tem cinco cães adotados e cuida deles muitíssimo bem. Um dos momentos mais emocionantes do episódio da série da Netflix, inclusive, mostra justamente o bom entroso do padre com os seus animais de estimação, com destaque para o registro da cadela Cecília, que tem as patas traseiras paralisadas, ganhando uma cadeira de rodas e podendo voltar a andar.
Vale lembrar que antes mesmo de trazer o ser humano para a Terra, Deus já havia povoado o lugar de animais do campo, dos céus e do mar. “Faça-os sair para que se espalhem pela terra, sejam férteis e se multipliquem”: está escrito em Gênesis 2,19.
No episódio da Arca de Noé, temos novamente a atenção de Deus com os animais, mostrando sua preocupação em preservá-los. Eles podem até não ir pro céu, mas sua vida na Terra deve ser pautada pelo respeito e pela dignidade.
Afinal, são parte da criação e “o Senhor criou tudo o que existe com um propósito definido” (Provérbios 16,4).
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