Será que todas as pessoas podem ter algo de extraordinário em suas vidas?

Será que todas as pessoas podem ter algo de extraordinário em suas vidas? José Carlos Fernandes, o Zeca

Trata-se de uma busca às vezes inconsciente, mas um tanto recorrente: a busca pelo extraordinário. São muitas as pessoas que anseiam por algo incomum nas próprias trajetórias, sem se dar conta de que as suas histórias guardam passagens relevantes. Elas não conseguem identificar isso e é preciso que alguém com sensibilidade e experiência revele o caminho.

Mas afinal, como podemos encontrar o extraordinário em nossas vidas?

O jornalista e professor universitário José Carlos Fernandes, o Zeca, cronista e colunista da Gazeta do Povo, durante muito tempo registrou as belezas da vida de pessoas anônimas em seus textos. Ele é ex-religioso da Congregação dos Missionários Claretianos.

Segundo Zeca, a proposta das mais de 500 crônicas escritas de 2008 pra cá é fugir do exótico, distinguindo-o do extraordinário.

“Qual é o efeito do exótico? Quando você lê o exótico, você acha engraçado, mas você não se identifica com ele. Você não diz que ele tem algo como um espelho para você. Mas o extraordinário é diferente. Ele é especial, ele é próximo, porque a pessoa tem uma vida, uma profundidade, um propósito, um encantamento que às vezes não é muito perceptível”, explica o cronista.

O tema “A vida habitada pelo extraordinário” foi abordado no programa De Propósito, da TV Evangelizar, em janeiro deste ano e teve José Carlos Fernandes como entrevistado pelos apresentadores Bruno Socher e Ceci Reis. Para conferir o programa na íntegra, clique aqui

O nosso extraordinário desconhecido

É comum haver algo extraordinário em nós, mas não identificamos, não sabemos como encontrá-lo. Às vezes, nem desconfiamos que isso exista de fato. José Carlos Fernandes conta que um dia foi entrevistar uma senhora que estava fazendo 73 anos de casada. Mas na hora que abriu a porta da casa e entrou, ela já foi logo falando: “Não tenho nada a dizer.” Quer dizer, ela não enxergava em sua vida o tal extraordinário.

“Eu perguntava: ‘Como foi a vida de casados de vocês?’ e ela ‘Eu que lavo as camisas dele, não deixo ninguém pôr as mãos nelas; eu que faço o almoço dele’. Mas aí, enquanto ela ia falando que nada acontecia na vida dela, teve a hora do meu golpe de sorte. Fiz o cálculo e falei assim: ‘Quando é que veio a primeira televisão pra essa casa?’ Na minha casa chegou em 1967, na deles deve ter chegado antes, pois parecia uma família de mais posses”, comenta o jornalista.

Foi quando a entrevistada então se abriu e começou a relatar uma história. Falou que o marido não queria TV em casa. José Carlos conta um trecho do que a senhora respondeu:

“Aí, um dia, eu peguei minha filha, chamei um táxi, fomos na loja Tarobá e comprei uma TV. Cobri com um lençol branco. Ele chegou pra almoçar e eu falei assim: tem algo lá na sala. Levanta o lençol. Eu comprei uma TV”.

Segundo o cronista da Gazeta do Povo, a senhora não percebeu, mas aquilo que estava dizendo é o que costuma ser chamado, em estudos de personagem, de dobra da vida. Zeca observa que, naquele dia, a entrevistada virou a dona da casa. O pacto de casamento dela se estabeleceu.

“Com o tempo, você vai tentando captar onde está a dobra. A pessoa acorda e, num determinado momento, faz uma ruptura na vida dela e começa a viver de outra maneira. Ela se torna a protagonista, a voz. E aí você encontrou a alma do personagem. Pelo menos um perfil dele”, conclui.

 

Algumas histórias extraordinárias surgem onde menos se espera

Trecho da entrevista de José Carlos Fernandes ao programa De Propósito

Que três perguntas poderiam ser feitas a uma pessoa para encontrar o extraordinário dentro dela?

“Todo mundo pergunta se tem uma técnica. Digamos que a gente vai encontrando alguns caminhos que funcionam. Deixa eu exemplificar. Teve uma ocasião que a gente fez um perfil do Café. Era um menino da periferia, negro, que era um grande grafiteiro. E a casa dele estava em reforma no dia que eu fui lá. Tinha de andar sobre umas tábuas, pois tinha uns alagamentos. E na hora que eu estava vindo embora, quando eu achei que tinha terminado a conversa, o pai dele falou assim: ‘Eu sou sobrinho da Tia Anastácia do Sítio do Picapau Amarelo’. Como assim? Então ele foi lá e pegou um álbum de fotografia e estava lá a Jacira Sampaio, a atriz que foi a primeira Tia Anastácia da televisão, do Sítio. E daí a gente sentou de novo e começou a história do álbum de fotografia. A gente sempre soube que o álbum de fotografia pode ser um elemento para desencadear uma conversa e vencer, inclusive, a timidez daquelas pessoas que não estão muito treinadas, digamos, para entrevistas – porque o que está treinado cria o personagem que ele quer. No fundo, eu achei que tinha uma relação entre a casa estar em reforma, tipo ‘você viu minha casa numa situação não muito favorável, mas eu quero te dizer que há algo aqui nessa casa que é incrível. Meu filho, que é esse grafiteiro que já chegou a ser perseguido, o Café, é sobrinho-neto da Tia Anastácia’. Então, às vezes, a fotografia, um álbum ou observar na casa e perguntar quem é aquela pessoa ali, isso pode abrir um novo caminho”.

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Comentários

  • Stela
    Adorei! Aprendi muito com o Zeca na época da faculdade e amei aprender "um pouco mais" aqui 💜

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