Santo Antônio sofre um bocado. E não estamos falando da sua existência terrena nem mesmo de fatos passados. O martírio em questão diz respeito ao presente. Isso porque são muitos os relatos de pessoas que, em busca de um casamento, recorrem a simpatias com o uso censurável da imagem do santo. A prática não é nada legal, apesar dos inúmeros depoimentos sobre graças matrimoniais alcançadas.
A fama de casamenteiro de Santo Antônio é antiga e começou na Itália, onde passou boa parte da sua vida. Conforme relatos, uma moça de Nápoles queria muito casar, mas não possuía o valor do dote a ser pago à família do noivo, prática comum à época. Foi aí que ela recorreu ao santo.
Na aparição, Santo Antônio lhe entregou um bilhete direcionado a um próspero comerciante. Pediu para que o homem desse à moça em moedas de prata o quanto pesava o bilhete. Por julgar ser irrisório, o comerciante aceitou. Porém, ao colocar o bilhete na balança, foram precisos 400 escudos para se chegar ao equilíbrio no equipamento, exatamente o valor que ele devia de uma promessa feito ao santo. E então pagou.
A fama correu o mundo e encontrou no Brasil o terreno fértil para uma criatividade, digamos, um pouco “malvada”. Vejamos: uma das simpatias mais famosas prevê que a imagem do santo seja colocada de cabeça para baixo. Há ainda quem a coloque dentro da geladeira. Ou do congelador. No entanto, é importante saber que a Igreja não valida nada disso. Pelo contrário.
Como lembra o Padre José Neto, as simpatias são contrárias ao que Deus nos ensina.
“A palavra do Senhor diz que devemos ter fé e isso basta”, comenta, ao fazer referência a Marcos 9,3: “Tudo é possível ao que crê”.
Além disso, o sacerdote chama a atenção para o desrespeito a imagens, o que não é apropriado. Segundo ele, “não são apenas objetos”, mas “representações sagradas”.
A palavra superstição vem do latim “superstitionem”, vocábulo cuja origem até hoje gera um pouco de controvérsia, embora seja consenso o fato de que o prefixo “super” refira-se aos poderes que estão acima dos homens.
Superstição, portanto, pode ser definida como a crença em forças que estão acima da natureza, sem relação com a religião. Um conceito que, por si só, já se apresenta como oposto a tudo o que é pregado pela Santa Igreja. Por isso mesmo, o Catecismo Católico, em seu artigo 2110, afirma ser “um excesso perverso contra a religião, com base inclusive no primeiro mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus”.
“A superstição é um desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Também pode afetar o culto que prestamos ao verdadeiro Deus: por exemplo, quando atribuímos uma importância de algum modo mágica a certas práticas” (CIC 2111).
Ou seja: a imagem de Santo Antônio deve ser poupada dessas práticas. Aliás, não somente a imagem como também o seu nome. Isso porque existem outras superstições com foco no seu nome, para que seja escrito aqui ou acolá. Nada disso! O correto mesmo é conhecer a história do religioso canonizado e dedicar-lhe respeito e oração. Fora da geladeira, claro, e sem estar de cabeça para baixo.
Santo Antônio é português de Lisboa, nasceu nobre em 1195 e foi batizado como Fernando. Em Coimbra, quando jovem, entrou para a ordem de Santo Agostinho e se tornou sacerdote. Mais tarde, pediu ingresso na recém fundada ordem de São Francisco e foi justamente aí que ele assumiu o nome de Antônio, uma homenagem ao Santo Antão.
Mudou-se para a Itália, onde conheceu pessoalmente São Francisco de Assis. Foi o santo italiano que autorizou Santo Antônio a lecionar frades em Bolonha. Porém, não se limitou ao ensino teológico. A pregação ao povo fez parte da sua rotina, não somente na Itália, como também na França.
Pádua foi a cidade escolhida por Santo Antônio para passar os últimos dias de vida. Menos de ano após a sua morte, em 1232, foi canonizado pela Igreja Católica, dada a sua santidade e os muitos milagres atribuídos a ele. Sem qualquer relação com superstição.
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