Toda idade tem suas crises? 

Toda idade tem suas crises? 

Quem aí não já não enfrentou uma fase difícil na vida em que se sentiu perdido, deslocado, confuso e reflexivo sobre suas decisões ou sobre o rumo que tudo tomou? 

Não há como fugir: todo mundo já passou ou vai passar, com toda certeza, por essa ‘curva de felicidade’ que está diretamente ligada à idade. Isso mesmo, nossa idade marca fases e, consequentemente, algumas crises. 

Mas o que são as crises de idade?

As chamadas crises de idade têm se tornado mais conhecidas recentemente e, se apresentam de forma mais intensa, em relatos de pessoas na fase que antecede os 30 anos e, também, durante os 40.  Alguns passam de forma mais branda e, outros, de forma mais intensa.

Entretanto, serão essas duas idades as únicas responsáveis por desencadear essas crises? Conforme a psicóloga Talita Abreu a resposta é não. “Toda idade tem crise”, afirma.

“Hoje até os bebês passam pelos chamados ‘saltos do desenvolvimento’, que podemos considerar como uma crise referente à passagem da idade e maturação. As crises são consideradas um período de transição”, detalhou. 

 

As mudanças da vida como centro das crises

Segundo a psicóloga, as crises justificam-se “por fatores do desenvolvimento humano, cada crise está ligada a uma mudança de fase, uma transição”.

O termo “crises de idade” foi introduzido por L.S. Vygotsky que também tabelou as principais manifestações de crise que enfrentamos ao longo da vida: 1 ano, 3 anos, 7 anos, 13 aos 15 anos, 17 anos, 25-30 anos, 40 anos, 55-70 anos. Do ponto de vista do autor, é a transição de um estágio de idade para outro. Portanto, as crises sempre acontecem na intersecção das idades.

O estudante do primeiro ano de Engenharia de Software Willian Lanes pode ser um exemplo para quem passou por essa fase na adolescência. Prestes a completar 20 anos, é filho da geração dos anos 2000, que agora já ultrapassou a maioridade e está iniciando a vida adulta.

“Acho que me senti perdido quando tive que escolher a faculdade, ver o que eu iria fazer, buscar um serviço. Ali foi uma crise em que fiquei muito em dúvida para saber o que eu iria ser lá na frente, de parar e refletir: onde eu estou, o que eu faço?”. 

Mas se para o Willian os 18 anos têm marcado um período de idade mais difícil que os outros já vividos, ele considera que a melhor fase que passou em seus quase 20 anos não foi há muito tempo. 

“Acho os 16 a melhor idade até agora porque é quando você não tem nem muita responsabilidade, mas também não tem pouca. Pode começar a trabalhar em um estágio para ter um pouco de dinheiro, pode sair tranquilo, sem a preocupação que a gente tem quando chega nos 18/19 anos que tem faculdade, já começa no emprego e a pensar na vida de forma independente, sem seus pais. Nos 16 anos você está se conhecendo, conhecendo o mundo, é a fase perfeita”, justifica. 

A idade que Willian classifica como a melhor de sua vida foi exatamente aquela em que sua mãe, Silvana Moccelin Lanes, teve sua gestação. Em meio aos desafios da maternidade, a adolescência da atual professora foi diferente, mas longe de ser um período de crise. Para ela, a fase em que refletiu sobre sua vida, sua rotina, seus projetos e sonhos para a vida foi depois, no período dos 20 e tantos. 

Silvana e o filho, Willian, têm compreensão diferente sobre qual é a melhor idade da vida deles

“Esse período em que você começa a enxergar que é preciso estudar, trabalhar, fazer faculdade, cuidar de casa, da família e aí bate a saudade da casa da nossa mãe. Acho que a gente passa por isso nos 20 e poucos e também sinto um pouco disso nos 30 agora”, relata Silvana, que atualmente tem 34 anos.

“Às vezes, a gente fica pensando na saudade de sair, curtir um pouco porque com família, filhos, você percebe que essa fase passou. Não é uma culpa ou arrependimento pelas decisões, mas é um choque, às vezes, com a indagação: nossa, tenho 20 e pouco anos e minha vida será sempre trabalhar e estudar?”, detalha. 

Vivendo em uma época com uma realidade diferente, Natelse Lanes passou na adolescência a fase mais difícil de sua vida ao perder sua mãe durante o parto de seus irmãos. Dos 12 aos 19 anos viveu na casa de uma tia, até se casar e construir sua própria família e lar, com marido e filhos. Ao longo da vida, Natelse percebeu-se mais reflexiva sobre seu caminho em torno dos 40 anos.

“Nessa fase percebi a falta que me fez não ter estudado. Estava cansada de trabalhar como doméstica, queria outro trabalho, penso que eu poderia ter sido uma professora, por exemplo, mas, pela necessidade de trabalhar e cuidar dos filhos, não foi possível”, relembra ela. 

Hoje aposentada, com 65 anos, Natelse avalia que vive sua fase mais feliz da vida. “Por tudo que passei, o quanto trabalhei, hoje consigo aproveitar mais a vida com minha casa, descansar mais, curtir meus filhos e netos que estão próximos”. 

Natelse ao lado de seus dois netos 

Períodos diferentes: crises distintas

Embora com idades, contextos e gerações diferentes, ambas as narrativas relatadas dizem respeito a mudanças e períodos de transição em que, como reflexo a essas transformações em nossas rotinas, percepções e compreensões sobre a vida que levamos, acabamos mergulhando, por vezes de forma mais intensa que outras, em autoavaliações. De acordo com um estudo feito pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos, existe uma “curva de felicidade” que está presente na maior parte dos 134 países que participaram da pesquisa.

Os dados apontam que, mesmo em contextos culturais diferentes, há um ponto em comum: nos sentimos melhor na adolescência, somos mais infelizes até o fim dos 40 e depois valorizamos a sensação de bem-estar quando nos aproximamos da velhice. Conforme a pesquisa, “em média, a idade mais infeliz das pessoas nos países desenvolvidos é em torno dos 47,2 anos, enquanto nos países em desenvolvimento é 48,2 anos”. 

No entanto, é preciso atenção, pois isto não pode ser definido como uma regra para nossas vidas. Essas fases, de forma alguma, devem ser vistas como negativas ou como sentenças de períodos ruins. “Para Erik Erikson, as crises são processos que nos levam à evolução e a mudanças. São circunstâncias que nos permitem transcender, crescer e tornar-nos conscientes de nós mesmos. Necessitamos de paciência para passar pela crise, e também empatia por aqueles que estão passando”, sugere a psicóloga Talita. Para cada um dos entrevistados, as fases difíceis percorridas são hoje vistas como formas de aprendizados.

“Aprendi muito a valorizar a família, a agradecer e dar valor ao trabalho, além de ser grata pelo convívio com quem amo”, finalizou Natelse. 

A luz da fé para todas as crises

Padre Reginaldo Manzotti nos lembra que em todos os momentos Jesus está conosco e que nossa deve ser nosso alimento em fases difíceis.

“Devemos buscar reafirmar o positivo, aproveitar fortemente a infância, o ser criança. Em nossas orações, pedir ao Pai por nossos jovens, por nossos pais e mães, pedir que a juventude esteja próxima a Deus. Devemos pedir que Jesus seja nosso espelho e modelo, em todas as fases da vida e, quando nos sentirmos perdidos, pedir resgate pelo amor a Jesus”, aconselhou. 

Afirmando que a crise faz parte da salvação, Vossa Santidade, o Papa, também diz que “a crise te faz dançar um pouco, às vezes te faz ouvir coisas ruins, mas da crise se pode sair, desde que dela se saia melhor”, narrou o Pontífice.

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