Em 10 de novembro, o Brasil celebra o Dia Nacional do Trigo, uma oportunidade não apenas para destacar a importância desse grão na culinária mundial e como produto de exportação do Brasil, mas também para conscientizar sobre a doença celíaca, uma condição que afeta muitas pessoas e de todas as origens.
O trigo é o segundo alimento mais consumido no mundo e é fundamental em inúmeras culturas e pratos. No entanto, para alguns, como Oldair Przysbeczyski, motorista de 42 anos, a relação com o trigo é complexa devido à doença celíaca, que exige cuidados especiais e adaptações em toda a sua vida.
A doença celíaca é uma condição autoimune crônica que resulta da intolerância permanente ao glúten, uma proteína presente em cereais como trigo, centeio, malte e cevada, por exemplo. Essa intolerância desencadeia uma resposta do sistema imunológico que pode causar inflamações e lesões no intestino, que levam a uma variedade de sintomas.
Oldair Przysbeczyski, que vive com essa doença desde a infância, descreve a vida com ela como desafiadora.
“A vida com essa doença é muito difícil, mas não impossível, ainda mais se você tiver o apoio da família. No meu caso, graças à minha esposa, que gosta de cozinhar, e aprendeu e desenvolveu muitas receitas sem glúten, pois os produtos sem glúten são muito caros e difíceis de encontrar”, contou.
Ele adota precauções rigorosas para evitar a contaminação cruzada, uma ameaça constante para os celíacos, que podem ser afetados até mesmo pela exposição ao pó de trigo no ar.
“Hoje, se eu me contaminar com glúten, algumas horas depois vou sentir muita dor de cabeça, que não passa com remédio, refluxo, diarreia, um mal-estar que me derruba, fica em torno de três a quatro dias”, compartilha.
A principal função do glúten é a composição estrutural de alimentos como pães, bolos, bolachas, embutidos, macarrão, chocolate, balas, entre tantos outros. Confere elasticidade e ajuda a dar forma ao produto. Atua como um agente de ligação que melhora a textura e o sabor, além de ajudar a reter a umidade nos alimentos. Por isso, muito utilizado em produtos de panificação. É também encontrado em molhos e cervejas. Além disso, cremes, remédios e até mesmo produtos cosméticos podem conter glúten.
Oldair precisa manter um espaço dedicado a alimentos sem glúten em seu armário de cozinha. Ele leva suas próprias refeições para o trabalho e em viagens, já que a oferta de opções sem glúten em restaurantes é limitada. E o mais importante: é preciso ler minuciosamente os rótulos de produtos industrializados.
Para aqueles que vivem com a doença celíaca, uma contaminação por glúten pode desencadear uma série de sintomas, que variam de pessoa para pessoa e podem durar vários dias. Contudo, a vida não se limita a seus dissabores e Oldair a vê com otimismo. Embora a dieta sem glúten tenha restrições, é também uma oportunidade para uma vida mais saudável.
Nem todas as pessoas entendem que “não é bobagem”. Ainda, equivocadamente, acham que, se a quantidade for pequena, nada acontecerá. O motorista comenta que é comum que tentem oferecer pratos que contenham glúten. Porém, ele compara as tentações de comer um pouco dessa proteína a consumir um veneno, e lembra que a dieta livre dela é vital para a saúde e bem-estar dos celíacos.
Para Oldair, ter descoberto o que realmente faz mal para ele é motivo para agradecer a Deus. Após a descoberta, o celíaco tem a chance de ter uma vida saudável.
“Por muitas vezes me abati, ficava triste, desanimado. Mas, graças a Deus e com fé no Senhor Jesus, superei e tenho fé que vou ser curado. Assim como eu comungo recebendo o Corpo de Cristo que, teoricamente antes da consagração é o pão, ‘glúten’, e não me faz mal algum, não fico com qualquer sintoma da contaminação do glúten”, conclui ele.
A conscientização sobre a doença celíaca é promovida por organizações como a Associação dos Celíacos do Paraná (Acelpar), que realiza a distribuição de informações confiáveis e no ensino de receitas e dicas sobre alimentos sem glúten. A associação oferece listas de supermercados, receitas personalizadas e uma rede de apoio que ajuda os celíacos a enfrentar os desafios diários.
A médica Danielle de Castro Kiatkoski, gastroenterologista e especialista em doença celíaca, compartilha dicas e cuidados essenciais para aqueles que vivem com a doença. Em caso de contaminação por glúten, ela aconselha a manter a calma, descansar, hidratar-se e optar por alimentos naturais e leves. Assim que possível, o contato com um médico é fundamental para receber orientações específicas.
“É muito importante que a gente aprenda com os nossos erros. Então, se eu me contaminei porque acreditei que naquela reunião familiar conseguiriam me proporcionar uma deita livre de glúten e de contaminação cruzada, e agora eu descobri que não, então eu aprendi que na próxima eu tenho que levar meu alimento”, orienta.
A Dra. Danielle também recomenda o rastreamento familiar, uma vez que a doença celíaca tem uma base genética e o diagnóstico tardio pode levar a sérias complicações.
Andressa, esposa de Oldair, compartilhou uma receita especial. Ela aprendeu a cozinhar sem utilizar glúten para garantir a qualidade de vida do marido.
A doença celíaca é uma condição que pode se manifestar de várias maneiras, incluindo diarreia, prisão de ventre, perda de peso, dor abdominal, excesso de gases e fadiga. Em crianças, os sintomas podem incluir atraso no desenvolvimento, vômitos e barriga inchada. A condição também pode ter apresentações não clássicas, que incluem manifestações gastrointestinais ou não.
É importante diferenciar a intolerância ao glúten da doença celíaca. A intolerância ao glúten envolve dificuldades na digestão do glúten, mas não desencadeia reações autoimunes. Por outro lado, a doença celíaca envolve uma resposta imunológica que causa lesões intestinais permanentes, mesmo após a remoção do glúten da dieta.
O diagnóstico da doença celíaca é realizado por gastroenterologistas ou clínicos gerais, que avaliam sintomas, histórico familiar e conduzem exames específicos, como teste genético, endoscopia e exames de sangue.
Já o tratamento envolve a exclusão rigorosa de alimentos que contêm glúten, como trigo, centeio, malte e cevada, da dieta. Suplementos nutricionais podem ser necessários para compensar deficiências e o uso de medicamentos é reservado para casos específicos.
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