No início do século XVII, um jesuíta italiano chamado Matteo Ricci embarcou em uma jornada extraordinária para a China Imperial. Ele se tornaria uma figura notável na corte do Imperador Wanli, deixando um legado duradouro que transcenderia fronteiras geográficas e religiosas. A história de Matteo Ricci é um exemplo do encontro entre duas culturas distintas e do poder do diálogo intercultural.
Nascido em Macerata, Itália, em 1552, Matteo Ricci ingressou na Companhia de Jesus e mostrou um interesse especial pela China. Em 1582, após um longo e árduo percurso, Ricci finalmente chegou a Macau, uma colônia portuguesa no sul da China. Com sua habilidade linguística e adaptabilidade cultural, rapidamente se destacou entre os missionários jesuítas na região.
O grande desejo de Matteo Ricci era levar a mensagem do cristianismo aos chineses, mas percebeu que isso exigiria uma compreensão profunda da cultura e da tradição chinesas. Assim, Ricci dedicou-se ao estudo do chinês clássico, da filosofia confucionista e dos costumes locais. Tornou-se um mestre na língua chinesa e um erudito respeitado. Podemos dizer que, assim como Santo Agostinho e São Tomás fizeram uma síntese das filosofias de Platão e Aristóteles com o cristianismo, Ricci fez a síntese entre a filosofia de Confúcio e os princípios da fé Católica.
Em 1601, ele se estabeleceu em Pequim, a capital imperial, onde foi apresentado à corte do Imperador Wanli. Sua inteligência e perspicácia impressionaram o imperador, que lhe concedeu acesso à corte. Ricci tornou-se conselheiro do soberano, ensinando-lhe matemática, astronomia e geografia ocidentais, bem como princípios morais e éticos cristãos.
A presença de um jesuíta na corte imperial era algo inédito e intrigante. Ricci aproveitou essa oportunidade única para disseminar os ensinamentos cristãos entre os membros da elite chinesa, muitos dos quais se tornaram seus amigos e seguidores. Ganhou a confiança e o respeito dos chineses ao adotar a cultura local, vestindo-se como um erudito chinês e adotando os costumes da corte.
O legado de Matteo Ricci na China é imenso. Sua abordagem de diálogo e respeito pela cultura chinesa abriu caminhos para a aceitação do cristianismo no país, algo que foi lembrado pelo Papa Francisco em sua audiência geral de 31/05/2023:
“O espírito missionário de Matteo Ricci constitui um modelo vivo atual. O seu amor pelo povo chinês é um modelo; mas o que representa uma estrada atual é a sua coerência de vida, o testemunho da sua vida como cristão. Ele levou o cristianismo à China; ele é grande porque é um grande cientista, ele é grande porque é corajoso, ele é grande porque escreveu muitos livros, mas sobretudo é grande porque foi coerente com a sua vocação, coerente com aquela vontade de seguir Jesus Cristo. Irmãos e irmãs, hoje nós, cada um de nós, perguntemo-nos no íntimo: sou coerente, ou sou um pouco assim-assim?”
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.