Urbanismo verde no combate às enchentes como uma resposta às mudanças climáticas

Urbanismo verde no combate às enchentes como uma resposta às mudanças climáticas Parque Barigui, Curitiba (PR). Foto: Daniel Castellano / reprodução SMCS

Com o agravamento das mudanças climáticas, o Brasil tem enfrentado sérios desafios relacionados às chuvas intensas e enchentes. Os arquitetos Felipe Guerra e Débora Ciociola, do Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA), defendem que, além dos “piscinões”, que acumulam o excesso de água, cidades podem adotar soluções urbanísticas multifuncionais que integrem a natureza ao planejamento urbano, de forma a contribuir para o escoamento das águas pluviais e oferecer espaços de lazer à comunidade.

De acordo com esses profissionais, implementar sistemas integrados de drenagem, como jardins, áreas permeáveis, parques e lagoas artificiais, é essencial para lidar com o escoamento das chuvas. Um exemplo é o Parque Barigui, em Curitiba (PR), que foi projetado para conter o excesso de água do rio Barigui e evitar que invadisse áreas residenciais.

Curitiba é um destaque brasileiro no assunto por planejar parques em locais estratégicos para absorver a água das chuvas. O futuro parque linear no Bairro Novo do Caximba é um exemplo dessa abordagem, que se alinha à ideia de “cidade-esponja”. Esse conceito visa utilizar infraestrutura verde, como jardins e canteiros que realizam micro drenagem, combinados com parques e lagoas que têm funções de macrodrenagem, canalizando as águas pluviais de forma eficiente.

Enquanto a macrodrenagem envolve a gestão de grandes volumes de água em áreas extensas, a partir da criação de bacias de detenção associadas a parques urbanos, a microdrenagem se concentra em superfícies menores, como ruas e calçadas, utilizando técnicas como pavimentação permeável.

Assim, a infraestrutura verde permite a infiltração da água no solo e reduz o escoamento superficial, assim como filtra poluentes, o que melhora a qualidade da água que chega aos corpos hídricos. Essas abordagens, segundo os arquitetos Felipe e Débora, são mais adaptáveis às mudanças climáticas e capazes de lidar com chuvas intensas.

Entretanto, a implementação de infraestruturas verdes enfrenta desafios. Embora o custo inicial possa ser elevado, os benefícios a longo prazo, como custos operacionais reduzidos e menor necessidade de manutenção, justificam o investimento. Além disso, a manutenção dessas áreas verdes requer uma abordagem integrada, que envolva a colaboração entre governos, comunidades e setor privado. A educação ambiental e o engajamento comunitário são fundamentais para garantir a sustentabilidade dessas soluções a longo prazo.

Cidades-esponja pelo mundo

Diversas cidades ao redor do mundo já adotaram o conceito de cidade-esponja, como Berlim, na Alemanha, Copenhague, na Dinamarca e Nova Iorque, nos EUA. Foi na cidade de Jinhua, na China,  que o conceito surgiu, onde a inovação foi criar o parque Yanweizhou, projetado para absorver as chuvas de monção. Com 26 hectares, o parque restaurou funções ecológicas e possui a capacidade de suportar eventos climáticos em um intervalo de até 200 anos. Por meio de margens naturalizadas, o projeto retém e infiltra as águas, criando um ecossistema que abriga biodiversidade e promove a filtragem das águas.

Parque Yanweizhou no período da seca: equipamento urbano de lazer e turismo./Foto: reprodução.

Parque Yanweizhou na época das chuvas de monção: ajuda para conter enchentes./Foto: reprodução.

Os benefícios para uma cidade-esponja podem ser maiores que ajudar a reduzir enchentes. Adotar projetos desse tipo pode contribuir para:

  • melhoria da qualidade da água;
  • promoção da biodiversidade;
  • melhoria do microclima;
  • proporcionar espaços recreativos e de lazer para a população.

Iniciativas brasileiras

Ainda não há uma cidade-esponja completa no país. Porém, Belo Horizonte (MG), Niterói (RJ) e São Paulo (SP) já adotaram técnicas baseadas nessa ideia. Em Curitiba, a solução para drenar e armazenar as águas das chuvas já existe há muito tempo, desde o surgimento do Passeio Público no centro da capital paranaense, no ano de 1886. Além do Barigui, parques como São Lourenço. Bacacheri, Tingui e Atuba também desempenham essa função.

Essas intervenções paisagísticas reduzem os impactos de inundações e oferecem benefícios sociais e econômicos, como atrair visitantes e aumentar a qualidade de vida dos moradores. O sucesso do Yanweizhou, com uma média de 40 mil visitantes diários, demonstra como o urbanismo verde pode transformar áreas degradadas em espaços interessantes e convidativos, que conectam a cidade e promovem resiliência climática.

As cidades podem se tornar mais resilientes e enfrentar os desafios das mudanças climáticas com ambientes mais saudáveis e sustentáveis para seus habitantes.

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