O enfrentamento ao vício em drogas e ao alcoolismo é um desafio complexo. Sabemos que aceitar e compreender o próprio diagnóstico é uma das grandes dificuldades para aqueles que enfrentam essas doenças. Nesses casos, é muito comum ouvirmos que os laços familiares também são profundamente afetados e, por vezes, até rompidos.
Isso acontece porque, muitas vezes, a própria base familiar não possui conhecimento profundo sobre a doença. Além disso, não tem estrutura emocional para o suporte necessário a ela mesma e ao familiar doente.
E, nesses momentos, às vezes, nos questionamos se apenas o amor seria suficiente para cuidar, salvar, curar. Qual o limite possível para ajudar o familiar doente? Até onde posso ir para contribuir com sua melhora? Tenho preparo emocional para, de fato, ajudar?
São muitas as perguntas que surgem em meio à angústia daqueles que veem alguém que amam sofrer ou destruir-se com uma doença devastadora como o alcoolismo, por exemplo. O pontapé inicial de tudo, no entanto, pode ser uma mudança de olhar e na forma de compreender a situação.
“O modo mais assertivo da família agir é compreender que aquela pessoa tem uma doença, mas ela não é a doença. Essa separação do que é da doença e do que é do ser humano ajuda muito nessa construção”, pondera Catarina (que teve o nome verdadeiro preservado por causa do anonimato dos membros de AA – Alcoólicos Anônimos).
“Somos uma associação de parentes e amigos de alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança, para solucionar os problemas que têm em comum. Nós acreditamos que o alcoolismo é uma doença que atinge a família e que uma mudança em nossas atitudes pode ajudar na recuperação”, acrescentou.
Nesse processo, também existe o grupo Al-Anon (que ajuda familiares a tratar da doença emocional que o alcoolismo de alguém provoca). O grupo explica que ajudar se divide em dois saberes.
O primeiro trata do conhecimento da doença, da natureza dela. “É uma doença esquisita em que um gole é muito e mil goles não bastam. É incurável e fatal, portanto, somente a abstinência total pode ajudar o alcoólico a recuperar sua qualidade de vida”, cita Catarina.
O segundo saber está relacionado ao que vem do coração, a disposição pessoal de cada um em ajudar e, a partir dessa decisão, buscar meios para isso.
“Precisamos lembrar que a doença é física, mental, emocional, progressiva, incurável e fatal e que eu só conseguirei ajudar se eu estiver com alguma saúde. Existem alguns métodos e aprendizados que nos levam ao desligamento emocional com o amor, que é ser capaz de ajudar, sem adoecer. Ninguém dá o que não tem, então, a saúde mental primeiro precisa ser procurada em mim, e com minha saúde mental preservada, eu serei capaz de ajudar aquele que possa desejar ou precisar de ajuda”, explica Catarina.
Identificar o momento certo de pedir ajuda é uma etapa variável, mas muito importante. Postergar ou ignorar os sinais agrava e potencializa a dor do processo. “Alcoolismo é uma doença que mata desmoralizando porque o alcoólatra nega, a família esconde e a sociedade repudia, então, é preciso trazer para a luz”, aconselha.
Assim, embora haja uma ampla acolhida em grupos específicos ou espaços especializados, o processo de melhoria só ocorre quando existe aceitação e vontade própria do paciente.
“Eu costumo dizer que essa porta só abre por dentro”, compartilha.
E é exatamente esse o único requisito solicitado pelo AA: o desejo de parar de beber. Não há taxas, nem mensalidades. No Paraná, por exemplo, são 16 cidades com grupos de atendimento, cujos endereços e contatos podem ser consultados aqui. Mas em todo o Brasil são centenas de grupos ajudando pessoas em diferentes situações.
“O AA é um doente tratando outro doente, assim estamos há 78 anos no Brasil, salvando vidas. Fazemos isso em divulgações, reuniões regulares, grupos com reuniões online e presenciais, todos os dias, a qualquer hora. Existe outro acolhimento que se faz de um a um, para ajudar mais uma pessoa a ter uma vida útil, livre e feliz”, afirmou Catarina.
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