Atenção, respeitável público: qual a relação do Dia do Mágico com a Igreja? Poucas pessoas sabem, mas a data é inspirada em um Santo muito popular e próximo dos jovens: São João Bosco.
A conexão, porém, tem como base a vida do Santo. Quando ele era adolescente, usava práticas de ilusionismo e malabarismos como entretenimento para as pessoas e, assim, ajudava a família com sua renda, além de levar alegria às pessoas. Por isso, a data de homenagens aos mágicos (31 de janeiro) é exatamente na data de falecimento de São João Bosco, quando a Igreja celebra a sua festa litúrgica.
O padroeiro dos jovens e também dos mágicos viu como aquelas práticas e brincadeiras eram capazes de atrair a atenção das pessoas e, assim, passou a incorporá-las na sua maneira de trazer mais jovens para perto de Deus. Essas histórias curiosas do “Pai e Mestre da Juventude”, como é conhecido, foram contadas em um de seus 150 livros, com muito bom humor, que lembram sua vida cheia de amor a Deus e aventuras.
O Sacerdote italiano e presbítero foi o fundador dos Salesianos. Como contam os Boletins Salesianos, para educar, evangelizar e atrair a atenção dos jovens, o Santo tinha uma didática diferenciada. A arte do ilusionismo estava entre as suas formas de expressão de liberdade, de convite à amizade e de valorização da pessoa.
“A mágica foi a primeira demonstração de amor para com a juventude. O objetivo de João Bosco era fazer com que houvesse interesse por suas mensagens e, assim, os jovens fossem atraídos para a igreja, a escola ou para uma conversa edificadora. Ele tinha um espírito eminentemente contagiante, uma pedagogia dinâmica, em ação. E as pessoas se apaixonavam por ele e por suas ações”, registram os Boletins.
Com leveza, o próprio Santo conta uma das suas histórias e a suspeita de que essas ilusões e brincadeiras não eram “coisa de Deus”. Veja este texto que faz parte do livro “Aventuras de São João Bosco”, da série Cultura Religiosa. Ao ficar sabendo das peripécias do jovem João, um Cônego o chamou para conversar:
“Esse Cônego era muito instruído, piedoso e prudente; sem dizer nada a ninguém, chamou-me para uma conversa pessoal. Cheguei à sua casa no momento em que ele rezava o Breviário. Olhando-me sorridente fez sinal para que esperasse um pouco. Por fim, me disse que o seguisse até a salinha e, uma vez ali, começou a me interrogar de modo cortês, mas com aspecto severo:
– Estou muito contente, meu filho, com a tua aplicação e com a conduta que tiveste até agora; mas tenho ouvido comentários a teu respeito… Dizem que descobres pensamentos alheios, que advinhas o dinheiro que os outros têm no bolso, que fazes ver branco o que é preto, que conheces fatos que se passam longe de ti, e outras coisas do gênero. Por isso falam muito de ti e já houve quem suspeitasse de que tu te serves de bruxedos, que satanás tem parte no que fazes… Conta, pois, quem te ensinou essa ciência. Onde a aprendeste? Diz tudo em confiança: eu te asseguro que não me servirei disso senão para o teu bem.
Sem me perturbar em nenhum momento, pedi-lhe cinco minutos de tempo para responder. E o convidei a que me dissesse a hora exata. Enfiou a mão no bolso e não encontrou o relógio.
– Se o senhor não tem relógio, acrescentei, dê-me uma moedinha de cinco centavos.
– Patife! Gritou furioso, ou tu serves ao demônio ou é o demônio que te serve a ti! Roubaste-me a carteira e o relógio! Agora já não posso ficar calado, sou obrigado a te denunciar, e ainda não sei como me contenho para não te dar aqui mesmo uma sova!
Mas, vendo que eu estava tranquilo e sorridente, acalmou-se um pouco e disse:
– Vamos com calma, explica direito esses mistérios: como foi que o relógio e a carteira saíram do meu bolso sem eu perceber? Onde é que eles foram parar?
– Senhor Cônego, comecei a dizer respeitosamente, vou explicar em poucas palavras: tudo não passa de habilidade manual, ou conhecimento prévio, ou coisa preparada.
– Mas que conhecimento prévio pode haver com o meu relógio e a minha carteira?
– Já explico: ao chegar à sua casa, o senhor estava dando uma esmola a uma pessoa necessitada, e por distração deixou a carteira sobre o móvel. Ao passar em seguida a outro aposento, deixou o relógio sobre a mesinha. Eu escondi os dois, e enquanto o Sr. pensava que levava os objetos, eu os coloquei debaixo daquela toalha.
E, dizendo isto, levantei a toalha e efetivamente apareceram os dois objetos que ele supunha terem sido levados pelo demônio.
O bom Cônego deu uma risada e quis que eu realizasse na frente dele alguns outros truques desses. Quando soube o modo como eu fazia, aparecer e desaparecer as coisas, ficou muito contente, me deu um presentinho e concluiu assim:
– Vai e diz a teus amigos que ignorantia est magistral admirationis (a ignorância é a mestra da admiração).”
São João Bosco nasceu em Turim, na Itália, em 1815. Aos dois anos, perdeu seu pai e sofria com a violência do irmão. Ainda jovem, desejou ser Sacerdote. Sua mãe, uma mulher humilde e de muita fé, o inspirou no testemunho de uma vida religiosa. Em 1835, entrou para o Seminário e, em 1841, foi ordenado.
Anos mais tarde, em 1859, com ajuda do Papa Pio IX, fundou a Congregação dos Salesianos. Sob proteção de São Francisco de Sales, o espaço atendia jovens. Em catequeses e orientações, conseguia chegar à juventude de uma maneira lúdica e diferente. E essa dedicação rendeu a ele a proximidade com os jovens até os dias atuais.
Dom Bosco era um homem muito carismático. Por ter sido um jovem com desafios e muitas dificuldades, sabia da necessidade dos mais novos e do poder da fé na vida deles. A relação tão presente na evangelização foi um marco para muitos que viviam ao lado dele e que seguem seus exemplos até hoje. Inclusive, no centenário de sua morte, São João Paulo II o declarou “Pai e Mestre da Juventude”.
Ele encontrava a felicidade e a esperança nas pequenas coisas, dava valor a gestos simples e demonstrações de afeto e cuidado.
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