Se você é uma pessoa que acompanha as redes sociais, deve ter visto que circulou recentemente uma postagem que fez sucesso ao questionar diretamente: “Você consegue se apresentar sem dizer sua profissão?”
A publicação trazia o criador da psicanálise, Sigmund Freud, e sua compreensão de que o trabalho é um dos dois pilares fundamentais da nossa subjetividade. O outro seria o amor.
Se você, ao ler a indagação da postagem, refletiu e demorou para conseguir pensar em como se identificar sem seu perfil de trabalho, atenção: você pode estar ultrapassando os limites de uma relação saudável com sua profissão e, por isso, esse texto tem uma mensagem especial e necessária para você.
A resposta é que, provavelmente, não. Mas, isso não quer dizer que precisamos estar 100% realizados ou dedicados ao trabalho para alcançarmos a felicidade ou o sucesso social.
Conforme a psicóloga Maria Dziecinny, hoje, muitos indivíduos buscam constantemente a aceitação social, entendendo-a como parte da felicidade. Nesse processo, o sucesso profissional surge como um validador para esse aceite.
“Em uma tentativa de ser aceito, respeitado e aprovado pela sociedade e por familiares, ele faz do trabalho um meio para essa aprovação. Ele passa do esforçado, que é algo positivo, para algo disfuncional”, afirma Maria.
É nessa relação não saudável e negativa que surge o conceito de workaholic, ou seja, pessoas viciadas em trabalho. E aqui, é importante citar que assim como qualquer outro vício, não se trata de algo benéfico.
“Uma das diferenças básicas entre o workaholic e o esforçado é que o primeiro tem foco na tarefa, ele é aquela pessoa muito atarefada, ocupada, sempre atrasada e que tem necessidade/ vício nessa ocupação. Já a pessoa esforçada e focada no resultado. Ela não trabalha menos, mas o resultado dela é mais eficiente. Ela sabe seu propósito e faz o que for necessário para entregar esse resultado. Ela se interessa mais pelo resultado do que por estar fazendo uma tarefa, por ser ocupada ou com agenda cheia”, detalha a profissional.
A psicóloga chama a atenção para uma compreensão confusa que essas pessoas estabelecem como determinante: ocupação exagerada como base para o sucesso profissional. “É preciso lembrar que o fato de estarmos sempre ocupados, não é sinônimo de produtividade”, alerta.
Historicamente, esse é um pensamento bastante enraizado e presente em discursos que passam de geração em geração, por isso, possuem tanta força. São reforçadores, encorajadores do trabalho em excesso, que existem desde os primórdios da sociedade.
“Sempre ouvimos que fulano ou ciclano conseguiu tal coisa porque é muito trabalhador ou que a pessoa tem tal coisa hoje, mas ninguém sabe o quanto ela abdicou de outras, seja de tempo com a família, seja da vida social”, exemplifica a psicóloga.
Nesse discurso, o trabalho assume sempre o lugar de protagonista, o que, socialmente, nos reforça a ideia de sempre trabalharmos mais.
As metas também são discursos aceitos e validadores desse vício ou excesso. Ouvimos muito as justificativas: “ah, ele está trabalhando porque quer comprar uma casa ou um carro”. Para a psicóloga, esse é um discurso, além de não saudável, também perigoso do ponto de vista emocional.
“O indivíduo que se vê muito no trabalho, acaba não olhando para si. Ou seja, ele camufla questões de vida pessoal e busca aprovações no trabalho, como se o valor dele enquanto ser humano, estivesse diretamente ligado a quanto ele trabalha”, alerta Maria.
É preciso ter em mente que somos muitas coisas e o trabalho é apenas uma delas. De modo algum, ele pode limitar ou definir quem somos. Se você, em sua rotina, se percebeu nas características apontadas pela psicóloga, aqui vão algumas dicas de como combater o vício no trabalho e buscar ressignificar essa sua relação:
No livro de Lucas, Jesus questiona: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?” (Lucas, 9.25)
O trabalho é uma benção para a família e permite que as dificuldades sejam afastadas. Papa Francisco fala que ele faz parte da Obra de Salvação do Senhor. Assim, não pode fazer mal aquele que o cumpre.
“A família é um grande teste. Quando a organização do trabalho a tem como refém, ou até mesmo obstruir o seu caminho, então estamos certos de que a sociedade humana começou a trabalhar contra si mesma!” (Papa Francisco, 19 de agosto de 2015, São Paulo VI, Vaticano).
Como saber se escolhi a profissão certa?
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