Foto: Pastoral da Criança
Desde 1983, a Pastoral da Criança atende milhares de crianças brasileiras. Por isso mesmo, em 2007, foi sancionada a Lei 11.583, que institui o dia 5 de dezembro como o dia dessa importante Pastoral. Além disso, a mesma data celebra o Dia Internacional do Voluntário. A Pastoral atua em todo o Brasil, auxilia mais de 360 mil crianças e 18 mil gestantes e suas famílias. Ao todo, mais de 42 mil voluntários atendem e melhoram as condições das crianças durante a primeira infância. Certamente, ao falar da Pastoral da Criança, um nome é lembrado: Zilda Arns. E você conhece a história dela?
Zilda nasceu em 1934, no município de Forquilhinha, Santa Catarina. Teve 12 irmãos e alguns deles seguiram a vocação religiosa e sacerdotal. Zilda, no entanto, seguiu para a carreira da saúde, se formou em medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pediatra de formação, também se especializou em sanitarismo e educação física.
Atuou como médica em Curitiba, bem como no planejamento e organização dos postos de saúde da periferia da capital paranaense. Em 1980, foi convidada pelo cientista Albert Sabin para coordenar a campanha de vacinação anti-poliomielite em União da Vitória (Paraná), e a campanha criada por Zilda se tornou modelo utilizado pelo Ministério da Saúde em todo o Brasil.
Em 1983, pouco tempo depois, seu irmão, Dom Paulo Evaristo Arns, em reunião sobre a paz mundial com a Organização das Nações Unidas (ONU), foi convencido que a igreja poderia ajudar a salvar vidas de crianças que estavam morrendo de desnutrição.
Viagem da Dra. Zilda ao Haiti (2010) | Foto: Acervo do Museu da Vida
A pediatra embarcou na missão de ajudar a salvar essas vidas e, com apoio do cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, em 1983, criou a Pastoral da Criança em Florestópolis. A cidade tinha um dos mais altos números de mortalidade infantil (127 crianças em cada mil nascidas).
Em um ano de trabalho da Pastoral, a redução da mortalidade caiu para 28 a cada mil nascidas. E sabe como isso foi possível? Com atitudes que pareciam muito simples: prevenção da diarreia com cuidados de higiene e ensinando a fazer soro caseiro.
Elza Zaramella Gonçalves, coordenadora da Pastoral da Criança da Arquidiocese de Curitiba, explica que Zilda Arns, a partir da de sua experiência com saúde pública, percebeu também que o que faltava às mães era o conhecimento e a solidariedade fraterna.
“Assim não bastava ensinar às mães a usarem o soro oral. Também seria preciso ensiná-las sobre a importância do pré-natal, aleitamento materno, vigilância nutricional, vacinação, desenvolvimento integral das crianças, relações humanas, a fim de que elas soubessem e fossem estimuladas a cuidar melhor de seus filhos para que “crescessem em sabedoria e graça” (Lc 2,52)”, disse.
Zilda em trabalho com a Pastoral. Foto: Pastoral da Criança
Outro fator importante citado por Elza é que Zilda sabia da importância de ajudar quem mais precisava e, seguindo o Evangelho que narra o milagre da multiplicação dos peixes e pães, pensou na Pastoral como uma ferramenta que podia multiplicar os aber e a solidariedade, com o espírito de fé e vida.
“A educação e o estímulo da solidariedade, que as famílias e comunidades recebem da Pastoral da Criança, tem promovido em toda parte a redução da mortalidade infantil e materna, da desnutrição e da violência familiar e levam à inclusão social das famílias, pela democratização do saber”.
“O que me fascina é atestar como a comunidade organizada e com objetivos definidos, aplicando a metodologia do Evangelho, que narra o milagre da multiplicação dos cinco pães e dois peixes que saciaram cinco mil pessoas, é eficiente em realizar ações simples e de baixo custo, capazes de mexer com os mais importantes e reconhecidos indicadores sociais e atrair as políticas públicas para cumprirem o seu papel, na diminuição das desigualdades sociais.” (Trecho de uma carta de Zilda Arns, enfatizando essa relação da Pastoral com o Evangelho).
Para Elza, algumas coisas eram muito claras para Zilda. Uma delas é a importância da comunidade no processo de crescimento das crianças.
“Na convivência com a comunidade, além da partilha de conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania, há doação de tempo, de escuta e a compreensão dos saberes dos outros, das diferenças e particularidades de cada local”.
O sucesso da Pastoral no município do interior do Brasil deu muito certo e passou a ser replicado. Isso porque o sistema de informação conseguia ser entendido pelos líderes comunitários, que passaram a ser agentes de transformação social. A lógica do ensinar e ajudar estão presentes até hoje na filosofia da Pastoral.
E isso foi possível porque a médica pediatra acreditava que promover o desenvolvimento integral das crianças, em larga escala, significava participar de forma decisiva da construção de um mundo mais justo e fraterno, a serviço da vida e da esperança. “E que pessoas da própria comunidade através de uma capacitação poderiam ajudar nisso”, completa Elza.
Zilda Arns em missão no Haiti. Foto: Pastoral da Criança
Incansável lutadora da vida das crianças e das famílias, Zilda nunca parou de trabalhar. No dia 12 de janeiro de 2010, em uma missão internacional no Haiti, acabou morrendo durante um terremoto no país. Mesmo assim, seus ensinamentos permanecem muito vivos nas Pastorais de todo o país.
A coordenadora de Curitiba ressalta que foi ela quem reforçou a necessidade da presença na casa e na vida das famílias mais pobres, especialmente porque essa também é uma manifestação viva de Deus com quem mais precisa.
Hoje, a Pastoral da Criança é ainda maior do que seu início. Dessa forma, os líderes e voluntários que atuam com ela realizam muito mais que as ações cotidianas.
Segundo Elza, o exercício diário da solidariedade, amizade e amor ao próximo são as marcas da Pastoral. É muito mais do que partilhar o conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania. Há ainda a doação de tempo e escuta, troca de saberes e compreensões.
“Por vezes, os líderes e voluntários da Pastoral da Criança são os únicos que entram em casas de difícil acesso e constroem com as famílias uma relação de confiança que é levada para a vida toda. Em outros casos, chamam atenção das autoridades e fazem valer, junto com seus vizinhos, os direitos das crianças e gestantes daquela comunidade, ou para resolver uma situação de dificuldade”, finaliza.
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