Capela de Santa Kinga foi esculpida em sal em uma mina polonesa

Capela de Santa Kinga foi esculpida em sal em uma mina polonesa

Qual o lugar mais inusitado pra construir uma Capela? Uma das construções mais impressionantes do mundo fica na Mina de Sal de Wieliczka, na Polônia, e foi esculpida inteiramente em sal e rocha. Iluminada por lustres cristalinos feitos do próprio mineral e adornada com esculturas religiosas nas paredes, essa Capela subterrânea impressiona. Trata-se da Capela de Santa Kinga, considerada a maior igreja subterrânea do planeta — um santuário onde fé e arte se encontram a 327 metros abaixo da terra.

A grandiosidade do local é imediatamente sentida por quem desce ao seu encontro. Cada detalhe da capela, esculpido pelos próprios mineiros ao longo de décadas, fala sobre devoção. Do piso lustroso talhado em um único bloco de sal às colunas e altares minuciosamente trabalhados: tudo reluz em tons prateados sob a luz difusa dos candelabros de sal, em uma atmosfera mística e acolhedora. 

Ali, a centenas de metros da superfície, predomina uma sensação de paz profunda – como se cada grão de sal contasse a história de orações e esperanças depositadas pelos mineiros ao longo dos séculos. Peregrinos e turistas do mundo todo descem os antigos e longos corredores, prontos para vivenciar o encontro entre a engenhosidade humana e o sagrado. Não por acaso, o conjunto da mina – que inclui capelas – foi reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1978.

 

Séculos de história, arte e devoção

A história da Capela de Sal começa com a própria Mina de Wieliczka, uma das mais antigas do mundo. Exploradas desde o século XIII, essas minas formam um labirinto de mais de 300 quilômetros de túneis que alcançam 327 metros de profundidade. Os mineiros poloneses extraíam o “ouro branco” (como o sal era conhecido) e também cultivavam sua fé: ao longo dos séculos, escavaram diversas capelas nas rochas salinas, criando espaços sagrados para oração e celebração em seu local de trabalho. Dentre todas, a Capela de Santa Kinga, dedicada à padroeira dos mineradores, é a mais conhecida.

A Capela de Santa Kinga foi esculpida em sal pouco a pouco pelos trabalhadores da mina. Geração após geração de mineiros-artistas contribuíram para transformar uma câmara vazia em um templo subterrâneo, trabalho que levou mais de 70 anos para se concretizar. Situada a aproximadamente 101 metros de profundidade dentro da mina, tem 54 metros de comprimento por 18 de largura, com um pé-direito de cerca de 12 metros – dimensões de uma igreja de superfície, porém escondida sob o solo. Cada golpe de picareta nas paredes salinas revelava um novo detalhe: nichos, colunas e arcadas foram surgindo na rocha, esculpidos com paciência infinita pelos mineiros devotos. No centro, ganhou forma o altar principal, e às suas voltas o ambiente ganhou aparência de uma catedral esculpida na pedra de sal.

Imagem de Santa Kinga entre São José e São Clemente (padroeiro dos mineiros)

 

Arte sacra

Um dos aspectos mais impressionantes da Capela de Santa Kinga é a riqueza de detalhes artísticos talhados diretamente no sal. As paredes do santuário exibem baixos-relevos que retratam cenas bíblicas, como a Última Ceia, a Natividade e outros episódios da vida de Jesus, todos moldados na rocha salina. O piso polido, esculpido em um único bloco de sal, reflete a luz de lustres feitos de cristais de sal – cada lustre foi confeccionado a partir de sal dissolvido e recristalizado para formar peças transparentes que se assemelham a cristal. No altar-mor, há estátuas inteiramente esculpidas em sal de Santa Kinga, de São José e de São Clemente, criadas pelo mineiro-artista Józef Markowski.

Sob o altar, estão as relíquias sagradas de Santa Kinga. Até mesmo um grande crucifixo de sal adorna o presbitério – seus braços apontados simbolizam as quatro principais minas de sal da Polônia (Wieliczka, Bochnia, Kłodawa e Sieroszowice).

A devoção cristã está presente em cada canto da capela. Os mineiros de Wieliczka, cientes dos perigos constantes de seu ofício nas profundezas, antes e depois de longas jornadas de trabalho, se reuniam nesse espaço para rezar e celebrar Santas Missas, buscando proteção e conforto espiritual. Até hoje, Santas Missas solenes são ocasionalmente realizadas no local – aos domingos e datas festivas.

Esculpidas em sal, estátuas reproduzem o momento em que um mineiro encontra o anel de noivado da princesa húngara e o entrega de volta a Santa Kinga

A própria Santa, princesa húngara que se tornou esposa do príncipe polonês Boleslau V no século XIII, é central nesse contexto de religiosidade. Ela teria lançado seu anel de noivado em uma mina na Hungria e, milagrosamente, o mesmo anel foi encontrado dentro de um bloco de sal extraído em Wieliczka – sinal divino que revelou os ricos depósitos de sal na região. Santa Kinga foi canonizada em 1999 pelo Papa João Paulo II e é venerada como padroeira dos mineradores e da Polônia. Uma estátua de sal do Pontífice, inclusive, foi colocada na capela em sua homenagem – a única estátua de um Pontífice esculpida inteiramente em sal no mundo.

Por tudo isso, não surpreende que a Mina de Wieliczka e a Capela de Santa Kinga sejam hoje um dos destinos turísticos mais visitados da Polônia. Desde que as operações comerciais de extração cessaram em 1996, o local se consolidou como um museu vivo e espaço cultural. Mais de um milhão de visitantes por ano vão ao local. A experiência da visita é conduzida por guias, que levam os visitantes por meio de uma rota de aproximadamente 3 quilômetros (cerca de 2% de toda a extensão da mina) repleta de câmaras enormes, lagos salgados cintilantes e esculturas históricas. O ponto alto do percurso, inevitavelmente, é a Capela de Santa Kinga — ao entrar, muitos turistas ficam maravilhados e em silêncio reverente, como se estivessem em uma catedral gótica, esquecendo por um momento que tudo ao redor não é pedra comum, mas sal-gema.

Estátua de sal do Papa São João Paulo II

Além das visitas turísticas diárias, o complexo subterrâneo de Wieliczka serve de palco para eventos e celebrações especiais. Concertos de música clássica já foram realizados no interior da capela. O espaço também pode acolher casamentos e outras cerimônias privadas, transformando sonhos em realidade sob os lustres de sal que iluminam noivos e convidados. Não menos importante, a mina abriga um sanatório terapêutico; em profundidades onde o ar é puro e saturado de micronutrientes do sal, pessoas com problemas respiratórios buscam alívio e tratamento natural.

No lugar já passaram personalidades como Nicolau Copérnico, Johann Goethe, Frédéric Chopin e até mesmo Karol Wojtyła (antes de se tornar São João Paulo II).

Santa Kinga (ou Cunegunda) é a padroeira da Polônia e da Lituânia (desde 1695) e sua data litúrgica é celebrada em 24 de julho.

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