Por Gustavo Beghetto Dias Supervisão Maíra Gioia
O mês de maio é marcado pelo Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia (12/05). Segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), cerca de 3% da população brasileira convive com a doença, que causa dor constante por todo o corpo e prejudica a qualidade de vida. No passado, a síndrome chegou a ganhar grande notoriedade com o caso da cantora norte-americana Lady Gaga, que precisou cancelar seu show no Brasil em 2017 por conta de crises de dor causadas pela condição.
Eduardo Paiva, médico reumatologista. Foto: Arquivo Pessoal
A pedido do portal IDe+, a Agência Escola entrevistou o reumatologista Eduardo Paiva, especialista em fibromialgia que atua no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), para esclarecer as principais dúvidas sobre a doença.
EP | A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica generalizada causada por um aumento de sensibilidade. Ela é uma condição crônica e generalizada, atinge o corpo todo. Não é a única doença que causa dor generalizada no corpo, mas é uma das mais comuns.
EP | A fibromialgia é uma síndrome em que a pessoa fica mais sensível à dor por conta de uma alteração no sistema nervoso central e periférico. Nosso sistema nervoso funciona à base de sinais elétricos, e essa eletricidade é modulável, então as pessoas que têm fibromialgia recebem sinais elétricos mais fortes. Nós ainda não temos muita certeza do porquê disso acontecer, e tem vários “caminhos” que levam a essa condição. Algumas pessoas começam com uma dor mais localizada que depois se espalha, outras já começam com dor no corpo inteiro. Outras desenvolvem depois de infecções, traumas psicológicos, ou ao longo dos anos. O que elas têm em comum é essa sensibilidade aumentada e a dor generalizada, que é principalmente uma dor muscular.
EP | A fibromialgia nos ensinou bastante coisa, porque estávamos acostumados a tratar dor com analgésicos, anti-inflamatórios… Mas com ela isso não funciona, porque é um tipo bem diferente de dor, em que não existe lesão. Com o tempo, a gente descobriu que os grandes tratamentos para esse aumento de sensibilidade são não-medicamentosos. De longe, o exercício físico aeróbico é o que mais funciona. Praticando 150 ou mais minutos de exercício por semana, é possível reverter parte dessa sensibilidade. Alongamentos também são importantes, por conta da contratura muscular que a condição causa. A pessoa com fibromialgia não pode se dar ao luxo de não se exercitar. Pode ser que doa, que seja difícil no começo, mas é aí que entram os remédios, para poder dar conforto ao paciente na prática desses exercícios.
Além disso, é muito importante entender a doença, porque ela não aparece nos exames laboratoriais, mas a dor é real. E a terceira coisa que é importante também é a psicoterapia, pois o aumento de estresse por se ter uma dor crônica pode piorar a própria dor crônica. As medicações não funcionam tão bem quanto nos tipos de dor que têm inflamação, mas nós receitamos alguns analgésicos, antidepressivos com ação analgésica e algumas medicações usadas na neurologia para dor dos nervos, combinando com o paciente com qual ele se sente melhor. Mas é sempre importante que ele entenda que o remédio deve servir o propósito dele fazer mais atividade física.
EP | As mulheres são muito mais acometidas, é uma proporção de quase 9 para 1, geralmente na faixa de idade entre 30 e 40 anos. Existem pessoas que desenvolvem fibromialgia mais jovens ou mais velhas, mas geralmente é na meia-idade. Não sabemos muito bem o porquê das mulheres serem mais suscetíveis. A gente sabe que nas espécies de seres vivos as fêmeas têm maior sensibilidade à dor, mas no caso da fibromialgia não parece ser hormonal, visto que ela pode ser desenvolvida mesmo após a menopausa, e que também temos casos em homens.
EP | O principal sintoma é a dor generalizada. Uma dor assim é difícil que seja por tendinite, bursite ou artrite porque geralmente essas doenças afetam poucas articulações. Toda pessoa que tem dor no corpo inteiro deve procurar, de preferência, um reumatologista, porque ele vai conseguir fazer a diferenciação da fibromialgia, ou de lesões simultâneas em várias articulações, o que também pode acontecer. O mais importante é saber que não é normal ter dor no corpo inteiro o tempo todo.
Na fibromialgia existem também alguns sintomas que podem ajudar no diagnóstico, como sono não-reparador, cansaço, alteração de memória, de humor. Ao mesmo tempo, outras doenças também podem causar isso, então é preciso sempre uma avaliação completa.
EP | A melhor prevenção é o exercício regular. Além disso, evitar o estresse e praticar uma boa higiene do sono, com horários regulados e evitando práticas que possam prejudicar a qualidade do sono são outras práticas importantes que podem evitar a fibromialgia.
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