Quem foi o “Padre Voador”, que entrou para a história como primeiro inventor do Brasil?

Quem foi o “Padre Voador”, que entrou para a história como primeiro inventor do Brasil? Padre Bartolomeu Gusmão demonstra seu experimento ao Rei de Portugal e à corte./Foto: Wikimedia Commons

Um padre brasileiro tentou fazer o ser humano voar mais de 70 anos antes dos irmãos Montgolfier e quase dois séculos antes de Santos Dumont? No Dia do Inventor, celebrado em 4 de novembro, a história de Bartolomeu Lourenço de Gusmão volta a ser destaque, principalmente para mostrar que fé e ciência não precisam caminhar separadas.

Natural de Santos (SP), em 1685, Bartolomeu foi sacerdote, estudioso de matemática, física, hidráulica e mecânica, e o primeiro inventor oficialmente reconhecido nascido em território brasileiro. Ainda jovem, deixou o Brasil para estudar em Coimbra e, aos 22 anos, obteve em Portugal a primeira patente que se tem registro para um brasileiro: uma máquina elevatória de água destinada ao abastecimento urbano, que foi um marco em plena era colonial.

O que realmente o eternizou na memória popular e rendeu o apelido de “Padre Voador” foi sua tentativa ousada de construir uma máquina de voar. Em 1709, diante da corte portuguesa, ele apresentou um protótipo de aeróstato movido a ar quente, mais tarde apelidado de Passarola. A invenção impressionou o rei D. João V e fez de Gusmão um pioneiro da aeronáutica, muito antes do surgimento dos balões tripulados que só apareceriam em 1783. A demonstração rendeu fama e também resistência, já que alguns setores da época classificavam sua invenção como “obra mágica” ou “perigosa demais”.

O inventor que era também padre

Diferentemente da imagem moderna que separa fé e ciência, Gusmão testemunhava o contrário. Era possível servir à Igreja e à inteligência humana ao mesmo tempo. Ordenado sacerdote, ele via a razão como um dom de Deus a serviço do bem comum, uma ideia presente em diversos escritos científicos da época. Seu talento o aproximou de nobres, universidades, diplomatas e pesquisadores, e o tornou uma figura respeitada no campo da física experimental.

Fontes históricas mostram ainda que Bartolomeu não buscava a invenção apenas como curiosidade, mas com sentido social. Seu projeto da Passarola, segundo estudos do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), pretendia possibilitar o transporte rápido de pessoas e mensagens, evitando naufrágios e encurtando distâncias, algo impensável no início do século XVIII.

Além da Passarola, o padre de origem brasileira ainda foi o criador da bomba elevatória que tornou possível abastecer a caixa d’água de um colégio de padres que ficava 100 metros acima do nível do mar. Também inventou um sistema que esvaziava o porão de naus que atravessavam o Oceano Atlântico a partir do próprio jogo das marés. Com o sistema, seria possível evitar naufrágios, uma vez que a maioria deles acontecia devido ao excesso de água que invadia o compartimento das embarcações. E, no período que passou na Holanda, criou um sistema de lentes para assar carne ao sol.

Monumento a Bartolomeu Lourenço de Gusmão em Santos (SP)

Ele não foi compreendido por seus inventos, além de outras intrigas da corte, e começou a ser acusado pela Inquisição. Então, iniciou uma viagem para não ser preso e torturado até a morte. Passou por lugares incertos, até chegar à cidade de Toledo, na Espanha, onde morreu no dia 18 de novembro de 1724. Em 2004, após um acordo que envolveu a diplomacia brasileira e a Igreja Católica, seus restos mortais foram trazidos de volta para o Brasil e hoje se encontram na cripta da Catedral da Sé, em São Paulo.

Outro detalhe importante: Bartolomeu viveu antes da formação do Brasil independente, mas já pertencia a esta terra culturalmente e espiritualmente. Pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) o chamam de “primeiro cientista brasileiro documentado”.

No lugar de ver a ciência como ameaça, Bartolomeu a viveu como vocação. Seu trabalho aponta para uma verdade que o Papa Francisco também recorda em Laudato si’: o conhecimento só é completo quando está a serviço da vida. Inventar pode ser continuar a missão de criar e colaborar com Deus.

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