A história de São Francisco de Assis tem um capítulo decisivo que aconteceu em Roma, na Basílica de São João de Latrão, a catedral do Papa e a igreja-mãe da cristandade. Foi ali que, em 1209, Francisco e seus primeiros companheiros buscaram a aprovação da forma de vida que estavam adotando: seguir o Evangelho literalmente, vivendo em pobreza, fraternidade e missão.
Em princípio, o grupo foi recebido com desconfiança. Francisco não era religioso formado nem pertencente a uma ordem existente. Era um jovem que tinha renunciado à riqueza da própria família para viver como “pobre de Cristo”. Seus companheiros vestiam uma túnica simples feita de burel, andavam descalços e não possuíam bens.
O Papa daquele tempo, Inocêncio III, era um dos pontífices mais influentes da Idade Média, empenhado em restaurar a credibilidade e a disciplina da Igreja. Quando os cardeais viram Francisco, estranharam, pois o modo de vida que propunha parecia radical demais para ser aprovado.
Segundo as fontes franciscanas (como Tomás de Celano), algo aconteceu antes da decisão final. O Papa teria sonhado com a própria Basílica de Latrão prestes a desabar, sustentada apenas por um homem pobre, franzino e vestido com a mesma túnica que Francisco usava. No encontro oficial, Papa Inocêncio reconheceu nele o homem do sonho e deu a Francisco a aprovação oral para que ele e seus irmãos pregassem o Evangelho.
A autorização não era ainda uma regra definitiva, mas foi o que marcou o início da Ordem dos Frades Menores dentro da Igreja. Para os cristãos do século XIII — e ainda hoje — esse episódio simboliza que Deus escolhe os pequenos para renovar a Igreja desde dentro, e não contra ela. Francisco não reformou a Igreja por protesto, mas por conversão.
Embora o sonho do Papa seja parte da tradição franciscana e não um documento oficial da Igreja, expressa como a missão de Francisco foi decisiva para reavivar a vida evangélica em uma época de crise espiritual.
A Basílica de São João de Latrão, em Roma, é a mais antiga basílica do cristianismo ocidental e tem um título que nenhuma outra possui: “Omnium ecclesiarum Urbis et Orbis mater et caput” — Mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade e do mundo.
A catedral do Papa não é a Basílica de São Pedro, mas Latrão. É ali que se encontra a cátedra do bispo de Roma, o sinal de sua autoridade pastoral.
A basílica foi inicialmente dedicada a Cristo Salvador e, séculos depois, também a São João Batista e São João Evangelista. Construída em terreno doado pelo imperador Constantino, passou a ser o centro da vida da Igreja no século IV. Ao lado dela ficava o antigo palácio papal, onde os papas viveram durante quase mil anos, antes de se transferirem para o Vaticano.
Foi nessa basílica que aconteceram concílios importantes, como o IV Concílio de Latrão (1215), que tratou de temas como a transubstanciação, a reforma da Igreja e a prática sacramental. Até hoje, a festa litúrgica da Dedicação da Basílica de Latrão (9 de novembro) é celebrada no mundo inteiro como sinal de comunhão com o Papa.
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