A Bíblia já falava sobre saúde mental?

A Bíblia já falava sobre saúde mental?

Depressão, ansiedade, isolamento… temas tão atuais para a saúde pública também encontram caminhos nas páginas da Bíblia. Em meio ao Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre prevenção do suicídio, vale lembrar que a Palavra de Deus já trazia consolo, exemplos e orientações diante de sofrimentos emocionais que hoje são chamados de transtornos mentais.

De acordo com o pesquisador Jean-Luc Fobe, doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), os textos bíblicos podem ajudar a combater o estigma histórico que associa doenças mentais à falta de fé ou às forças demoníacas. As tradições bíblicas apresentam personagens com comportamentos que podem ser identificados como doenças mentais contemporâneas e também orientações de acolhimento, paciência e esperança, como explica o autor.

“A correta hermenêutica dos textos bíblicos sobre este tema, considerado tabu, é essencial para o acolhimento do doente mental nas igrejas cristãs. O combate ao estigma da doença mental no ambiente cristão é essencial com a aplicação de uma teologia positiva de aceitação. A comunidade religiosa pode contribuir com uma teologia inclusiva do doente mental no processo de sua integração psicossocial”, defende Jean.

Exemplos bíblicos de sofrimento emocional

A análise de narrativas da Escritura mostra personagens que viveram experiências semelhantes às descritas pela psiquiatria atual:

  • Esquizofrenia ou psicose: o rei Nabucodonosor, no livro de Daniel, passou a agir como animal, em um episódio que lembra transtornos psicóticos graves (Dn 4,31-33).
  • Depressão: o profeta Elias, após grandes conflitos, entrou em profundo abatimento, desejando até a morte (1Rs 19,3-4). O salmo 6 também traz um desabafo marcado por choro e tristeza.
  • Ansiedade: Marta, aflita com os afazeres, foi corrigida por Jesus, que a convidou a colocar a fé acima da preocupação excessiva (Lc 10,40-42).
  • Perturbações emocionais de Saul: o rei de Israel apresentava crises de angústia e insônia, aliviadas pela música tocada por Davi (1Sm 16,14-23). Um dos primeiros exemplos do que hoje chamamos de musicoterapia.

Esses relatos não devem ser vistos como diagnósticos clínicos, mas como sinais de que a Bíblia reconhece a complexidade da experiência humana, incluindo fragilidades emocionais.

Orientações para o cuidado

O estudo de Fobe ressalta que a Bíblia não nega o sofrimento e, na verdade, oferece princípios que dialogam com a saúde mental até hoje.

  • Acolhimento e diálogo: Deus não abandona Elias em sua crise. O Senhor o consola e fortalece (1Rs 19,11-14).
  • Esperança no futuro: Paulo recomenda “esquecer o que fica para trás e avançar para o que está diante” (Fl 3,13-14).
  • Entrega daquilo que pode gerar sintomas de ansiedade: Pedro orienta “lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, porque Ele tem cuidado de vós” (1Pd 5,7).
  • Confiança e comunidade: Tiago indica que a oração e a confissão mútua podem trazer cura e apoio (Tg 5,16).

Esses princípios mostram que o cuidado com a mente não é contrário à fé, mas parte dela.

Fé e saúde mental caminham juntas

A medicina atual já reconhece que a religiosidade pode ter efeito positivo no tratamento de transtornos mentais, desde que baseada no acolhimento e não no julgamento. Por isso, é fundamental que comunidades cristãs abandonem visões reducionistas, como associar a depressão à falta de fé, e abracem quem sofre com solidariedade.

O Conselho Federal de Psicologia emitiu uma nota em 2012 na qual explicou que a psicologia e a religiosidade podem caminhar juntas, porque ambas estão presentes na cultura e participam da construção das pessoas.

A campanha Setembro Amarelo pede o comportamento que escolhe acolher, dialogar e oferecer suporte, o que significam cumprir o mandamento de Jesus, que ensinou: “Vinde a mim todos vós que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).

 

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