No salão paroquial da Capela Santa Rita de Cássia, em Osório (RS), uma cena que pode até parecer inusitada, à primeira vista, mostra que solidariedade e determinação podem ser a transformação que um jovem precisa. Essa é a história de Mariazinha, a jovem skatista gaúcha que se inspirou em Rayssa Leal, atleta olímpica que já conquistou duas medalhas em olimpíadas.
Maria Aparecida dos Santos da Silva, mais conhecida como Mariazinha, transformou obstáculos simples em ferramentas para alcançar seus sonhos — e eles são muitos! Ela adaptou uma pista de skate caseira, e foi ali, entre cabos de vassoura e a simplicidade do salão da Igreja, que suas manobras no skate começaram.
Hoje com 16 anos, a adolescente iniciou sua relação com o skate aos três anos, quando seu irmão ganhou um skate de Natal. As “brigas” pelo uso do brinquedo eram frequentes, até que um acidente na garagem fez com que o irmão decidisse deixar o skate para ela.
Aos sete anos, ao ver Rayssa Leal na TV, decidiu que queria seguir os passos da “fadinha”. Para apoiar a filha tão sonhadora e determinada, seu pai improvisou um skate com madeiras de uma obra e as partes do antigo.
Sobre como essa paixão por esse esporte surgiu de uma maneira tão forte, ela diz que “a gente não escolhe nossa modalidade, ela que escolhe a gente”. E assim reflete sobre a ligação que sente com o skate, que representa para ela superação, coragem e irmandade.
Sem uma pista adequada na cidade, Mariazinha teve a Capela Santa Rita de Cássia como um lugar realmente providencial. Com a permissão da Dona Délia, uma das líderes da comunidade, ela e sua família transformaram o local em um centro de treinamento improvisado. Tudo foi feito de forma removível, para não interferir nas atividades.
“A Dona Délia me permitiu treinar no salão, contanto que eu não me machucasse. Além de treinar, passamos a oferecer atividades para as crianças da comunidade”, explica a skatista sobre a transformação coletiva.
O caminho até as conquistas não foi fácil. Em agosto de 2023, Mariazinha conquistou o 2º lugar no Campeonato Gaúcho de Skate Street Amador, em Canoas, um feito que gerou muito orgulho para sua família e comunidade. Poucos meses depois, em outubro, ela garantiu o 3º lugar na Seletiva para o Campeonato Brasileiro da modalidade, em Cascavel (PR).
Porém, sua trajetória de superação foi marcada por um obstáculo ainda maior em novembro daquele ano, quando sofreu um grave acidente durante os treinos livres para a quarta e última etapa do STU de Skate, em Recife (PE). A queda resultou na fratura da tíbia e da fíbula, e ela precisou passar por cirurgia. Em meio à dor e à frustração, Mariazinha precisou de ajuda, inclusive para os custos gerados, mas sempre deixou claro que seu desejo de se recuperar e voltar ao skate era maior do que qualquer coisa.
Essa história é só uma parte do que já foi escrito e do que ainda será, mas já chamou a atenção da equipe do programa Esporte Espetacular, que em abril de 2024 dedicou uma edição do quadro “O Brasil que vale ouro” para contar a trajetória da jovem skatista gaúcha. A gravação, que aconteceu com a ex-jogadora de vôlei e medalhista olímpica Fernanda Garay, visitou locais da vida da skatista, como o Morro da Borússia, sua casa e a clínica onde realiza terapias. “Foi incrível, um sentimento de gratidão ao saber que tudo que a gente vem plantando está dando frutos. Foi mágico demais”, compartilha Mariazinha sobre a experiência de ver sua história compartilhada em rede nacional.
As dificuldades são muitas para jovens atletas como ela.
“Não temos patrocínio, apoio ou reconhecimento, mas temos amor pelo que fazemos, força e muita determinação para chegar onde queremos”. Sua mensagem para outros jovens é: não desistam de seus sonhos. “Na hora certa, as coisas acontecem”, encoraja.
Mariazinha sonha alto. Seu maior desejo é viver do skate, proporcionar uma vida melhor para sua família e inspirar outras pessoas com sua história. Ela ambiciona disputar campeonatos mundiais e, quem sabe, um dia, alcançar a tão almejada Olimpíada.
“Vou alcançar esses objetivos da mesma forma que alcancei todos os anteriores: persistindo, treinando, nunca perdendo minha essência e, principalmente, andando de skate”.
E ela é mesmo uma prova de como é possível transformar sonho em realidade. E, como ela mesma disse: “toda realidade um dia já foi sonhada”.
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