A oração transfigura

A oração transfigura

O primeiro modelo de oração é a vocal. Esta é uma maneira simples e eficaz de nos colocarmos na presença de Deus. As fórmulas de orações e jaculatórias são válidas. O Pai-Nosso é o modelo de oração vocal que o próprio Cristo nos ensinou, porém o problema é a disciplina, a concentração. É o “piloto automático” que ligamos e, por já saber de cor repetimos apenas da boca para fora, sem a intimidade com Deus.

Se o primeiro modelo de oração é o vocal, o segundo é a meditação. Hoje vivemos num corre-corre, somos escravos de um relógio que nunca para. Buscamos algo que nem sabemos o que é.

Corremos atrás de coisas e, quando as alcançamos, muitas vezes não sabemos o que fazer. É perigoso porque nós realmente nos tornamos estressados, cansados, irritados e, muitas vezes, deixamos de sermos donos de nós mesmos e acabamos tomando certas atitudes em relação a pessoas que mostram um lado horrível e não trabalhado em nós, e que, se tivéssemos parado um pouquinho para pensar, não teríamos feito. A palavra não teria saído de nossa boca.

A questão somos nós. Estamos falando de meditação, uma procura do quê? De Deus, daquela intimidade. A palavra é intimidade com Deus, nos tornamos íntimos na medida em que confiamos. Tornamo-nos íntimos na medida em que nós nos tornamos inteiros. É essa intimidade com Deus que precisamos procurar.

A oração é uma mão de duas vias, nós falamos, nós calamos, Deus nos fala, nós ouvimos. Porém, na maioria das vezes, para nós a oração é “eu falo, eu desabafo, Deus escuta”. Só que Deus também quer falar e não deixamos. Não esperamos para ouvi-Lo.

Mas atenção, meditação não é ficar sentado, com o pensamento “zen”. É se colocar na presença de Deus e pedir: Senhor fala comigo. É como Samuel: “Fala Senhor que teu servo escuta” (1Sm 3,9). É fazer como Maria que guardava tudo no coração. Isso é meditação, por isso, meditar é um exercício. Exercitar a vida de oração. É você tentar encontrar a resposta: “Senhor o que queres que eu faça?”

E o terceiro modelo é a contemplação. Oração contemplativa é aquela que separamos para estarmos a sós. Precisamos ter um “Horebe”, um local de oração em casa. Com a Bíblia aberta, um crucifixo, onde se pode reservar para ficar em silêncio interior e exterior. É estar a sós com Aquele que nosso coração ama. É Jesus que vamos contemplar nesse momento a sós. “Onde está o teu tesouro está ali também o teu coração”, disse Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 6,21).

Na oração vocal nós falamos com Deus. Na meditação Deus nos fala. Na oração mental há um diálogo silencioso e amoroso entre Deus e nós, o amante e o amado.

Tomemos por exemplo um casal apaixonado. Às vezes, não precisam falar muito com palavras, pois se falam com o olhar. O amor se expressa pelos olhos. Quem nunca amou na vida vai morrer sem ter conhecido um dos grandes milagres de Deus, porque o amor verdadeiro é sublime.

O amor entre a alma e o amado, Deus. É o que diz São João da Cruz, num poema: “oh! Feliz ventura. Sair, indo à procura do amor, do meu Amado…!” Nas Sagradas Escritura é só ler o Livro do Cântico dos Cânticos para entender o que é uma alma apaixonada por Deus.

É isso que a oração faz, não tem água morna para quem reza, Não tem só “mais ou menos”. Se nós conseguíssemos um pouquinho, uma centelha desse amor, uma faísca desse amor do Espírito Santo em nosso coração, então nossa oração seria fervorosa, nós gostaríamos de estar mais na presença do amor que é Deus, porque nossa alma sente necessidade. O vazio que muitos sentem que não tem bem material que preencha, nem joia, nem roupas de grife. Esse vazio só Deus preenche, esse vazio é o lugar de Deus.

A oração transfigura, a oração transcende, a oração muda, a oração converte, a oração verdadeira nos impulsiona.

Muitos me perguntam: E quando a oração não é atendida? Como saber o que está errado? A oração é um combate e nós devemos lutar contra tudo aquilo que nos faz desanimar. Como a sensação de fracasso, ressentimento, decepção, de não termos sido atendidos. Chamo a atenção para o que diz, um dos Padres do Deserto: “Não te aflijas quando não receberes imediatamente de Deus, o objeto de teu pedido: é que ele quer fazer-te ainda maior bem, por tua perseverança em permanecer com ele na oração” (Evágrio Pôntico), “Ele quer que nosso desejo seja provado na oração. Assim Ele nos prepara para receber aquilo que Ele está pronto a nos dar” (Santo Agostinho). Esses pensamentos dizem para não nos desesperarmos, a demora de Deus é uma provação da oração, nos prepara para a graça que vamos receber. Essa é a prática de esperar em Deus e a oração é uma espera em Deus que requer recolhimento. A meditação nos ajuda neste contexto de sempre voltarmos o pensamento para Deus e aumentar a esperança, sem cairmos em desespero.

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