O Brasil registrou cerca de 3,4 mil denúncias de trabalho escravo e análogo à escravidão em 2023, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O número representa um aumento de 61% em relação ao ano anterior. Desde a criação do Disque 100, em 2011, essa foi a maior quantidade de denúncias protocoladas, o que também pode significar que mais gente tem denunciado a prática criminosa. Essas denúncias representaram 19% do total de violações de direitos humanos informadas ao serviço.
Previsto no código penal brasileiro, no artigo 149, o trabalho análogo à escravidão é caracterizado pela submissão a trabalhos forçados, jornadas exaustivas e condições degradantes. Isso inclui situações em que a locomoção do trabalhador é restrita por dívidas com o empregador. Em outras palavras, é uma forma moderna de escravidão que nega todos os direitos, inclusive os mais básicos, ao trabalhador.
O tema atinge diretamente a dignidade humana e exige a atenção de todos. Além de crime aos olhos da lei, quem condiciona outros seres humanos a esse tipo de vida fere diretamente o que ordenou Jesus Cristo a todos os Seus filhos: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22,37-39)
Papa Francisco já se pronunciou diversas vezes sobre o tema, que chamou de “‘in-dignidade”, porque retira não apenas a dignidade das vítimas, mas de toda a sociedade. O Pontífice reforça o compromisso de abolir o fenômeno, na verdade, como um dever prioritário para todos os cristãos.
“Mesmo que tentemos ignorá-la, a escravidão não é algo de outros tempos. Perante esta trágica realidade, não podemos lavar as mãos se não quisermos ser, de certa forma, cúmplices destes crimes contra a humanidade”, conclamou o Papa em 2019 ao lembrar que todos devem colaborar para apoiar os irmãos e retirá-los dessas situações de objetificação e exploração.
Os trabalhos domésticos são constantemente alvo de novos escândalos relacionados à escravidão. Em 2023, após mais de 50 anos em condições degradantes, uma mulher foi resgatada em Copacabana, no Rio de Janeiro, graças a uma denúncia anônima ao Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ). Esse é apenas um exemplo de uma triste realidade que se perpetua em diversas atividades econômicas.
É fundamental que a sociedade saiba como identificar e denunciar casos de trabalho escravo. Denúncias anônimas ao Ministério Público do Trabalho podem ser feitas para contribuir com ações conjuntas como a Operação Resgate III, que em 2023 tirou 532 trabalhadores do trabalho escravo contemporâneo. Envolveu mais de 70 equipes de fiscalização em 222 inspeções.
Estados com maior número de resgates em 2023 (até 8 de dezembro):
O maior número de casos na área rural foi registrado nas lavouras de café (300) e cana-de-açúcar (258) e nas atividades de apoio à agricultura (249). Já nas áreas urbanas, as obras de urbanização lideram (18 resgates).
As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100 e o sistema Ipê.
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