Cachorros x carteiros: como deixar essa relação mais pacífica e sem riscos para os dois lados

“Ele só late porque você vem entregar contas”. Essa é uma brincadeira comum que muitos carteiros e entregadores escutam quando vão deixar encomendas e correspondências. Há uma crença popular de que entregadores e cachorros são inimigos mortais. Mas será que essa rivalidade existe mesmo?

Quem explica os detalhes é Bruno Fernandes, que trabalha desde 2021 com treinamento de cães. Inicialmente, ele atuou na Força Aérea Brasileira (FAB) no preparo de cães de guarda e proteção, faro de entorpecentes, explosivos e “show dog”. Atualmente, atua na reabilitação de pets que sofrem com problemas comportamentais, como ansiedade, disfunção cognitiva e agressividade.

Sobre a relação conturbada entre cachorros e entregadores, Bruno explica que no caso de carteiros, garis e entregadores no geral, o latido se enquadra como sinal de defesa territorial, já que de maneira orgânica esse comportamento pode ser reforçado pelos próprios profissionais.

“Quando acontece a aproximação e a entrega dos produtos, por extinto, os cães começam a latir e, de maneira lógica, os entregadores vão embora. Nesses momentos, a ciência behaviorista explica que quando um comportamento é reforçado, a tendência é que passe a se repetir. Na cabeça do cachorro, ele associa que foi o seu latido que causou a fuga do agente agressor, invasor. Então, esse comportamento se torna condicionado”, esclarece o profissional.

A grande questão é como resolver a situação sem tantos transtornos. No contexto das cidades, o comportamento dos cães precisa ser trabalhado. Treinamentos de socialização e ambientação são fundamentais para que os cães não sejam reativos a qualquer estimulo estranho. Além disso, o especialista recomenda a exposição gradativa dos cães a esses estímulos de pessoas, barulhos, entre outros.

Bruno Fernandes trabalha desde 2021 com treinamento de cães./Foto: redes sociais @fluffys_dog

“Comandos limitadores são essenciais para o controle dos nossos pets. Um bom exemplo é o controle de portão e o comando de ‘casinha’ e o próprio comando ‘fica’, que auxilia na recepção de visitas e no controle do estado emocional dos animais. É necessário criar um ponto de referência para que o cachorro possa ir e entrar em relaxamento”, orienta.

E o latido, será que é um problema? O adestrador acrescenta que o latido não é apenas sinal de ataque. “Nada mais é do que a sinalização de algo, ou seja, é um sinal de interação, curiosidade, medo, dor, defesa, ansiedade e vários outros sentimentos”.

Como os Correios trabalham a situação

Ataques de cães são uma causa de acidentes de trabalho nos Correios no Paraná. Segundo a instituição, em 2023, foram registrados 27 casos no estado. No país, houve 335 registros no ano passado.

De acordo com os Correios, todos os carteiros passam por treinamentos e orientações sobre a prevenção e as providências diante de um ataque canino. Os conteúdos abordam: comportamento e características dos cães, como identificar sinais e situações de risco, comportamentos e atitudes recomendadas na iminência de um ataque, além das providências em caso de acidentes e raiva canina.

“Os carteiros enfrentam essa situação diariamente, já que muitas residências e ruas não apresentam as devidas condições de segurança. Nos domicílios, deve haver caixa receptora de correspondências em local adequado, dentro dos padrões de tamanho indicados, impedindo que o cão tenha acesso ao carteiro. Além disso, é importante manter o portão da residência sempre fechado e o cão para o lado de dentro”, explica a assessoria de imprensa dos Correios.

Por todos esses motivos, sempre que possível, o melhor caminho é procurar um profissional capacitado para educar e treinar seu pet, o que é um sinal de amor e respeito por eles.

“Investir na educação e no bem-estar canino nos dias atuais é fundamental para o bom convívio em sociedade. Quando ensinamos limites, regras e interações saudáveis, a aceitação e adaptação desses animais dentro de nossas casas e grupos de convívio se torna possível”, finaliza Bruno Fernandes.

Melhores amigos dos entregadores

Contrariando a ideia de que cães e entregadores não têm lá uma relação das melhores, a UP Dogs , dos Estados Unidos, publica nas redes fotos fofas e divertidas de profissionais e seus novos amigos caninos. Cada entrega, uma nova pose que faz sucesso.

A página foi criada pelo entregador Sean McCarren em 2012. Ele contou que é comum que os funcionários da empresa aproveitem os intervalos para brincar com os cachorros que circulam pelas ruas, com os devidos cuidados. Em algumas cidades, principalmente as menores, há uma educação e controle interessantes dos cães de rua e das próprias casas. Sean passou a receber muitas fotos enviadas por colegas que viraram fãs da página e começou a publicá-las.

Nos EUA, site publica fotos de entregadores que fizeram amizade com os cães.