“Esta Chaga lembra a Eucaristia, fonte de vida, graça, amor e luz. É seguro refúgio para todos nós, e é especialmente reaberta pelos profanadores do Santíssimo Sacramento” (Pe. Alberto Guimarães Gonçalves Gomes).
O que é profanar o Santíssimo Sacramento? Seria tratar ou receber Jesus Eucarístico indignamente? Não ter o devido e respeitoso cuidado com o Santíssimo Sacramento? Sim, mas o amor à Eucaristia é mais do que esses gestos. Vale lembrar que a Eucaristia em São João é a prática do Lava-pés e, portanto, está relacionada à humildade, que é a principal virtude a se contemplar na Chaga do Lado do Corpo de Cristo. Como toda virtude moral, a humildade pode ser buscada, trabalhada, aperfeiçoada. Ela é o alicerce no qual todas as outras virtudes se sustentam; sem humildade não há edificação espiritual.
A palavra humildade vem da expressão de origem latina “húmus”, que significa terra, solo. É uma terra fértil, adubada, preparada para dar frutos. Então, ser humilde não é depreciar-se; ao contrário, é valorizar a obra de Deus em nós. O oposto da humildade é a soberba, que é um pecado capital. Uma pessoa cheia de talentos, mas soberba, faz dos talentos de Deus a sua vaidade, e aí está o perigo. Deus nos dá muitos talentos, mas se eles não forem alicerçados na humildade, aquilo que é dom de Deus não estará a serviço da Igreja e do seu povo, mas do próprio ego. A verdadeira humildade coloca-nos prontos para servir, em uma atitude de alegria, e não em busca de honras. Faz-nos gratos a Deus pelos dons que temos, levando-nos a reconhecer que tudo de bom vem Dele, porque Deus é o Sumo Bem, e também nos dá a ciência de que as coisas ruins são fruto de nossas próprias escolhas.
Uma pessoa humilde atrai o amor de Deus, o apreço dos outros e repele a soberba. Nesse sentido, o Livro do Eclesiástico nos aconselha: “Meu filho, seja modesto em sua atividade e será mais estimado que um homem generoso. Quanto mais importante você for, tanto mais seja humilde e encontrará favor diante do Senhor. Pois o poder do Senhor é grande, mas ele é glorificado pelos humildes” (Eclo 3, 17-20).
A principal virtude de um coração amoroso é, sem dúvida, a humildade. A falta dela nos torna obtusos pela soberba e pela vaidade. Essa virtude, por sua vez, nos faz desejar o amor de Deus e acreditar na providência Divina, ou seja, que tudo Deus proverá e nada poderá nos faltar.
Quanto mais humildes, mais próximos ficamos de Deus e por isso, os humildes são os prediletos do Senhor. A Escritura confirma: “Deus resiste aos soberbos, e aos humildes dá a Sua graça” (Tg 4, 6). A humildade leva-nos a ter consciência de nossas fraquezas e, consequentemente, a agir com caridade. Já o soberbo, não hesita em apontar as falhas e os pecados dos outros, pois não tem consciência de seus próprios erros. O humilde possui uma fortaleza especial porque realmente se apoia na onipotência de Deus. Além disso, consegue se abrir mais à vontade Divina, pois está disposto a escutar os apelos que Deus faz nas várias circunstâncias da sua vida.
Às vezes, nós queremos barganhar com Deus. Achamo-nos merecedores das graças porque fazemos isso ou aquilo, e acabamos fazendo como o fariseu que se enaltece apontando suas qualidades, ações e sacrifícios, quando, na verdade, precisamos simplesmente nos reconhecer necessitados da misericórdia Divina, como o cobrador de impostos que bateu no peito e se reconheceu pecador. E Jesus declarou-o justificado, pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado (cf. Lc 18, 10-14).
Por outro lado, é preciso ter cuidado com o perigo da falsa humildade, que ocorre quando não reconhecemos Deus como a origem dos nossos dons, acreditando tratar-se de mérito próprio. Também é falsa humildade inferiorizar a si mesmo diante dos outros para ser elogiado, isto é, fazer-se de humilde para ser enaltecido. Ter humildade é, antes de tudo, reconhecer o que Jesus disse: “Sem mim nada podereis fazer” (Jo 15, 5).
A humildade nos relaciona com Deus e nos ensina a colocar Nele toda a nossa esperança. Santo Agostinho explica: “Se pões tua esperança em outro homem, és falsamente humilde. Se a pões em ti mesmo, és refinadamente soberbo. Os falsamente humildes não se levantam. Os refinadamente soberbos caem” (Serm. 18,2,2).
A virtude da humildade, a qual alicerça todas as virtudes – sobretudo a fé, que nos faz acreditar na presença real de Jesus na Santíssima Eucaristia –, é necessária para vivermos uma experiência de intimidade com o Pai: amá-Lo e zelar para que Ele não seja profanado.
A Eucaristia é, por excelência, a fonte da humildade que derrota a soberba e o orgulho. Um Deus de grandeza infinita Se faz pequeno e simples na fragilidade da Hóstia Consagrada para nos tornar fortes na caminhada para a santidade. Busquemos na Eucaristia a verdadeira humildade.
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