“Pela Chaga do Pé Direito, Jesus promete salvar os pecadores, socorrer os atribulados e aliviar as almas do Purgatório. É reaberta pela insensibilidade e pela falta de caridade para com o próximo” (Pe. Alberto Guimarães Gonçalves Gomes).
Se pela Chaga de Seu Pé Direito Jesus promete salvar os pecadores, socorrer os atribulados e aliviar as almas do Purgatório, nada mais apropriado que associá-la à virtude teologal da fé, a qual é necessária para a salvação, como o próprio Jesus vaticinou: “Aquele que crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16).
A fé é uma virtude teologal que nos é infundida no Batismo. Conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou. Como adesão pessoal a Deus e assentimento à verdade que Ele revelou, a fé cristã é diferente da fé em uma pessoa humana. É justo e bom entregar-se totalmente a Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso pôr tal fé em uma criatura (CIC 150).
O autor da Carta aos Hebreus assim define:
“A fé é o fundamento da esperança; é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível”. E ainda: “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a Ele é necessário que se creia primeiro que Ele existe e que recompensa os que O procuram” (Hb 11, 1-3.6).
É a fé que nos leva a buscar e a conhecer Deus, pois é preciso conhecer para crer. Precisamos nos informar e nos formar para crermos e esperarmos em Deus. Apesar de ser dom de Deus, a fé não caminha separadamente da vontade humana, pois, da mesma forma que acreditamos, porque Deus assim o permite, igualmente ninguém acredita se não quiser.
Fé não é “achismo”. Ela sugere a existência de certeza, porém há uma diferença sutil entre ambas. Assim, nem toda certeza é fé. Por exemplo, não precisamos crer que a soma 1 + 1 resulta 2; trata-se de algo que compreendemos, portanto é uma certeza. Já a crença é diferente no que tange à compreensão. Isso porque podemos crer naquilo que compreendemos, mas também no incompreensível. Não compreendemos a dinâmica da Santíssima Trindade nem o mistério da Ressurreição de Jesus, mas nós cremos neles. Portanto, a fé vai além da compreensão.
Santo Agostinho explica: “Fé é acreditar no que você não vê; a recompensa da fé é ver o que você acredita”. Fé teologal é crença. É crer firmemente em Deus como Nosso Pai e nas verdades por Ele reveladas. É crer em Jesus Cristo como Nosso Senhor e Redentor, o Filho de Deus enviado por Ele para a salvação do mundo. É crer, também, no Espírito Santo como o Santificador que conduz e edifica a Igreja.
Segundo São Tomás de Aquino, a razão e a fé se realizam juntas. Mesmo reconhecendo a autonomia da razão, o doutor angélico afirma que ela sozinha não é capaz de penetrar nos mistérios de Deus, apesar de ser Deus a sua finalidade. Para ele, a razão presta um precioso serviço à fé, sendo, portanto, sua serva (cf. Suma Teológica I, 1).
O mesmo se dá em relação à ciência. A ciência nos ajuda a termos a percepção de que necessitamos do conhecimento humano e das descobertas; por outro lado, a fé ajuda a ciência a compreender sua própria limitação, pois existe algo sobrenatural que ela não explica, e isso a torna menos presunçosa. A fé torna a ciência mais ética, humana e cautelosa ao usar as descobertas para o bem da humanidade.
Essa definição de fé tem a ver com o amor-caridade, porque evidencia o conhecimento de Deus, e, ao conhecê-Lo, nós O amamos. Ninguém ama algo imaginário, abstrato. Se não conhecemos, não convivemos, não amamos. Deus tem que deixar de ser imaginário.
A fé não é um conjunto de ideias e códigos morais, e sim o encontro com a pessoa viva de Jesus. É um esforço de intimidade. A partir dessa experiência com o Ressuscitado, a fé nos compromete a realizar, a cada momento, o que Deus espera de nós. Nunca teremos uma imagem de Deus, não nos iludamos quanto a isso. Nós temos que amá-Lo em Jesus. É possível ter intimidade com Deus quando a temos com Jesus. Amar a distância é difícil, pois envolve uma frustração tremenda e a relação acaba ruindo porque deixamos de desejar, e o desejo faz parte do amor. Temos que desejar estar com Jesus. A fé nos leva ao conhecimento de Jesus para que O amemos e nos deixemos amar por Ele.
Quando nos tornamos íntimos de Jesus, descobrimos tanta beleza que nos apaixonamos por Ele. Contudo, uma missa aos domingos é pouco para quem ama, assim como uma confissão ao ano não produz uma intimidade suficiente. Os apóstolos foram até Jesus e perguntaram: “Mestre, onde moras? ”. Sua resposta foi: “Vinde e vede”. Então, eles foram, viram e ficaram com Ele (Jo 1, 38-39). Ficar com Jesus, eis o encontro de conversão, de renovação que passa pelo fogo do Espírito Santo e incendeia a alma.
O Espírito Santo é a fonte de todas as virtudes. Uma vida virtuosa e santificada é uma vida no Espírito Santo. Sempre devemos pedir em oração que Deus, pela ação do Espírito Santo, aumente a nossa fé, e devemos mantê-la alimentada e enraizada dentro da Igreja, pois a fé é também eclesial e dificilmente uma pessoa a mantém a distância. O que nos garante a manutenção da fé é a Igreja.
A experiência pessoal e eclesial com Jesus Cristo é o primeiro passo para o desenvolvimento da fé, e o mundo está necessitando como nunca desse impulso inicial. Muitos partem direto para o segundo passo sem ter dado o primeiro, o que torna a fé inconstante, por isso a Igreja tem se empenhado em levar o kerigma (primeiro anúncio do Evangelho).
Na sequência, ao dar o segundo passo na fé, aceitamos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Em outras palavras, damos a Ele toda a autoridade sobre nós porque cremos que Jesus é o Senhor no céu, na terra e nos infernos, e O proclamamos como Redentor, a razão da nossa vida e a esperança da nossa salvação.
Por fim, a fé é um raio de luz que Deus infunde em nossa alma para que não andemos nas sombras. Em Sua infinita bondade, Ele quis garantir que o ser humano, após o pecado original, não cometesse o erro de não encontrá-Lo, então nos abençoou com esta virtude.
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