Três nomes e muitos males. Os cigarros eletrônicos, também chamados de vapes ou pods, entraram no Brasil em 2005. Para muitos, existia a ideia de que poderiam ajudar os usuários do cigarro comum a se libertarem do vício. Em 2009, o comércio, importação e propagandas de cigarros eletrônicos foram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por não existirem dados suficientes que comprovassem os efeitos desses dispositivos na saúde humana.
A discussão sobre o tema ganhou destaque novamente neste ano. Em 19 de abril, a Anvisa decidiu manter a proibição da comercialização, fabricação e importação, transporte, armazenamento e propaganda dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). Apesar da proibição que já vigora e continua, o número de usuários aumentou 600% de 2018 a 2023 no país e atinge quase três milhões de pessoas, de acordo com um levantamento realizado pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec).
Um artigo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia traça o perfil de usuários dos cigarros eletrônicos como jovens entre 15 e 25 anos, de classe média a alta. Além disso, na maioria dos casos, o vício surge a partir da convivência com outros fumantes, como amigos ou familiares.
Pelo cheiro e aspecto, eles até parecem menos prejudiciais à saúde do que o cigarro tradicional à base de tabaco. Mas a verdade é que esse é um caso comprovado de que “as aparências enganam”. É o que explica Rita Porto, coordenadora do curso de Enfermagem da Estácio, que destaca que, inicialmente, acreditava-se que os cigarros eletrônicos poderiam auxiliar no processo de desmame de fumantes, tornando a abstinência menos difícil. Entretanto, foi constatado que são tão ou mais perigosos que os cigarros convencionais. A fumaça produzida causa efeitos nocivos tanto para o usuário quanto para as pessoas ao redor.
“Geralmente, eles contêm líquidos aromatizados, com uma variedade de sabores, o que os torna mais atrativos. No entanto, assim como os cigarros tradicionais, também contêm nicotina e outros componentes prejudiciais à saúde. Os efeitos são tão graves quanto os do cigarro convencional e podem se manifestar a curto prazo, especialmente entre os jovens, que são os principais usuários desses dispositivos”, destaca a profissional.
Ainda segundo Rita, os vapes ou pods são drogas que causam dependência no usuário e provocam diversos malefícios para a saúde. Entre as consequências do uso contínuo estão doenças pulmonares crônicas como bronquite e enfisema, diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), doenças coronárias como angina e infarto, e doenças cerebrovasculares como acidente vascular cerebral.
De acordo com o Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP), o indivíduo que fuma um vape descartável por dia consome nicotina e toxinas equivalentes a uma carteira de cigarro.
Silvia Valderramas, professora do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Ciências da Saúde da e coordenadora do Núcleo de Estudos em Fisioterapia Respiratória Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica os componentes que fazem parte dos dispositivos e são grandes riscos à saúde.
“Nos vapes, você pode ter a nicotina ou não. A nicotina causa dependência química. E o restante dos componentes colocados ali? A gente sabe que é inserido um óleo, que tem vários componentes que são extremamente lesivos, como propilenoglicol, o acetaldeído e um óleo vegetal – adicionados para fazer o vapor. Quando são queimados, liberam dez vezes mais formaldeído, que é cancerígeno”, explica a pesquisadora.
Um problema apontado para a falta de controle é que não há fiscalização do comércio, ainda que seja proibido.
“Não tem ninguém fiscalizando nos bares, nem denunciando”, lamenta.
*Com colaboração de Flávia Cé Steil, da Agência Escola UFPR.
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.