A inclusão escolar é um dos grandes desafios da educação contemporânea, especialmente em países como o Brasil, onde as políticas voltadas para pessoas com deficiência (PcD) ainda não conseguem promover acesso e equilíbrio de maneira igualitária. Um dos pesquisadores que mais se destaca nesse campo é Claudovil Barroso de Almeida Júnior, professor de educação especial, mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutorando pelo mesmo programa.
Claudovil, que tem paralisia cerebral, começou a atuar sobre educação inclusiva ainda no Amapá, seu estado. Em entrevista ao IDe+, ele compartilhou como a sua experiência de vida o influenciou nesse caminho.
“Somente em 2014, comecei a me interessar por deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, em razão de crises existenciais que me acompanharam até a juventude. Com a entrada no mestrado na UFPR, pude estudar academicamente sobre essa temática”, relata.
A dissertação do pesquisador, que abordou as políticas educacionais para crianças com deficiência física neuromotora (DFN) na educação infantil, trouxe resultados importantes, que revelam como as práticas e políticas de inclusão variavam entre municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Claudovil explica que, apesar de o estudo não ter sido comparativo, as diferenças observadas foram evidentes e reforçam a necessidade de políticas inclusivas consistentes.
“Tive o crescimento pessoal e profissional que muito me acrescentou enquanto pessoa com DFN e enquanto pesquisador”, reflete.
Um dos maiores desafios apontados por Claudovil é o foco excessivo nas limitações físicas dos alunos com deficiência, o que, segundo ele, impede o desenvolvimento pleno. Ele defende uma pedagogia da inclusão que valorize as potencialidades dos alunos e incentivem a autonomia deles.
“Temos que enxergar as pessoas com deficiência além do ‘laudo médico’. Nós, PcDs, temos potenciais a desenvolver e aperfeiçoar”.
De acordo com Claudovil, é essencial promover a formação continuada dos profissionais da educação para que estejam preparados para lidar com as necessidades dos estudantes de forma eficaz.
A população com deficiência no Brasil, com 2 anos de idade ou mais, foi estimada em 18,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,9% da população dessa faixa etária. O indicativo faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022.
Embora as políticas de inclusão tenham avançado nos últimos anos, muitos especialistas concordam que ainda há um longo caminho a percorrer. De acordo com o Censo Escolar de 2020, cerca de 1,3 milhão de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades estavam matriculados nas escolas brasileiras, um crescimento em relação aos anos anteriores, mas ainda distante do ideal em termos de infraestrutura e capacitação de professores.
Como professor de educação especial, Claudovil acredita que a inclusão só acontece de verdade quando as escolas adotam estratégias pedagógicas adaptadas às necessidades dos alunos. Ele enfatiza a importância de observar o que o aluno já sabe e como pode avançar com ajuda adequada, aplicando a teoria sociointeracionista de Vygotsky, que valoriza a interação social no desenvolvimento cognitivo. Além disso, ele menciona a necessidade de realizar adaptações curriculares que respeitem as necessidades específicas de cada estudante.
Um dos grandes desafios enfrentados pelas escolas ao implementar políticas de inclusão, segundo Claudovil, é garantir que o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola contemple a educação especial de forma inclusiva. Ele também destaca a importância de um Atendimento Educacional Especializado (AEE) de qualidade, adaptação dos espaços escolares e formação continuada dos professores.
O pesquisador espera ver políticas que garantam o direito à educação das pessoas com deficiência desde a educação infantil até o ensino superior.
“Que o direito à educação para as PcDs seja garantido desde a educação infantil ao ensino superior; formação inicial e permanente para os profissionais da educação na perspectiva inclusiva”, diz ele, reforçando a necessidade de sensibilização e respeito às diferenças no ambiente escolar.
A implementação de redes de apoio para as famílias de pessoas com deficiência é outra questão que precisa ser aprimorada nos próximos anos.
O pesquisador continua suas pesquisas sobre a deficiência física neuromotora e ampliou seus estudos para incluir questões de raça, gênero e classe social. Ele acredita que esses fatores também têm um papel importante na maneira como as pessoas com deficiência são percebidas e tratadas na sociedade.
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