Embora impressionem pela beleza, vão muito além do que se vê. Os vitrais nas igrejas católicas são como janelas que abrem espaço para o sagrado, pela representação da luz e símbolos cristãos. Na Idade Média, já foram usados como um dos meios de catequizar. Este tipo de arte sacra começou a ser produzido na Europa no século X e ajuda os fiéis a contemplar o mistério de Deus e a se conectar em oração.
De acordo com um texto acadêmico de Ed Marcos Sarro, professor universitário e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), o vitral provavelmente surgiu no Oriente Médio entre os séculos VI e VIII d.C. e inicialmente era empregado em residências muçulmanas e mesquitas. Possivelmente foi levado ao Ocidente a partir das Cruzadas.
Nos primeiros anos em Continente Europeu, as janelas apresentavam apenas composições de vidros coloridos. Mas, a partir do século XI, iniciaram-se as representações de figuras. Ainda segundo o professor Ed Sarro, o abade da Catedral de Saint-Denis, na França, foi quem primeiro o empregou na arquitetura gótica. O Abade Suger utilizou a decoração, os recursos visuais e a iluminação para atrair a atenção e impactar os cristãos.
A arte do vitral sacro envolve espiritualidade, técnica e paciência. Cada obra é única, produzida de forma artesanal, e as peças são pensadas para harmonizar com a história da comunidade, com a devoção do templo e com o ambiente litúrgico. Conheça as etapas desse processo.
É possível que existam outras etapas, de acordo com o projeto e artistas envolvidos, mas entre as mais conhecidas, este é o passo a passo geral.
1. Criação do projeto artístico
Tudo começa com pesquisa e inspiração. O artista analisa o padroeiro da Igreja, a história da comunidade e o estilo do templo. A partir disso, desenvolve um desenho inicial — em aquarela ou digitalmente — com imagens sagradas ou simbólicas.
Ampliação do projeto para o tamanho real permite o corte das peças em vidro./Foto: reprodução Vitrais Zanon
2. Ampliação e escolha das cores
O desenho é ampliado na escala real (1:1) e é feita a seleção das cores dos vidros. Cada cor tem um significado simbólico, e a combinação das tonalidades influencia diretamente na atmosfera espiritual do espaço.
3. Recorte manual do vidro
Usando o desenho ampliado como molde, o vidro colorido é recortado peça por peça. No vitral tradicional (vitral de chumbo), o próprio vidro já é colorido de fábrica, mantendo sua tonalidade por séculos.
Corte manual
4. Pintura de detalhes e queima
Se for necessário aplicar sombras ou contornos, o artista usa tinta especial. Essa pintura é então “queimada” em forno, para que a tinta penetre no vidro e nunca se apague. Algumas peças passam por diversas queimas, conforme a complexidade.
5. Montagem com perfis de chumbo
As peças são montadas usando perfis de chumbo, que são soldados com estanho. Essa estrutura une os pedaços e confere estabilidade ao vitral.
Processo de solda do vitral
6. Vedação e acabamento final
Para garantir a firmeza e a impermeabilidade, aplica-se massa de vidraceiro nos encaixes de chumbo. Em seguida, o vitral é limpo, revelando toda sua beleza e brilho.
7. Instalação e contemplação
O vitral pronto é instalado na igreja, onde passa a integrar o ambiente litúrgico. Quando a luz do sol atravessa o vidro, o interior do templo se enche de cor.
1. Sainte-Chapelle – Paris, França
Construída no século XIII, é famosa por seus vitrais que retratam mais de mil cenas bíblicas.
2. Catedral de Chartres – Chartres, França
Obra-prima do gótico, possui mais de 150 vitrais medievais originais, que ensinam passagens da Bíblia como um catecismo em vidro.
3. Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida – Aparecida (SP), Brasil
Os vitrais, criados a partir de projeto do artista sacro Cláudio Pastro, formam um ambiente de luz serena e simbologia profunda.
4. Catedral Metropolitana – Brasília (DF), Brasil
Os vitrais azuis, criados por Marianne Peretti, enchem a nave de luz celeste e reforçam o simbolismo da elevação a Deus.
Interior da Catedral de Brasília: vitrais azuis enchem o ambiente com a luz celeste
5. Basílica de São João – Nova York, EUA
Com vitrais em estilo neogótico, retrata cenas do Evangelho com intensidade e delicadeza. É considerada uma das igrejas mais bonitas da América do Norte.
6. Catedral de Colônia – Colônia, Alemanha
Além dos vitrais góticos originais, destaca-se por um vitral moderno feito com 11 mil quadrados de vidro colorido em tons vibrantes.
7. Igreja de São Vito – Praga, República Tcheca
Mistura vitrais antigos e modernos, incluindo obras do artista tcheco Alfons Mucha, com cenas bíblicas.
8. Basílica de Nossa Senhora do Rosário – Fátima, Portugal
Combina vitrais figurativos com motivos marianos. Tem uma atmosfera de devoção e paz que toca os corações dos peregrinos.
9. Catedral de León – León, Espanha
Chamada de “Casa da Luz”, tem vitrais do século XIII que filtram a luz solar em um espetáculo contínuo de cores sagradas.
10. Catedral de Notre-Dame – Paris, França
Apesar do incêndio de 2019, muitos de seus vitrais históricos foram preservados e seguem como símbolos da luz de Deus na história da Igreja.
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