Deus quer nos resgatar da prisão do pecado para que experimentemos a libertação do homem novo. “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Col 1, 13-14 ).
O homem novo é aquele que se abre para o mundo do futuro. Trata-se de um mundo em construção, feito por um homem em construção. Eu e você somos pessoas em construção.
Esta é uma reflexão fundamental, não apenas para compreendermos os acontecimentos, como também para alcançarmos a cura total. O radicalismo ou fanatismo é um sério entrave a esse processo de construção do mundo e de nós mesmos.
Em geral, podemos viver três versões de radicalismo: 1) acreditar só na Palavra (a fé pela fé); 2) acreditar só na ciência (não aceitar a fé); 3) acreditar na Palavra, mas precisar do argumento da ciência para comprovar a fé.
Apesar de estarem em campos distintos, fé e ciência não são opostas e têm muitos pontos de interseção. Ao contrário do que muitos pregam, espiritualidade e ciência não colidem obrigatoriamente. Não obstante, há pessoas que são radicais ao extremo e não aceitam a posição da Igreja nesse assunto. Ou são fundamentalistas, ou não creem e se tornam ateias.
Pessoalmente, gosto de cultivar a seguinte máxima: enquanto a ciência nos ajuda a pensar, a fé nos ajuda a viver melhor.
A ciência busca explicações para fenômenos por meio da pesquisa e da produção de conhecimento, e por isso cumpre o papel de desmistificar tabus e avançar o conhecimento racional do homem a respeito do mundo.
A fé, por sua vez, deriva da experiência do metafísico e está diretamente ligada a Deus. São áreas diferentes, mas não antagonistas. A fé pela fé, sem profundidade nem reflexão, leva ao extremismo e ignora aspectos morais que estão fora do âmbito científico, e nós sabemos bem onde isso vai dar. Não se trata de uma fé verdadeira.
Podemos ser a um só tempo da fé e da ciência. Uma pessoa que tem um olhar mediado pela fé e pela ciência examina os fatos, desde as causas até os efeitos, e age com discernimento. Observa e questiona, mas enaltece a criação e exalta o Criador, porque reconhece Seu poder.
Uma pessoa que se guia apenas pelas leis naturais busca os fundamentos, mas não consegue alçar voos maiores e não sacia o coração, justamente por não levar em conta. Aquele que criou tudo à nossa volta. Manter-se encarcerado pelo viés cientificista faz com que percamos a esperança. Se olharmos só o processo evolutivo do mundo, seremos um acaso, e isso é desesperador. Não passaremos de um acidente cósmico, produto de uma linhagem evolutiva sem origem nem destino.
O poder explicativo da ciência sozinho não contempla a esperança. Por outro lado, ancorado pela fé, abre a mente e nos mostra sinais do sagrado em toda a natureza.
Como assegurou o Papa João Paulo II na encíclica Fides et ratio, “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.
Muitos de nós queremos validar toda e qualquer revelação apenas pela ciência. O teólogo americano John Haught sugere que o contrário seja igualmente oportuno: “A convicção profunda de que um novo futuro se abre diante de nós e de nosso universo inacabado liberta não apenas o coração para uma vida de esperança, mas também a mente para a vida de exploração irrestrita”.
Lado a lado, a ciência e a fé nos fazem sair da prisão do determinismo e enxergar um plano maior.
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