Por Chananda Buss
Sob supervisão de Maria Fernanda Mileski
De acordo com definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), os cuidados paliativos são uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e suas famílias que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Ainda segundo a OMS, a abordagem “previne e alivia sofrimento através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas, sejam eles físicos, psicossociais ou espirituais”.
No cenário brasileiro, a oferta de cuidados paliativos é respaldada pela resolução nº 41, da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), de 31 de outubro de 2018, que estabelece no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde) as diretrizes para a organização da abordagem, com cuidados continuados integrados. No Paraná foi aprovada a lei nº 20.091, de 19 de dezembro de 2019, que institui os preceitos e fundamentos de cuidados paliativos.
O campo dos cuidados paliativos envolve diversas áreas do conhecimento. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), há pesquisas sendo desenvolvidas em diferentes departamentos, como o de Enfermagem, Medicina, Nutrição, Terapia Ocupacional. Para entender mais sobre o assunto e amplificar as informações sobre cuidados paliativos para a população, a Agência Escola UFPR (AE), em parceria com o Portal IDe+, entrevistou a terapeuta ocupacional Rosibeth Del Carmen Munoz Palm, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da UFPR e coordenadora do Grupo de Estudos de Terapia Ocupacional e Cuidados Paliativos (GETOCP/UFPR) desde 2015. Nesta reportagem, a pesquisadora aborda o assunto através do olhar do seu contexto de estudo: a terapia ocupacional.
A professora esclarece algumas das questões acerca do manejo de sintomas que buscam ser resolvidas depois do diagnóstico pela abordagem da terapia ocupacional, área que objetiva garantir a saúde e bem-estar das pessoas com problemas físicos, sensoriais, sociais e motores.
“A organização da rotina e tratamentos, a atenção aos impactos e repercussões na família, o plano de vida, retomada e afetos”.
Essas são algumas das questões que Rosibeth cita como parte do trabalho e das estratégias para que o paciente consiga fazer as atividades mesmo que modificadas, levando em consideração fatores como a presença de dor ou fadiga.
Além das condições que envolvem a abordagem, a professora Rosibeth aborda na entrevista a seguir os benefícios e dificuldades existentes na oferta de cuidados paliativos:
Rosibeth Del Carmen Munoz Palm – A Terapia Ocupacional em cuidados paliativos pode ajudar no bem-estar na perspectiva de promover uma vida ativa do paciente com qualidade, manter o sentido da existência com significado, manejo de sintomas, promover o desempenho ocupacional e funcional, contribuindo para a continuidade ou construção do projeto de vida e preservação das relações afetivas, sociais e ocupacionais.
Os cuidados paliativos têm uma abordagem centrada na pessoa, que prioriza a qualidade de vida, o controle de sintomas e a integralidade do sujeito, nos aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais. Essa abordagem precisa ser realizada pela perspectiva de quem está sendo cuidado, avaliando as condições que estão provocando sofrimento, limitações no desempenho ocupacional na tentativa de amenizá-lo.
Rosibeth – Considero que a oferta de cuidados paliativos no cenário brasileiro perpassa por diversas dificuldades. Entre elas, a necessidade de implementar as políticas públicas vigentes, número reduzido de serviços, a necessidade de formação qualificada e permanente para os trabalhadores da saúde e a desinformação do que são cuidados paliativos e a que se destinam por parte da população.
Rosibeth – Os cuidados paliativos são destinados para todos os pacientes com doenças que ameacem a continuidade de vida, desde o diagnóstico, tratamento, estendendo-se aos seus familiares e/ou cuidadores, compreendido como unidade de cuidado.
Os cuidados paliativos têm como objetivos primordiais o controle de sintomas, a obtenção de conforto e o alívio dos sofrimentos para o paciente e seus cuidadores através de uma abordagem integral e integrada.
Isso significa dizer que pacientes com doenças que ameacem a continuidade de vida podem receber cuidados de uma equipe composta por vários profissionais, como terapeutas ocupacionais, psicólogos, médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros. Em conjunto, os profissionais trabalham em diversos âmbitos visando a qualidade de vida, controle e manejo de sintomas voltados para uma atenção integral e integrada.
Rosibeth – Destaco algumas experiências significativas na minha trajetória docente na UFPR, como o Grupo de Estudos e Pesquisas de Terapia Ocupacional e Cuidados Paliativos (GETOCP) e a oferta da disciplina optativa de Cuidados Paliativos para a graduação. O grupo de estudos e pesquisas iniciou suas atividades em 2015, integrado por estudantes e professores da área de Terapia Ocupacional em Contextos Hospitalares.
O propósito do grupo é contribuir para a sensibilização da comunidade acadêmica e profissional acerca de temas pertinentes à Terapia Ocupacional e cuidados paliativos, visando a qualificação da formação graduada. O GETOCP-UFPR realizou diversas atividades, como rodas de conversa, encontros tematizados, ciclo de palestras, leitura e discussão de textos e filmes, produção de material informativo, levantamento da produção bibliográfica, visitas técnicas a serviços específicos.
A disciplina de Cuidados Paliativos integra a matriz curricular do curso de Terapia Ocupacional na modalidade de disciplina optativa. A oferta da disciplina privilegia aspectos intrínsecos e extrínsecos na esfera dos cuidados paliativos (Comunicação, trabalho em equipe, dimensões do cuidado) e enfatiza no seu processo de ensino aprendizagem o desenvolvimento de competências essenciais para o exercício do terapeuta ocupacional neste campo.
A atuação do terapeuta ocupacional em cuidados paliativos conta com a regulamentação do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional nº 429, de 2013, que reconhece a especialidade.
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