Com a partida do Papa Francisco para a Casa do Pai, a Igreja entrou em período de luto e transição. O funeral é simples e o Conclave tem simbolismos milenares. A morte do Pontífice, aos 88 anos, em 21 de abril de 2025, encerrou um pontificado marcado por humildade, reformas e uma presença pastoral ativa mesmo diante das limitações físicas dos últimos anos. Ele foi o primeiro papa argentino, primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a ocupar o trono de Pedro e a Igreja presta as suas últimas homenagens, enquanto prepara a escolha de seu sucessor.
A primeira autoridade a agir após a morte do papa é o camerlengo, atualmente o Cardeal Kevin Farrell. Cabe a ele confirmar formalmente o falecimento, quando chama o nome de batismo do pontífice três vezes e declarando em latim: “Vere Papa mortuus est” — “De fato, o Papa está morto”.
Em seguida, o Anel do Pescador, símbolo da autoridade papal, é retirado e destruído. Este gesto simbólico representa o fim oficial do pontificado e impede qualquer uso indevido do selo papal. Além disso, o apartamentos papal do Palácio Apostólico é lacrado com selo na presença do camerlengo. Uma vez que Francisco vivia na Casa Santa Marta, ambos apartamentos foram lacrados.
A partir desse momento, a Igreja entra no período chamado “Sé Vacante”, que significa literalmente “sede vacante” — ou seja, a Cátedra de Pedro está temporariamente desocupada. Durante esse intervalo, o camerlengo assume a administração temporária da Santa Sé, com poderes restritos, apenas para garantir o funcionamento do Vaticano até a eleição do novo papa.
O corpo do Papa Francisco foi inicialmente velado de forma reservada na Sala Clementina, dentro do Palácio Apostólico, onde autoridades vaticanas prestaram suas homenagens. Em seguida, foi transferido para a Basílica de São Pedro, onde milhares de fiéis — mais de 90 mil nas primeiras 24 horas — passaram em silêncio diante do corpo do pontífice.
O fechamento do caixão é privado e ocorre hoje, a partir das 20h (horário de Roma), 15h no Brasil. Preces em latim serão feitas, cânticos e leituras de passagens bíblicas serão entoados, moedas e medalhas cunhadas durante o pontificado serão colocadas no caixão, assim como a ata contendo o selo do Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice. Um véu de seda branca será colocado sobre seu rosto e o corpo do Papa será abençoado com água benta. O caixão de zinco receberá a tampa e será soldado. Sobre ela, estão a cruz, o brasão do papa, a placa com o nome do pontífice e os registros de seu tempo de vida e de pontificado. Em seguida, o caixão de madeira também será fechado. Na tampa, estarão a cruz e o brasão de Francisco. Isso marca o fim do velório na Basílica de São Pedro.
Como previa o desejo de Francisco por um funeral sóbrio e despojado, seu corpo foi colocado sobre uma plataforma simples, sem o tradicional catafalco (uma espécie de plataforma elevada) ornamentado, diante do túmulo do apóstolo Pedro. A cerimônia de despedida será realizada amanhã, 26 de abril, às 10h (horário local), na Praça de São Pedro, presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício. Essa é a Missa das Exéquias (cerimônia para os católicos falecidos).
Diferente dos últimos papas, que foram enterrados nas criptas da Basílica de São Pedro, Papa Francisco expressou em vida o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, uma das quatro basílicas papais de Roma. O local escolhido fica entre as capelas Paulina e Sforza e tem um valor afetivo para o Pontífice: ele costumava visitar a imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani” antes e depois de suas viagens apostólicas.
Sua tumba terá uma lápide de mármore da Ligúria, com a inscrição simples “Franciscus” e uma réplica em prata de sua cruz peitoral.
Tumba do Papa Francisco./Foto: reprodução
Em 2024, o próprio Papa Francisco aprovou uma revisão do rito fúnebre papal, publicada na nova edição do “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”. O documento introduz uma série de mudanças alinhadas com sua visão de uma Igreja menos apegada ao luxo: desaparece o uso de três caixões (madeira, zinco e carvalho), que foram substituídos por um único caixão de madeira simples, e reduzem os adornos e vestes funerárias. Ele sempre fez apelos por uma Igreja que se aproxima dos pobres, sem ostentação, e valoriza o essencial.
A partir do momento em que o corpo de Francisco for sepultado, o foco da Igreja se volta para o Conclave — a assembleia secreta de cardeais que escolherá o próximo sucessor de Pedro. Participam do Conclave apenas os cardeais com menos de 80 anos — atualmente, são cerca de 135 com direito a voto. Eles se reúnem na Capela Sistina, onde realizam até quatro votações por dia. Para ser eleito, o candidato precisa de dois terços dos votos. Caso não haja consenso após diversas rodadas, a tradição prevê dias de jejum e oração entre os cardeais para pedir discernimento.
Durante todo o Conclave, os cardeais permanecem isolados, sem comunicação externa, hospedados na Casa Santa Marta, dentro do Vaticano. O sigilo é absoluto.
O novo papa será anunciado assim que uma das votações alcançar a maioria necessária. A tradicional fumaça branca (fumata bianca) sairá da chaminé da Capela Sistina e um cardeal anunciará ao mundo: “Habemus Papam” — temos um papa.
Quer saber mais detalhes sobre o Conclave? Leia “Quem pode ser Papa?”
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