É pecado fazer cirurgia plástica?

 “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2).

Desejar ter o mesmo corpo dos modelos chamados “perfeitos” e não gostar do que vê no espelho é uma realidade de muitas pessoas no mundo. Ao mesmo tempo, a procura excessiva por esse ideal pode refletir baixa autoestima, problemas de saúde mental e a cobrança por estar nos padrões impostos. 

 Hoje, o Brasil é o líder mundial no número de realizações de cirurgias plásticas. O país registrou mais de 1,5 milhão de procedimentos em 2021.  A procura cresceu nos últimos anos e tem colocado em dúvida se a prática é ou não um pecado.

Paulo Pacheco, teólogo do Aconselhamento Espiritual da Associação Evangelizar É Preciso explica que as cirurgias plásticas há muito tempo fazem parte do desejo das pessoas. Para ele, analisar se é pecado ou não faz com que se caia num reducionismo. 

Conversamos com Paulo Pacheco, teólogo do Aconselhamento Espiritual da Associação Evangelizar para responder se católicos podem fazer cirurgias plásticas

“A questão maior passa pela palavra “motivação”, ou seja, o que motiva a pessoa a querer fazer uma cirurgia plástica? O que está por trás da busca e, diga-se de passagem, em muitos casos frenética, em se fazer a cirurgia?”. 

Temperança e ensinamentos

O teólogo afirma que a Igreja Católica pode analisar a cirurgia plástica por meio do sentido moral do que se deseja com ela. Dessa maneira, a resposta se é pecado ou não está diretamente ligada à temperança. 

“Não devemos esquecer que o corpo que temos é um bem precioso nos dados por Deus e devemos tratá-lo com amor e cuidado”. 

As palavras de Paulo demonstram que, em situações específicas, as pessoas precisam das cirurgias. Assim sendo, a cirurgia é uma necessidade e não um desejo de ter o corpo perfeito (aliado à insatisfação consigo). 

“Mesmo sem partir para um caso tão extremo como a fissura labial, às vezes a pessoa tem uma parte específica de seu corpo que lhe causa transtorno psicológico de depressão. Desde que não lhe cause problemas em sua saúde ou risco a sua vida, pode ser realizado sem culpas”. 

A grande questão é que depois de uma cirurgia, algumas pessoas acabam achando o procedimento normal e fazem outras tantas para reparar “defeitos” em seus corpos. 

Para saber se essa mudança é uma necessidade ou um procedimento apenas ilusório, Paulo dá uma dica. “Que possamos sempre buscar o dom do discernimento para tomar decisões que primeiramente agradem a Deus”. 

Nosso corpo é um templo do Espírito Santo

Quando o assunto é cirurgia plástica, também podemos relacionar o tema com a tatuagem, por exemplo, que muitas pessoas têm dúvidas (e que separamos uma resposta para você). 

“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habi­ta em vós, o qual recebes­tes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?” (I Coríntios, 6).

Essa afirmação ajuda a compreender a importância de cuidar do corpo físico para realizar as obras e ações divinas (e você pode aprender mais sobre o tema neste link). 

Para Paulo, o corpo humano é dádiva de Deus e, por esse motivo, é preciso tratá-lo com zelo e amor.  “Tanto o espírito como a alma e o corpo são tidos como inseparáveis (1 Ts 5.23; Hb 4.12)”.

Ele complementa falando que é por esse motivo que precisamos cuidar do corpo como um todo – não apenas da parte espiritual – e investir em alimentação de qualidade, prática de atividades físicas, evitar excessos, etc. 

“O corpo é uma obra complexa e perfeita de Deus, por isso para que possamos ser verdadeiramente filhos de Deus e instrumentos de Sua Missão Salvífica, é importante cuidar de nosso Corpo e Espírito”. 

Devemos cuidar do nosso corpo e ter equilíbrio

Sendo templo do Espírito Santo, o corpo humano precisa ser cuidado. Por isso, reforça-se a necessidade de cuidar da espiritualidade e também do corpo físico, em uma união integrada. 

“Devemos estar aptos e preparados para cumprir a vontade dEle e para isso é muito importante termos um corpo saudável, que seja motivo de agradecimento e reconhecimento da Graça de Deus ao ser humano”, confirma o teólogo.

A Igreja, portanto, não condena a cirurgia plástica, desde que ela seja feita com temperança e equilíbrio. O Papa Pio XII, em 1958, disse que a moralidade depende das circunstâncias de cada caso.

“As principais condições para que uma cirurgia estética seja considerada justa aos olhos da fé são: que a intenção é correta; que a saúde geral do sujeito está protegida de riscos significativos; que os motivos são razoáveis ​​e proporcionais aos ‘meios extraordinários’ utilizados”.