“E se Deus não curar minha doença ou a de um familiar?”

Ter uma doença grave ou acompanhar um familiar que passa por isso é uma das situações mais difíceis para a vida de muita gente. Para muitas, a confiança em Deus é o grande ou único amparo nesses momentos. Mas e quando, mesmo pedindo com fé, a cura não acontece, o que a Bíblia tem a nos dizer?

Na Sagrada Escritura, encontramos muitos exemplos de pessoas que enfrentaram o desalento do sentimento de não serem ouvidas em suas orações. É o que compartilha Irmã Maria Eugênia, que também é enfermeira e vive a rotina de um hospital, com todos os seus desafios. Ela traz o exemplo de Jó, que foi um homem provado em sua fé, a ponto de perder todos os seus bens e até os filhos. “Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim” (Jó 30, 20). A Irmã continua: “Jó, diante da dor dilacerante, não perdeu a sua fé, e mesmo sofrendo encontrou forças para fazer a entrega orante”. Como está na Bíblia: “O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” ( Jó 1, 21).

No Evangelho de São Mateus (26, 39), vemos que Jesus prostrou Seu rosto por Terra e orou dizendo: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice; porém, não seja como eu quero, mas como tu queres”. No momento da crucificação, gritou em voz forte: “Meu Deus, por que me abandonastes?”. Irmã Maria Eugênia comenta que, em uma primeira observação, parece um exemplo de oração não atendida. “Como é difícil suportarmos o silêncio de Deus quando recorremos a Ele em nossas orações!”, comenta.

Ela explica, porém, que quando nossas orações não são atendidas, não devemos nos culpar, ou achar que não estamos tendo fé suficiente para mover o coração de Deus. É preciso crer que há um propósito oculto, algo muito maior.

“Não podemos tentar querer entender racionalmente aquilo que é um mistério insondável. Muitas pessoas, depois de terem rezado, orado, suplicado pela graça da cura, para si, para alguém de sua família ou para algum amigo, e não foram atendidas, ou melhor, não receberam a graça como haviam pedido a Deus, podem cair em sofrimento psíquico, espiritual, muito profundo”, alerta.

Irmã Maria Eugênia conta que tanto na missão quanto na rotina no hospital se depara, diariamente, com situações dolorosas, que envolvem o tema de “pedir e não ser ouvido”. E como agir nessas situações?

“Sem margem de dúvidas, a primeira atitude é a presença na forma de um silêncio e uma escuta qualificada, que podemos chamar de acolhimento. O sofrimento sempre gera em nós a pergunta ‘por quê’ ou ‘por que não’. Nessas horas, quando tudo parece desmoronar, muitos se rebelam, ou até abandonam a fé, porque suas orações não foram atendidas pelo Senhor. É errôneo querer tentar consolar, dizer palavras ou frases como ‘se conforme’, ‘ele estava sofrendo’, ‘ele descansou’, “Deus quis assim’. Nessa hora, não cabem as palavras, por mais sábias que sejam, mas a interiorização, o silêncio, um abraço ou um aperto de mão podem e têm o poder de consolar”, direciona a religiosa.

Nessas horas, inspire-se em Jesus

Para quem está enfrentando essa dolorosa sensação de abandono, tristeza e até culpa, por achar que não rezou com fé suficiente para tocar o coração de Deus, Irmã Maria Eugênia recomenda pensar na própria vida de Jesus em meio à humanidade, que também experimentou esse sentimento, mas em seguida fez a Sua entrega.

“Na angústia, na hora da dor, perdemos a força para rezar. Nesse momento, façamos a oração da Paixão de Cristo: ‘Pai, se possível afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a Sua vontade’”, recomenda a Irmã.

Tenha presente Maria, a Mãe das Dores, que acompanhou seu Filho no caminho do calvário, e certamente suplicou ao Pai em favor de Jesus. Diante do mistério da morte, a Santa oferece um exemplo: “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” ( Lc 2, 16-21).