A cena é comum em muitos lares. Casa enfeitada para o Natal, a árvore montada, o presépio armado… e, em algum ou alguns cantos, há o Papai Noel de roupa vermelha e barba branca. Aí vem a pergunta: será que isso combina com a fé ou é pecado?
Entender a questão pede reflexão. A resposta da Igreja passa menos por uma lista de proibições e mais por um convite ao discernimento. O Natal tem um centro, e esse centro é Jesus. A partir dessa compreensão, tudo o mais precisa ser colocado no lugar certo.
Para começar, é importante esclarecer que não existe um documento oficial que diga que é pecado decorar a casa com Papai Noel. A Igreja não definiu esse personagem como algo obrigatoriamente mau ou proibido.
O que a Igreja faz, porém, é insistir sempre no essencial: Natal é a celebração do nascimento de Cristo e uma das datas mais importantes do calendário litúrgico. A liturgia, o presépio, a oração em família, a caridade com os mais pobres, a reconciliação… tudo isso expressa, de forma direta, o verdadeiro sentido da festa.
Já as decorações, como árvore, luzes, enfeites e até o Papai Noel, pertencem ao campo da cultura e dos costumes. A pergunta não é tanto “pode ou não pode?”, mas “isso me ajuda ou me afasta de celebrar Jesus?”.
Um ponto bonito que quase ninguém conta é que, no começo, Papai Noel não era um personagem de fantasia, mas estava bem ligado à vida de um santo da Igreja.
Na sua forma original, a figura do Papai Noel foi inspirada em São Nicolau, um bispo que viveu na região da atual Turquia por volta do ano 280 d.C. Ele era conhecido pela generosidade e pelo cuidado com os pobres. Uma das histórias mais lembradas fala de um pai muito pobre, com três filhas em idade de casar, que não tinha dinheiro para o dote. Na sociedade daquela época, isso podia levar à humilhação.
Movido pela caridade, Nicolau preparou três saquinhos de ouro. À noite, para não se mostrar, entrou discretamente na casa e deixou o primeiro na janela do quarto de uma das filhas. Em outra noite, fez o mesmo com a segunda. Já a terceira dormia na sala, perto da chaminé, e o santo teria jogado o saquinho de ouro por ali.
Esse gesto fez nascer a tradição do benfeitor que deixa presentes sem ser visto e liga o tempo do Natal à generosidade e à preocupação com os mais fracos.
Com o tempo, sobretudo na Europa, a imagem de São Nicolau associada ao Natal foi se transformando, misturando-se a tradições populares e, mais recentemente, à força da publicidade. Assim surgiu o personagem de roupa vermelha, trenó e renas, que ganhou o mundo sob o nome de Papai Noel.
Ou seja, as raízes dessa presença, segundo a tradição, são cristãs, ligadas a um bispo que usou seus bens para dar às pessoas um futuro mais digno. O problema não está na origem, mas no que se fez da imagem ao longo do tempo.
O simples fato de ter um Papai Noel na decoração de casa não é, por si só, pecado. O que a moral cristã sempre avalia é a intenção do coração e o efeito que aquele gesto tem na fé da pessoa e da família.
Se imagem do Papai Noel se torna o “dono” ou o principal do Natal, ocupando o lugar que é de Jesus, aí sim há algo a ser revisto. Não porque o boneco em si seja “maligno”, mas porque o coração pode estar se desviando do essencial.
Por outro lado, se a família tem o presépio como centro, reza, participa da Santa Missa, ensina às crianças quem é Jesus e, ao mesmo tempo, usa Papai Noel como um símbolo cultural ligado à generosidade, não há motivo para falar em pecado. Há, sim, um convite a equilibrar e a educar.
Com as crianças, o cuidado precisa ser ainda maior. Em muitos lares, Papai Noel é a figura que “chega antes de Jesus”, que leva toda a atenção, os pedidos e a expectativa. Aos poucos, o presépio vira enfeite de fundo, e o Menino Deus desaparece da conversa.
Uma forma saudável de lidar com isso é resgatar São Nicolau. Contar a história do bispo bondoso que usava o que tinha para ajudar as pessoas, explicar que o Papai Noel “nasceu” dessa memória de generosidade e mostrar que o maior presente do Natal é a vinda de Jesus.
Quem busca viver assim, com coração sincero, não precisa ficar preso ao medo de “estar em pecado por causa de um enfeite”, mas atento para não deixar o mundo empurrar um Natal sem Cristo.
Para continuar essa reflexão em família, vale muito a pena assistir ao conteúdo do padre Reginaldo Manzotti, que resgata justamente as raízes cristãs dessa história. Ele conta que “Papai Noel tem raízes na Igreja”.
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