Dezembro chega e já começamos a entrar no clima do final de ano: organizamos o encerramento de deveres e projetos profissionais, combinamos confraternização com família e amigos, nos preparamos para o Natal e réveillon e tentamos encerrar tudo que é possível para ingressar no novo ano com a sensação de recomeço, renovação, com um novo gás.
Esse ritual social que praticamos tradicionalmente nos finais de ano também constrói a atmosfera de avaliação, de reflexão e observação a tudo que vivemos e enfrentamos no ano que está prestes a se encerrar. E, assim como no início de todo ano há muita esperança e expectativa nos desejos e metas colocados para aquele período que ainda é uma página em branco, ao final há, por vezes, cobrança, frustração e dores a serem enfrentadas. E é nesse momento que devemos ficar atentos à nossa saúde mental.
Conforme o terapeuta e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Jefferson Soares da Silva, uma dica que pode facilitar esse processo é sempre lembrar que com a proximidade do fim, devido a uma perspectiva de possíveis férias e desaceleramento, nosso cérebro compreende que agora é permitido sentir-se cansado, e mesmo, adoecer.
Tudo isso é intensificado pelos compromissos e pela agitação da rotina, que por vezes reduz, por exemplo, nosso tempo de descanso e a qualidade do nosso sono. Soma-se a isso nossa dificuldade em lidar com erros e frustrações, incompreendendo a distância entre o real e o irreal. Mudar nossa perspectiva de avaliação pode fazer toda a diferença.
“Ao rever nosso ano, seria interessante ter clareza que, se erramos, o erro é pedagógico e importante ferramenta para agora traças novas rotas, distantes da idealização e próximas do real, uma possibilidade para nosso desenvolvimento humano, psicológico e espiritual. A clareza que não temos controle de tudo, pode ser libertadora, pois assim conseguiremos nos concentrar, nesse novo ano, naquilo que de fato está ao nosso alcance e a nós é cabido”, sugeriu o terapeuta.
Para quem viveu e ainda vive o luto, como construir um olhar otimista em meio a dor? Quem passou pela perda de um familiar ou ente querido no ano que se encerra, o peso da retrospectiva é, também, carregado de dor, saudade e, às vezes, até culpa e arrependimento. Neste caso, Jefferson propõe um exercício para ajudar a criar uma nova compreensão.
“Se acaso esse ente querido que fez sua passagem pudesse voltar e ficar conosco por mais um ano, quando ele partisse, novamente pensaríamos: ‘eu poderia ter feito isso, aquilo, etc.’ Ou seja, jamais daremos conta de cumprir com as expectativas nossas e dos outros, mas antes poderíamos recordar aquilo que fizemos, mesmo que aparentemente pequeno, pode ter permitido que a pessoa querida respirasse ar puro por alguns instantes”, sugeriu.
E assim como mudar a perspectiva para avaliar o ano que se encerra é importante para tornar esse período mais leve, aprender a lidar com a ânsia pelas novidades e planos do ano seguinte, também é necessário. Segundo o terapeuta, um sinônimo dessa ansiedade que tanto falamos – sobretudo nessa época – é a vontade de futuro. E, nesse processo, é preciso atenção ao cuidado de não buscarmos ultrapassar os limites do que está ao nosso controle, quase que, como se buscássemos “ocupar o lugar de Deus”, aconselha Jefferson.
“Compreender nossos limites, aceitá-los e atuar de forma real e não idealizada sobre os mesmos, pode nos permitir experimentar a vida em abundância. No que tange às novidades, devemos sim nos preparar minimamente, mas, reitero, devem ser vivenciadas com os pés no chão, para que assim, antes, lidemos com a realidade”.
Nessa fase, é muito valioso fortalecer a espiritualidade e buscar ambientes saudáveis que nos conectam com nossa essência e com Deus. Outra dica muito bem pontuada pelo terapeuta Jefferson para esse período é ter consciência que a tecnologia trouxe muita celeridade em nosso modo de viver e trabalhar, de forma que já nem sempre damos conta. Por isso, nesse momento de passagem de ciclo, quando nossas emoções ficam afloradas, uma sugestão é desligar-se.
“Para lidar com tudo isso, um bom caminho seria a desconexão com as mídias sociais com objetivo de buscarmos uma conexão mais límpida com nosso viver e nosso ser, de forma paulatina e não ansiosa, enquanto um processo de reeducação alimentar (não dieta), objetivando alterar nossos hábitos e permitindo comungar da vida que pulsa em nós e em nosso entorno. Somente essa vivência tem refletido na redução de sintomas de ansiedade, medo e depressão, ao diminuir a intensidade das comparações e idealizações gritadas do alto dos telhados pelas mídias mais populares”, finalizou.
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