Nos últimos meses, casos de gripe aviária têm sido registrados no Brasil. O vírus causador da doença, usualmente diagnosticada em aves migratórias do Hemisfério Norte, sofre mutações frequentes em seu DNA, o que permitiu chegar ao Hemisfério Sul.
As contaminações preocupam quanto à possível propagação da doença em criadouros de aves de corte. Se ocorrer o contágio, o Brasil pode sofrer impacto econômico significativo, já que lidera a exportação mundial de carne de frango, uma vez que é responsável por cerca de 35% desse mercado, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Caroline Reichen, médica veterinária e servidora da direção do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná, explica mais sobre a “gripe aviária” e tira as principais dúvidas sobre o tema, como a transmissão, possíveis consequências, formas de se proteger e como está o cenário da doença no Brasil.
A gripe aviária é uma doença causada pelo vírus Influenza A, que infecta aves e, raramente, humanos. Nesses animais, pode causar sintomas nervosos, como cabeça e pescoço tortos, diarreia e bater de asas frenético. Como explica a médica veterinária, em humanos, causa sintomas comuns de gripe.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2003 a abril de 2023, apenas 874 pessoas foram infectadas com H5N1 no mundo e metade delas (458) morreu.
O vírus é contraído, principalmente, pelo contato aerossol (transmitido por partículas respiratórias) com aves doentes, mas também pode ocorrer entre pessoas infectadas. Outra forma de transmissão é por meio de suínos, que atuam como hospedeiros intermediários no ciclo dessa doença.
Recomenda-se evitar o contato com aves silvestres e aves mortas ou visivelmente infectadas. No Paraná, o controle da transmissão é feito pela Agência de Defesa da Agropecuária do Paraná (Adapar), a partir de inspeções nos criadouros para que não haja contato com aves silvestres, possivelmente infectadas.
Nacionalmente, a Instrução Normativa nº 56 estabelece a fiscalização e controle de estabelecimentos de criação avícola. Alguns dos protocolos indicados para que não haja contaminação das aves é o uso de telas anti-aves e anti-moscas, além de todos os cuidados de biossegurança para não haver contato das aves nos balcões com o mundo exterior. Por fim, o Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (Mapa) recomenda que não exista criação de aves livres no país sem telas na parte superior, inclusive em criações caseiras e de subsistência.
A maior preocupação econômica neste momento é a infecção de aves comerciais, como o frango de corte. Se ocorrer um diagnóstico de foco do vírus, todas as aves e suínos no raio de alguns quilômetros deverão ser abatidos e aterrados.
Além de afetar o mercado de exportação de carne avícola, a contaminação das aves de corte – e consequente necessidade de sacrificá-las – tende a comprometer a segurança alimentar, visto que a produção brasileira de frango de corte alimenta mais de 186 milhões de pessoas no mundo, de acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), e se trata de um dos tipos de proteína animal mais acessíveis.
O primeiro caso de Influenza Aviária foi registrado no Brasil no dia 15 de maio deste ano. Desde então, o governo federal aprovou a criação de um centro de emergência para o controle da gripe. Atualmente, o Mapa reconhece 57 focos da doença. Cada foco corresponde a um local onde foi confirmado pelo menos um caso.
Segundo a Adapar, no dia 24 de junho de 2023, foi identificado o primeiro caso do vírus de alta patogenicidade (sintomático na maior parte dos infectados e alta mortalidade) em aves silvestres no Paraná. De acordo com a Secretaria da Saúde do estado, as pessoas que tiveram contato com as aves infectadas, assim como com pessoas próximas, estão sendo monitoradas.
Apenas três dias depois, foi registrado no Espírito Santo o primeiro caso de contaminação em um animal de criação. O vírus atingiu um pato em uma propriedade que cria aves para subsistência.
A infecção pelo vírus da gripe aviária não altera o status sanitário do Brasil como livre de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). Assim, não há impacto no comércio internacional de produtos avícolas. Também não há risco no consumo de carne e ovos, pois a doença não é transmitida por ingestão.
> Saiba mais sobre ciência e os laboratórios da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que atuam na área de pesquisa e produção de aves.
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