“Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6,21).
Enquanto o nono mandamento nos fala da cobiça da carne, o décimo trata da cobiça dos bens dos outros: “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence” (Ex 20,17).
O décimo mandamento nos alerta para aquilo que é a raiz do roubo, da corrupção, da fraude: a concupiscência da carne. A palavra “concupiscência” é colocada no sentido do desejo de possuir. É a pessoa olhar para uma coisa e ter o sentimento de posse: “eu quero, e a qualquer custo”.
Este mandamento toca num ponto chamado avidez; um desejo de uma apropriação desmedida dos bens terrenos, de querer tudo pra si mesmo. É a cobiça desordenada, é a inveja, é o capitalismo. Quanto mais se tem, mais se quer.
No Catecismo da Igreja Católica (CIC) consta: “o apetite sensível nos faz desejar as coisas agradáveis que não temos. Por exemplo, desejar comer quando temos fome, ou aquecer-nos quando estamos com frio. Esses desejos são bons em si mesmos, mas muitas vezes não respeitam a medida da razão e nos levam a cobiçar injustamente o que não nos cabe e pertence, ou é devido à outra pessoa” (CIC 2535).
Ou seja, desejar obter as coisas não é o problema, contanto que seja por meios adequados. É errado quando pretendemos adquirir algo e usamos de má fé ou lesamos alguém para atingir esse objetivo. A apropriação, seja ela de qualquer espécie, só é digna se feita de forma lícita.
“Não cobiçar as coisas alheias” é o mesmo que banir a inveja do coração humano. “A inveja pode levar às piores ações. Foi pela inveja do demônio que a morte entrou no mundo” (CIC 2538).
Santo Agostinho via na inveja um pecado diabólico. Da inveja nasce o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo.
O desejo de sempre querer ter mais leva a uma infelicidade sem limites, a um vazio interior, a uma cobiça desmedida. É uma ambição desregrada que nasce da paixão imoderada das riquezas e do seu poder.
Nunca podemos esquecer: “Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos de vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós. Deus será louvado, dirão, porque seu servo soube vencer a inveja, colocando sua alegria nos méritos dos outros” (CIC 2540).
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