Um tratamento inovador no Brasil tem trazido esperança para pacientes com câncer de mama em estágio inicial. A crioablação, técnica minimamente invasiva que congela e destrói as células tumorais, foi realizada pela primeira vez em um hospital público pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vinculada ao Ministério da Educação.
O procedimento, feito na Unidade Diagnóstica do Ambulatório de Mastologia do Hospital São Paulo (HC/Unidesp) consiste na aplicação de nitrogênio líquido a cerca de -140ºC diretamente no tumor por meio de uma agulha.
“Inserimos o nitrogênio líquido na região afetada, o que forma uma esfera de gelo, destruindo o tumor. A incisão deixada é igual ou até menor à própria biópsia realizada pela paciente”, explicou o professor Afonso Nazário, da Unifesp.
Além de indolor, a técnica pode ser realizada em ambiente ambulatorial, com anestesia local e sem necessidade de internação hospitalar. Estados Unidos, Japão, Itália e Israel, por exemplo, já utilizam o procedimento também em casos de tumores de fígado, rins, próstata e até em arritmias cardíacas.
A crioablação tem sido estudada em um protocolo pioneiro na América Latina. A pesquisa, liderada pela professora Vanessa Monteiro Sanvido, mostrou que em tumores menores que 2 cm o índice de eficácia foi de 100% na fase inicial dos estudos. Agora, mais de 700 pacientes serão acompanhadas em 15 centros de saúde do estado de São Paulo para comparar os resultados da crioablação com os da cirurgia tradicional.
“Os resultados sugerem alta eficácia da crioablação no combate a tumores pequenos, com pouca chance de recorrência”, afirma Sanvido, que também é vice-chefe da Mastologia da Unifesp.
Em outro estudo multicêntrico, que envolveu a Unifesp, o Hospital Israelita Albert Einstein e o HCor, a taxa de ablação completa, ou seja, da destruição do tumor, foi de 88% entre 34 pacientes com tumores de até 1,9 cm. Para tumores menores que 1 cm, o sucesso foi total.
Segundo especialistas, a crioablação apresenta vantagens importantes:
Para a professora Vanessa Sanvido, o impacto pode ir além do resultado clínico.
“O procedimento representa uma redução de custos associados ao tratamento e oferece às pacientes mais conforto e segurança, evitando complicações ligadas à hospitalização e à anestesia geral”, destaca.
Dra. Vanessa Sanvido, vice-chefe da Mastologia da Unifesp./Foto: reprodução @dravanessasanvido
Apesar dos avanços, a técnica ainda enfrenta limitações. O oncologista Daniel Tabak, membro da Academia Nacional de Medicina, lembra que os melhores resultados são obtidos em tumores pequenos, de até 1,5 cm. Em tumores maiores, há risco de não eliminar todas as células, o que pode gerar recidiva local.
“Ainda não temos estudos de longo prazo que mostrem a eficácia da crioablação em tumores volumosos. Nesses casos, a cirurgia e a radioterapia continuam sendo as mais indicadas”, explica.
Outro ponto é o custo dos materiais. As agulhas usadas no procedimento têm valor elevado, mas os pesquisadores acreditam que, com a ampliação do uso, o preço deve se tornar mais acessível. A expectativa é de que, futuramente, a técnica possa ser incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), desafogando as filas de cirurgias oncológicas em até 30%.
Além do câncer de mama, a crioablação já vem sendo estudada e aplicada em outros tipos de tumores, como renais, hepáticos, pulmonares, de próstata e até de pele. Para o professor Daniel Tabak, trata-se de uma técnica em evolução que pode transformar a forma como alguns tipos de câncer são tratados.
“É uma opção segura e eficaz para determinados perfis de pacientes, especialmente quando a cirurgia não é viável. Embora ainda haja limitações, o potencial da crioablação é inegável”, conclui.
Outubro Rosa: 7 coisas para saber sobre o câncer de mama
No Outubro Rosa, veja a relação entre exercícios físicos e câncer de mama
Outubro Rosa: alimentação pode reduzir o risco de câncer de mama
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.