Os riscos da “positividade tóxica” para a saúde mental

Os riscos da “positividade tóxica” para a saúde mental

Frases como “pense positivo”, “good vibes only” (apenas boas energias) ou o conselho sobre “ver sempre o lado bom” são comuns em redes sociais, ambientes de trabalho ou rodas de familiares e amigos. A mensagem parece inofensiva, mas psicólogos e psiquiatras alertam que esse tipo de imposição pode trazer efeitos contrários ao bem-estar e gerar a chamada “positividade tóxica”. Trata-se da tentativa de reprimir emoções difíceis, exaltar apenas as positivas e negar a complexidade da vida humana.

Segundo a psicóloga britânica Sally Baker, em entrevista à BBC, “negar constantemente tudo o que é ‘negativo’ que sentimos em situações difíceis é exaustivo e não nos permite construir resiliência”. Nesse mesmo material, publicado ainda em 2020, o psicólogo Antonio Rodellar, especialista em transtornos de ansiedade, explica que emoções como tristeza, raiva ou frustração não são defeitos, mas sinais importantes sobre nossa realidade.

Qual a diferença entre psicologia positiva e positividade tóxica?

A confusão entre psicologia positiva e positividade tóxica é comum. A primeira, desenvolvida por Martin Seligman nos anos 1990, estuda cientificamente fatores que contribuem para o bem-estar, como gratidão e otimismo. Já a positividade tóxica é o uso distorcido dessa ideia, que leva ao extremo a exigência de felicidade constante.

Focar nos aspectos positivos pode ser terapêutico, mas de maneira extremista é algo que não condiz com a realidade. Ou seja: negar a dor não cura; ao contrário, fragiliza.

Bloquear emoções difíceis tem consequências concretas. De acordo com o Instituto de Psiquiatria do Paraná, a positividade tóxica está ligada à invalidação emocional, que acontece quando os sentimentos de alguém são minimizados ou ignorados. O resultado é acumular emoções até que elas explodam de forma mais intensa e prejudicial.

Além disso, emoções reprimidas podem ser somatizadas no corpo, ainda de acordo com a psicóloga Sally Baker, e aparecer em doenças de pele, distúrbios gastrointestinais ou até síndromes como a do intestino irritável.

Redes sociais e cobrança por produtividade

As redes sociais são ambientes onde, muitas vezes, só se mostra uma vida feliz e perfeita. Esse padrão pressiona a criar uma falsa obrigação de produtividade e resiliência o tempo todo. O Instituto de Psiquiatria lembrou que, em momentos de crise, como a pandemia, a positividade tóxica se tornou ainda mais evidente, pois enquanto muitos sofriam com perdas e incertezas, havia quem cobrasse novas habilidades, produtividade e otimismo forçado.

A visão de uma pesquisadora sobre felicidade

A pesquisadora Renata Rivetti, especialista em estudos da felicidade, também chama atenção para esse fenômeno. Em entrevista ao UOL, ela afirmou que sua própria busca pessoal pela felicidade a levou a estudar o tema e identificar riscos de uma visão distorcida. Também comentou como muita gente hoje está exausta por tentar performar felicidade o tempo todo em uma espécie de checklist de hábitos.

Ela lançou recentemente o livro “O Poder do Bem-Estar: um Guia Para Redesenhar o Futuro do Trabalho” (Companhia das Letras), no qual discute como ambientes profissionais também são afetados pela pressão de sempre parecer positivo.

Especialistas apontam que o caminho não é rejeitar a positividade, mas “validar todas as emoções”. Isso significa reconhecer que nem sempre estamos bem e fazer disso algo natural. Afinal, estar triste, ansioso ou frustrado faz parte da vida humana.

 

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